Título: Bilionário indiano amplia leque para lucrar com etanol
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 04/05/2007, Agronegócios, p. B12

Uma das empresas que o investidor Vinod Khosla ajudou a criar produz etanol de milho nos Estados Unidos. Outra desenvolve, na Nova Zelândia, um processo de produção do combustível que usa gás como matéria-prima. Ele planeja plantar cana-de-açúcar para produzir álcool no Havaí e também financia empresas que tentam extrair energia de capim e resíduos vegetais como o bagaço da cana.

Pode parecer falta de foco, mas não é. Khosla acredita que o mercado mundial de biocombustíveis crescerá tanto nos próximos anos que ele será capaz de lucrar com todas as diferentes tecnologias em que está apostando, mesmo as que hoje parecem exóticas demais. "Algumas vão se sair melhor que as outras, mas todas terão um papel", afirmou Khosla em entrevista ao Valor.

Nascido na Índia mas radicado nos EUA há três décadas, Khosla é um engenheiro que fez fortuna no Vale do Silício investindo cedo em empresas que se tornaram muito bem-sucedidas mais tarde, como a Sun Microsystems, a Amazon e o Google. Ele virou recentemente uma peça-chave no processo de expansão da indústria americana de biocombustíveis, e acaba de incluir o Brasil entre suas apostas.

Khosla é um dos sócios da Brazil Renewable Energy Company (Brenco), uma empresa lançada em março pelo ex-presidente da Petrobras Henri Phillipe Reichstul que planeja investir US$ 2 bilhões na produção de álcool no Brasil. O ex-diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP) David Zylbersztajn e o ex-presidente do Banco Mundial James Wolfensohn também são sócios do empreendimento.

Khosla decidiu investir no Brasil por razões óbvias, para aproveitar as vantagens que tornaram o país pioneiro no uso do etanol como substituto da gasolina. Mas ele acha que o futuro está em outro lugar. "A vantagem do Brasil está na terra e no clima", diz o empresário. "A tecnologia é a vantagem dos Estados Unidos. Há muito dinheiro sendo investido em novas tecnologias aqui e é bastante provável que esses esforços tenham sucesso um dia".

Algumas empresas que Khosla ajudou a fundar nos últimos anos estão desenvolvendo tecnologias que poderão tornar viável economicamente o etanol celulósico, que em vez de milho e cana-de-açúcar usa capim, madeira e resíduos vegetais como matéria-prima. Os processos desenvolvidos por essas empresas deram certo nos laboratórios, mas só recentemente passaram a ser testados em usinas capazes de produzir em grande escala.

Khosla prevê que em uma década essas tecnologias serão responsáveis por mais da metade da produção de etanol nos EUA, onde hoje o milho é dominante. Mas ele mesmo reconhece que isso não depende apenas do que suas empresas estão fazendo. Ainda será preciso superar dificuldades que atualmente existem para plantar, colher e estocar grandes quantidades dos materiais que poderão substituir o milho e a cana-de-açúcar.

Ele acredita que países como o Brasil também terão ganhos se as suas previsões se confirmarem. "As tecnologias desenvolvidas nos EUA poderão ser usadas em lugares como o Brasil também", diz Khosla. "Como a produção de combustível depende da oferta local de matéria-prima, haverá oportunidades para usar as novas tecnologias no mundo inteiro". Uma das suas empresas, a Celunol, licenciou suas tecnologias para uma usina-piloto construída no Japão.

Khosla tem uma fortuna pessoal estimada em bilhões de dólares, mas gosta de fazer segredo sobre seus negócios. Só recentemente começou a falar abertamente das empresas apoiadas por seu fundo de investimentos, o Khosla Ventures. Em abril, numa apresentação para uma comissão do Senado americano, ele listou 13 companhias voltadas à produção de biocombustíveis que integram sua carteira.

No ano passado, fundos como o de Khosla investiram cerca de US$ 350 milhões em empresas do setor, sete vezes mais do que em 2005, segundo a Lux Research, uma firma de consultoria. Muitos observadores vêm com preocupação a euforia e identificam semelhanças entre a febre do etanol e a bolha das empresas ponto-com. Mas Khosla dá de ombros. "Sempre haverá ciclos e bolhas e nem todo mundo vai sobreviver", diz. "Mas os biocombustíveis continuarão sendo um bom negócio no longo prazo".

O interesse de Khosla pelos biocombustíveis nasceu de sua preocupação com o aquecimento global e a enorme dependência que a economia mundial tem de petróleo. Seu primeiro investimento no setor assoprou vida na Celunol, uma empresa que fracassou numa encarnação anterior ao tentar construir sua primeira usina de etanol celulósico, no final da década de 90.

Ele ganhou influência em Washington, um ativo essencial para um setor da economia que ainda depende muito da ajuda do governo. A opinião de Khosla é ouvida com atenção na Casa Branca e ele tem sido chamado com freqüência para falar no Congresso. "Adoro encontrar soluções tecnológicas para grandes desafios", diz ele. "Estou convencido de que temos condições de produzir muito mais etanol do que as pessoas pensam".

Uma das idéias que ele tem defendido é a eliminação parcial das barreiras tarifárias que encarecem nos EUA o álcool importado de países mais competitivos como o Brasil. Sua sugestão é liberar a entrada do etanol que for usado como substituto da gasolina e manter as tarifas para o álcool que for empregado como aditivo na composição da gasolina, mantendo o principal segmento do mercado doméstico sob controle da indústria local e ao mesmo tempo estimulando a demanda pelo produto.