Título: Título da Bovespa tem valorização de 482% e já é negociado a R$ 6,4 mi
Autor: Valenti, Graziella
Fonte: Valor Econômico, 07/05/2007, Finanças, p. C2

O valor de mercado da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) foi multiplicado por seis no último ano. A praça paulista vale, neste momento, R$ 4,8 bilhões. Em meados do ano passado, estava avaliada em menos de R$ 840 milhões. Nada mal para uma instituição que ainda nem abriu capital.

Antes que haja uma multiplicação das dúvidas do leitor, cabe esclarecer que os papéis da bolsa paulista são negociados esporadicamente num mercado secundário quase desconhecido pelas pessoas que não vivem o dia-a-dia financeiro. Trata-se dos leilões especiais de títulos patrimoniais, realizados pelas corretoras proprietárias dos papéis. A disputa ocorre na própria Bovespa.

A freqüência dos leilões aumentou substancialmente desde o anúncio, em maio de 2006, do início do processo de desmutualização. A medida significa transformar a Bovespa, uma instituição sem fins lucrativos formada pelas corretoras, numa sociedade de capital fechado. A novidade agitou as corretoras e seus donos, detentores dos títulos. São esses papéis que conferem o direito de operar na praça paulista. De julho a abril, houve dez leilões, nos quais foram negociados 44 títulos patrimoniais. No primeiro, os papéis foram ofertados ao preço mínimo de R$ 1,1 milhão cada. No mais recente, em abril, um título foi vendido a quase R$ 6,4 milhões - uma valorização de nada menos do que 482%.

O volume total movimentado alcançou R$ 155 milhões. Parece pouco, mas é bastante quando se sabe que em 2004 e 2005 não houve leilão. A venda acontece por decisão do detentor do papel, que entende ser esse um bom momento para transformá-lo em dinheiro. "Em geral, são pessoas do meio", admite Manuel Lois, diretor de novos negócios da Spinelli Corretora, uma das mais assíduas participantes dos leilões.

Tamanha valorização deve-se à expectativa da abertura de capital da Bovespa, com oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) como passo seguinte à desmutuzalição. Para tanto, os títulos deverão ser convertidos em ações. Todos esses passos dependem ainda de passar pelo crivo do Conselho Monetário Nacional, do Banco Central e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

O diretor executivo da Associação Nacional das Corretoras de Valores (Ancor), Gilberto Biojone, afirma que o novo patamar de preço é reflexo do apetite pelos papéis, que aumentou com a aposta no IPO. Até bem pouco tempo, somente o interesse no negócio de corretagem movimentava o precário mercado secundário dos títulos. Eles quase não ofereciam liquidez e eram vistos como ativo imobilizado. A única função era a licença para operação e os terminais do Mega Bolsa, sistema para negociação de ações - cada título dá direito a dois acessos.

Agora, esses papéis abrem perspectiva de capitalização para as corretoras e seus donos. "Tornou-se investimento mesmo", diz Biojone. Desde agosto de 2006, o Goldman Sachs trabalha no desenvolvimento de um modelo para a desmutualização. Em razão disso, a Bolsa preferiu não comentar o assunto.

Além da crença na abertura de capital, os fundamentos do negócio atraem os investidores. Das últimas estréias no mercado, talvez a Bolsa tenha uma das melhores histórias a apresentar. "Há uma aposta de valorização", diz Lois, da Spinelli, sobre os compradores dos papéis. Além dela, também participaram das últimas disputas as corretoras Hedging-Griffo, Coinvalores, Socopa, Ágora, Bradesco, BBM, Morgan Stanley, UBS Pactual, Citibank, Link e Safra.

No ano passado, a Bovespa teve desempenho recorde. O superávit, equivalente ao lucro líquido, registrou alta de 51,6% e alcançou R$ 200 milhões. A receita somou R$ 310,2 milhões, depois de avançar 45%. A performance reflete a fase áurea da bolsa, com a listagem de ações por diversas novas empresas e a expansão do volume das transações.

As perspectivas para este ano são ainda melhores. O número de companhias listadas subiu de 350 para 364, entre dezembro e abril. O total de recursos negociado em apenas um terço do ano já equivale à metade do total de 2006 - R$ 295 bilhões frente R$ 599 bilhões. Nesses intervalo, ocorreram 24 ofertas de ações e 11 estão na fila de registro da CVM.

A Bolsa conta com 758 papéis emitidos e distribuídos entre 91 instituições. A quantidade de papéis determina a categoria. Para ter atuação regional, é necessário ter um papel - exceto no Rio, onde o mínimo são três. A operação nacional exige seis títulos e a internacional, doze.