Título: Grécia para de novo
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Fonte: Correio Braziliense, 17/12/2010, Economia, p. 17

Internacional Em meio ao caos no país, Moody"s anuncia que pode rebaixar nota da dívida pública por temor de calote A Grécia teve ontem mais um dia de caos. Os trabalhadores das companhias de transporte público fizeram nova paralisação de 24 horas, causando engarrafamentos gigantescos no início da manhã nas ruas de Atenas. As emissoras de TV mostravam congestionamentos de quilômetros, em várias das principais vias da cidade, porque muitos apelaram para o transporte privado para chegar ao trabalho. E, enquanto os atenienses enfrentavam transtornos no trânsito, a agência de classificação de risco Moody¿s Investors Service colocou o rating dos bônus governamentais em moeda local e em moeda estrangeira do país em revisão para possível rebaixamento.

Diante da desconfiança de que o país não conseguirá pagar sua dívida, a Moody¿s mudou a perspectiva para o rating ¿Ba1¿ da Grécia, mesmo após a própria agência de classificação de risco ter reconhecido que Atenas tem feito progressos ¿significativos¿ ao implementar um grande esforço de consolidação fiscal. ¿Porém, a revisão da Moody¿s se concentrará nos seguintes fatores: crescimento nominal e consolidação fiscal, o que direcionará as dinâmicas de dívida do país nos próximos anos¿, alertou a agência em nota.

Falência A Moody¿s acrescentou que um corte de vários níveis pode ocorrer caso a parcela de dívida sobre o Produto Interno Bruto (PIB) do país não consiga se estabilizar no período de 3 a 5 anos, ou se o apoio da União Europeia (UE) diminuir após 2013. Em maio, a Grécia escapou por pouco da falência com o auxílio de um pacote de 110 bilhões de euros da União Europeia (UE) e do Fundo Monetário Internacional (FMI). Em troca, o país se comprometeu com duras reformas econômicas, a fim de reduzir o deficit orçamentário para abaixo de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2014.

Na semana que vem, o Parlamento votará o Orçamento de 2011, que inclui mais medidas de austeridade, como cortes de gastos, nos salários dos trabalhadores e aumento de impostos.

RECUPERAÇÃO DESIGUAL A economia global enfrenta uma retomada desigual, com expansão devagar na Europa e perspectiva incerta nos Estados Unidos, afirmou ontem o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn. ¿A má notícia está vindo da Europa, onde a recuperação está realmente lenta e onde o crescimento é o principal problema a se enfrentar. O que está acontecendo nos EUA é muito incerto¿, atestou. O FMI está envolvido nos esforços para estabilizar as finanças públicas e o setor bancário da Grécia e da Irlanda, afastando uma crise de confiança dos investidores que ameaça contagiar outros países, como Espanha e Portugal. O número 1 do Fundo demonstrou crença na sobrevivência do euro. ¿É uma moeda forte, que se comportou bem nos últimos 10 anos, melhor até mesmo que o marco alemão na década anterior.¿ A diretoria da organização aprovou o empréstimo de 22,5 bilhões de euros para o governo irlandês, como parte do pacote de 85 bilhões de euros de socorro ao país, que luta contra um deficit fiscal de 32% do Produto Interno Bruto.

Crise é sistêmica

A crise fiscal dos países da Zona do Euro (grupo de 16 nações que compartilham a moeda comum) se tornou sistêmica e exige medidas fortes, afirmou ontem o presidente da Comissão Europeia, o português José Manuel Durão Barroso, na reunião de líderes do continente. O chefe do braço executivo da União Europeia (UE) acredita que um dos motivos para as turbulências nos mercados europeus é o nervosismo dos investidores, que estão assustados com a possibilidade de calote nas dívidas públicas.

¿A crise soberana atual tornou-se sistêmica por natureza e é conduzida não apenas por fundamentos orçamentários, mas também pela má precificação do risco de crédito por investidores e pelo comportamento de rebanho no curto prazo nos mercados¿, disse Barroso. Os líderes discutiram mudanças no tratado de formação da UE com o objetivo de abrir o caminho para a criação de um Mecanismo de Estabilidade Europeia. O instrumento servirá para socorrer os países com problemas no fechamento das contas a partir de 2013.

No encontro, os participantes aprovaram uma reforma que aumenta o poder das instituições do bloco, como a própria Comissão Europeia, no que diz respeito a tarifas de importação. A medida deve enfraquecer a autonomia dos governos dos países.