Título: Redução na tarifa de energia vai provocar desaceleração no IPCA-15, dizem analistas
Autor: Martins, Arícia
Fonte: Valor Econômico, 22/02/2013, Brasil, p. A3

A prévia da inflação oficial de fevereiro será pressionada por comportamento ainda desfavorável dos alimentos, reajustes de mensalidades escolares e pelo aumento da gasolina nas refinarias, segundo economistas. A redução de 18% na tarifa de energia residencial, no entanto, será suficiente para que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) mostre desaceleração em relação à forte alta de 0,88% apurada em janeiro, maior patamar para o primeiro mês do ano desde 2003.

Analistas calculam que o corte nas contas de luz, em vigor desde o dia 24 de janeiro, deve aliviar o indicador em cerca de 0,4 ponto percentual, o que levará o IPCA-15 a ceder para 0,62%, segundo a média de 11 consultorias e instituições financeiras consultadas pelo Valor Data. As projeções para o índice, a ser divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), variam de 0,60% a 0,66%.

Sem a deflação estimada de 12,6% no item energia elétrica, o IPCA-15 de fevereiro subiria 1%, calcula Priscila Godoy, da Rosenberg & Associados. Com a ajuda da MP 579, contudo, a analista prevê que o IPCA-15 vai recuar para 0,64%, influenciado por retração de 2,25% no grupo habitação, depois de avanço de 0,74% na leitura do mês anterior. "A queda de energia dará uma falsa ideia de alívio inflacionário", afirma ela.

Isto porque fevereiro costuma ser um mês de inflação elevada, devido à sazonalidade ruim dos alimentos e de preços maiores de cursos regulares, computados no mês seguinte à correção das mensalidades, segundo a metodologia do IBGE. A Rosenberg estima que o grupo educação saltará de 0,33% para 5,1% entre o IPCA-15 do mês passado e o de fevereiro, o que adicionará 0,23 ponto ao índice nas contas de Priscila.

O maior impacto individual positivo no IPCA-15, porém, deve vir do aumento de 6,6% da gasolina aos distribuidores, diz o economista-chefe da BB-DTVM, Marcelo Arnosti, que projeta alta de 0,66% para a prévia da inflação em fevereiro. O reajuste, segundo ele, chegará mais fraco às bombas, em torno de 3,5%, mas deve puxar a reboque os preços do etanol. Os combustíveis, junto à recomposição de preços de veículos depois do fim do desconto total no IPI, pressionarão os transportes, que subirão ao redor de 1% no IPC-15 em seus cálculos. Na leitura de janeiro, esse grupo marcou avanço de 0,68%.

Principais vetores de aceleração do IPCA de janeiro, quando aumentaram 1,99%, os alimentos devem mostrar descompressão em relação ao indicador do mês fechado, segundo os economistas ouvidos. A expectativa em relação ao IPCA-15 do mês passado, no entanto, é de relativa estabilidade. Andrea Bastos, do Bradesco, calcula que o grupo alimentação e bebidas passará de 1,45% para 1,46% entre a prévia anterior e a atual. A projeção do banco para o IPCA-15 de fevereiro é de alta de 0,61%.

"A parte in natura ainda está bem pesada e alguns itens industrializados também", nota Andrea. Indicadores semanais apontaram perda de fôlego dos alimentos, mas eles ainda permanecem em nível desconfortável. No Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S), calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), essa parte da inflação desacelerou de 2,20% para 1,86%. Já o IPC da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe), que mede a variação de preços da cidade de São Paulo, mostrou que o grupo alimentação cedeu de 1,53% para 1,02%.

A economista do Bradesco espera que os alimentos in natura revertam a trajetória de ascensão observada nos últimos indicadores de preços nos próximos meses, mas, para fevereiro, a perspectiva é apenas de altas menores. Priscila, da Rosenberg, tem cenário semelhante. Em suas projeções, o grupo alimentação registrará taxa de 1,65% no IPCA-15 deste mês. "Os alimentos vão desacelerar, refletindo o movimento observado no atacado, mas a maior parte desse recuo não será visto no IPCA-15 por questões de coleta", explica.