Título: Cenário para inflação está mais benigno
Autor: Sergio Lamucci
Fonte: Valor Econômico, 12/01/2005, Brasil, p. A5

O cenário para a inflação em 2005 começa mais benigno. Os preços no atacado dão sinais importantes de arrefecimento, num quadro de valorização do câmbio e comportamento favorável do petróleo, como mostrou o resultado da primeira prévia de janeiro do índice geral de preços de mercado (IGP-M), que teve alta de apenas 0,2%. Além disso, os números da produção industrial de novembro indicaram desaceleração da atividade econômica, o que tende a dificultar repasses do aumento de custos para os preços. Depois dos 12% de 2004, a aposta dos economistas é de que os IGPs fiquem neste ano entre 6% e 7%. Os analistas lembram que a melhora nas perspectivas de inflação se sustenta em fatores voláteis como o comportamento do câmbio e do petróleo, mas também reforçam que hoje o quadro é mais favorável. A gasolina, por exemplo, está mais cara no mercado doméstico que no externo, o que abre espaço para redução dos preços dos combustíveis pela Petrobras. Mas a grande novidade no front inflacionário nos últimos dias é o comportamento dos preços no atacado, principalmente dos produtos industriais. Na primeira prévia de janeiro do IGP-M, o IPA industrial ficou em 0,16%, bem abaixo dos 0,64% registrados na mesma parcial de dezembro. Para o economista Ricardo Denadai, da LCA Consultores, três grandes fatores ajudam a explicar o desempenho. O primeiro é que não houve no período aumentos dos preços de produtos siderúrgicos. O segundo foi a redução das cotações de óleos combustíveis e querosene para motores, que têm preços reajustados a cada 15 dias, seguindo mais de perto o movimento do petróleo, ao contrário do que ocorre com a gasolina. O outro fator é a valorização do real, que também se faz sentir nos preços de alguns itens agrícolas no atacado, afirma ele. O IPA agrícola teve variação de 0,03% na primeira prévia de janeiro do IGP-M, ante 1,03% na prévia anterior. O economista-chefe do HSBC, Alexandre Bassoli, vê uma influência significativa do câmbio nesse movimento do IPA. Ele avalia, aliás, que o câmbio vai ajudar bastante no comportamento da inflação neste ano, já que projeta um dólar médio de R$ 2,77 em 2005, abaixo dos R$ 2,93 registrados no ano passado. Bassoli aponta ainda a desaceleração da atividade econômica, o cenário mais favorável para os preços do petróleo e o recuo, das expectativas de inflação para este ano como fatores positivos para os índices de preços. "Os riscos para a trajetória de médio prazo da inflação diminuíram", diz ele, lembrando, porém, que os índices ao consumidor seguem um pouco pressionados. Com o câmbio valorizado e o petróleo em níveis mais civilizados - ainda acima de US$ 40 o barril, mas bem abaixo de US$ 50 - surge outro fator que pode trazer a inflação para uma trajetória mais favorável: uma eventual redução dos preços da gasolina pela Petrobras. O economista Fernando Fenolio, da Rosenberg & Associados, estima que as cotações do produto no mercado doméstico estão 10% acima dos vigentes no exterior, considerando os valores ao produtor. Uma queda de 10% na refinaria corresponderia a um recuo de 5,2% para o consumidor, afirma Fenolio, o que teria um impacto de 0,21 ponto percentual no índice de preços ao consumidor amplo (IPCA), que baliza o regime de metas. "Seria o suficiente para trazer as projeções do BC, de 5,3%, para a meta ajustada perseguida pela instituição, de 5,1%", diz ele, que faz, porém, duas ressalvas. A primeira é que a Petrobras não muda os preços à medida que o preço internacional oscila. "O que ocorreu no ano passado comprova esse fato, quando a defasagem alcançou quase 30% e a estatal segurou seus preços, para apenas no fim de novembro, quando a cotação do petróleo já estava em baixa, realizar seu aumento." Para Fenolio, o mais provável é que a empresa "aproveite o atual momento para recompor as reservas usadas para sustentar os preços internos mais baixos que os externos", não mudando as cotações da gasolina e do diesel. Mas, se o petróleo seguir comportado e o câmbio continuar apreciado, é possível esperar uma redução a partir do segundo trimestre. A outra ressalva é que a tarifa de ônibus de São Paulo deve subir algo como 14% neste mês, o que teria um impacto de exatos 0,2 ponto sobre o IPCA. Denadai lembra ainda que, em janeiro, os preços industriais no atacado podem ter um repique moderado, devido à nova rodada de aumento na cadeia siderúrgica. "Entretanto, a ausência de reajustes de combustíveis e os efeitos favoráveis do câmbio poderão atenuar os impactos da alta do aço ao longo da cadeia", afirma ele. Nesse quadro, parece estar próximo o fim do ciclo de alta dos juros iniciado em setembro. Bassoli acredita que o BC vai elevar a Selic em mais 0,25 ponto percentual em janeiro, para 18% ao ano, e depois manter a taxa por alguns meses, para provavelmente iniciar a redução no fim do segundo trimestre ou no começo do terceiro.