Título: Governo critica o uso de indicadores desatualizados
Autor: Campos, Eduardo; Máximo, Luciano
Fonte: Valor Econômico, 15/03/2013, Especial, p. A16

O governo brasileiro contestou a metodologia de cálculo para definição do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), pelo qual o Brasil se manteve estável na 85ª posição do ranking em 2012. O principal questionamento refere-se à jornada escolar e aos anos de escolaridade. Para o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, a atualização de dados defasados poderia levar a um avanço de pelo menos 20 posições no ranking.

Apesar da ressalva, o ministro considera o relatório qualitativo "bastante justo com o esforço que o Brasil vem fazendo". Para a ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, os dados estão "desatualizados" e são "injustos". Segundo ela, "os indicadores continuam parados no mesmo lugar".

Para o governo, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) desconsidera a matrícula de 4,6 milhões de crianças. "Você tem uma projeção dos anos de escolaridade totalmente distorcida", reclamou Mercadante. Uma das principais críticas feitas pelo governo brasileiro é o uso de dados desatualizados, no caso do Brasil, e dados atualizados para outros países, o que distorce a posição real do país no ranking. O Brasil está estacionado na 85ª colocação desde 2007, embora o IDH do país tenha subido de 0,71 naquele ano para 0,73 em 2012.

Para permitir a montagem de um ranking mundial, a ONU lança mão de dados comuns a todos os países, o que gera algumas distorções. No caso do Brasil, a defasagem pode ser explicada, em parte, porque as Nações Unidas utilizam uma base de dados fornecida por suas agências com dados mais antigos que os já divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Por causa disso, a ONU calculou um "novo" IDH do Brasil, considerando dados do IBGE sobre expectativa de vida e anos de escolaridade da população adulta. Foi feita uma nova estimativa de anos de estudo e atualizada a renda média. Com esses parâmetros, o IDH do país em 2012 seria mais alto - 0,754 -, pontuação que deixaria o país na 69ª posição, empatado com o Cazaquistão e à frente da Albânia.

Daniela Gomes Pinto, analista de desenvolvimento do Pnud, explica, porém, que o número não pode servir de comparação dentro ranking, porque o exercício não foi feito para os outros países. Ela também disse que a ONU sofre críticas de governos no mundo todo, mas comenta que vale a pena esse desafio de tentar convergir dados de uma base mundial para poder montar um quadro global e comparativo do desenvolvimento humano.

Segundo a analista, quanto mais elevado o IDH, mais custosa a mudança de posição. O Brasil está no grupo de "elevado desenvolvimento humano", o segundo melhor da escala. No ranking, a expectativa de vida do brasileiro estava em 73,8 anos, a previsão de anos de escolaridade em 14,2 anos, os anos de educação da população adulta em 7,2 anos e a renda per capita em US$ 10.152.

Os mesmos parâmetros sofrem mudanças, quando calculados com base em dados recentes do IBGE. A expectativa de vida sobe para 74,1 anos, o total de anos de educação da população adulta avança para 7,4 anos, s previsão de anos na escola sobe para 15,7 anos e a renda vai a US$ 11,547.