Título: Ataques levam a queda de 63% do comércio
Autor: Cunto , Raphael Di
Fonte: Valor Econômico, 25/02/2013, Política, p. A9

Os mais de 100 atentados a ônibus, carros e unidades da polícia ocorridos desde 30 de janeiro em Santa Catarina diminuíram as vendas do comércio e aumentaram os custos da indústria com transporte de seus funcionários, mas não tiveram impacto significativo no turismo para o Estado, afirmam empresários e representantes de associações ouvidas pelo Valor.

A principal causa dos prejuízos não foram propriamente os atentados, dizem, mas a falta de transporte público. Diante dos ataques a ônibus, o sindicato dos motoristas e cobradores de Florianópolis ameaçou entrar em greve alegando falta de segurança. Mesmo escoltados por carros da Polícia Militar à noite, exigiram mudanças nos trajetos, redução no número de linhas e restrições ao horário de circulação dos ônibus.

"Afetou pouco o movimento, mas muitos estabelecimentos tiveram que fechar mais cedo - e perder faturamento - ou então gastar mais com transporte alternativo para os funcionários", afirma Fabio Queiroz, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes de Santa Catarina. A saída foi contratar vans ou taxis, no caso dos estabelecimentos comerciais maiores, ou até o próprio dono dar carona para os funcionários, em empresas de menor porte.

Segundo Queiroz, as lojas da região central de Florianópolis, que costumam estender o funcionamento até 21h ou 22h, tiveram que fechar antes das 19h, horário em que os ônibus passaram a operar em número reduzido. A operação só normalizou-se quinta-feira, quando a ação do governo reduziu os ataques.

Estudo da Federação do Comércio de Santa Catarina (Fecomércio) aponta redução de 63% no faturamento do comércio em Florianópolis - única região que teve os ônibus circulando com restrições - na semana antes do Carnaval. No Estado, a queda média foi de 39%.

Na indústria, o impacto foi bem menor - principalmente porque a maioria das fábricas fica no interior, onde não houve diminuição no número de ônibus. Contudo, o superintendente do SESI/SC, Hermes Tomedi, que administra uma rede de farmácias no Estado, pondera que a crise de segurança não afetou as empresas diretamente, mas trouxe prejuízos para a equipe. "A pessoa que trabalha com medo não produz direito, e isso estava ocorrendo no turno da noite", afirma.

A onda de violência também trouxe dificuldades para os projetos assistenciais. Diretora da organização não governamental Instituto da Terra, Zuleica Nunes da Silva diz que encontra dificuldades para conseguir novos pedidos - ela atua há 15 anos no presídio de Florianópolis com um projeto de ressocialização de detentos, que usam materiais recicláveis para produzir pastas, canetas, blocos de anotação e brindes para empresas.

"Já havia restrições porque existe preconceito de ligar a marca à ajuda de presidiários, e agora, com essa crise, ficou muito mais difícil. Mas deveria ser justamente o contrário: ao auxiliar um detento, a empresa dá a ele uma chance de sair do mundo do crime e colabora para que crises como essa não voltem a ocorrer", afirma Zuleica.

Por sua vez, o turismo, um dos chamarizes do Estado, cresceu mesmo com os ataques, dizem empresários do setor hoteleiro, que afirmam ter registrado nesta temporada ocupação maior do que em 2012. "Ficou claro que esses atentados não eram contra a população, então não criou pânico", opina o presidente da Federação de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Santa Catarina, Estanislau Bresolin.

Entretanto, o deputado estadual Maurício Eskudlark (PSD), ex-diretor-geral da Polícia Civil de Santa Catarina e aliado do governador Raimundo Colombo (PSD), acredita que uma nova crise de segurança pode abalar a imagem do Estado. "Santa Catarina foi seis anos consecutivos o destino favorito dos turistas brasileiros, e sabemos que um dos motivos foi o baixo índice de criminalidade", pontua..

Com a ação do governo estadual, que prendeu 150 pessoas supostamente ligadas à facção criminosa que ordenou os ataques e a transferência de outras 40 para presídios federais, os atentados não voltaram a ocorrer desde o dia 21. Os criminosos teriam determinado a suspensão dos ataques, segundo informações dos serviços de inteligência do Estado repassadas ao juiz corregedor do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, Alexandre Takashima, e antecipadas pelo Valor Pro, serviço de tempo real do Valor, na sexta-feira.