Título: Lula define cota do PMDB na reforma ministerial
Autor: Romero, Cristiano e Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 15/03/2007, Política, p. A12

A fila da reforma ministerial andou. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu, ontem, nomear o deputado Odílio Balbinotti (PMDB-PR) para o Ministério da Agricultura. Além disso, confirmou o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) para a Integração Nacional e o médico sanitarista José Gomes Temporão para a Saúde. Com isso, fechou a cota do PMDB no governo. Hoje, o presidente deve convidar a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy, do PT, para comandar o Ministério do Turismo e nomear Walfrido dos Mares Guia, do PTB, que até o início da noite de ontem estava entre as Relações Institucionais e o Desenvolvimento, Indústria e Comércio.

O anúncio das nomeações do PMDB foi feito pelo presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), que, acompanhado do líder da legenda na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), se reuniu no fim da tarde com o presidente Lula no Palácio do Planalto. "O PMDB se sente plenamente atendido em todas as suas reivindicações", declarou Temer.

Os três novos ministros do PMDB tomam posse amanhã, além do novo ministro da Justiça, Tarso Genro. Michel Temer e Henrique Alves ofereceram ao presidente, além de Odílio Balbinotti, outros quatro nomes para a Agricultura: os deputados pemedebistas Eunício Oliveira (CE), que foi ministro das Comunicações no primeiro mandato de Lula, Tadeu Filippelli (DF), Waldemir Moka (MS) e Fernando Diniz (MG). Segundo Temer, Lula demonstrou preferência por Balbinotti, que não conhece pessoalmente. Os dois serão apresentados hoje, antes da reunião do Conselho Político.

O PMDB planejou indicar nomes para o Ministério do Turismo, mas Lula não ofereceu a Pasta. "Ela deve estar sendo reservada para uma ministra", brincou o líder Henrique Eduardo Alves. De fato, está praticamente certa a nomeação de Marta Suplicy para o Turismo. Cotada inicialmente para comandar o Ministério das Cidades ou o da Educação, Marta fez chegar ao presidente que aceitará a Pasta que ele escolher. Lula deve formalizar o convite hoje. "Ela não recusará um chamado do presidente", revelou um amigo da ex-prefeita.

O presidente pode concluir hoje a formação do ministério. Ontem, a dúvida dizia respeito ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). O atual ministro da Pasta, Luiz Fernando Furlan, está deixando o governo. Lula fez sondagens a três empresários, entre eles, Jorge Gerdau, líder do grupo Gerdau, e Maurício Botelho, presidente da Embraer, mas todos declinaram da oferta.

Depois de planejar deslocar o atual ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia, para as Relações Institucionais, Lula pensou ontem em oferecer a ele o Desenvolvimento. "O presidente considera o Walfrido um polivalente. Ele é um político hábil, que pode cumprir bem o papel de articulador político nas Relações Institucionais, e um empresário de sucesso, credencial para comandar o Desenvolvimento", explicou um assessor do presidente.

A idéia de nomear Walfrido para o MDIC perdeu força ao longo do dia, embora, segundo um ministro próximo de Lula, ainda não esteja descartada. Pode ter contribuído para isso um certo desinteresse do ministro em assumir o MDIC. Na tarde de ontem, durante encontro com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, o petebista teria deixado isso claro. Embora seja um empresário bem-sucedido, Walfrido não é ligado à indústria, mas ao setor de serviços - ele é dono da Universidade Pitágoras, de Minas Gerais. Além disso, desde dezembro, quando Lula lhe confidenciou, pela primeira vez, o interesse em nomeá-lo articulador político, ele está entusiasmado com essa possibilidade.

A recusa de empresários em assumir o Desenvolvimento tem explicação. A avaliação corrente, dentro e fora do governo, é que o MDIC é um ministério fraco, sem instrumentos efetivos para realizar sua missão, que é promover políticas de estímulo à produção industrial e ao comércio exterior. Essa função é exercida hoje, na prática, pela Secretaria de Política Econômica do Ministério da Fazenda, que tem um especialista no assunto - o economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida.

Outra prova de fraqueza do Ministério do Desenvolvimento está no fato de que, desde o início do governo Lula, o BNDES, o principal agente financeiro do MDIC, com orçamento anual superior a R$ 60 bilhões, ficou vinculado, na prática, ao Palácio do Planalto e mais recentemente ao Ministério da Fazenda. O atual presidente do banco, Demian Fiocca, é ligado ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, e responde somente a ele e ao presidente da República. Irritado com essa situação, o ministro Furlan tentou, em vão, revertê-la.

Caso decida deslocar Walfrido dos Mares Guia para o MDIC, o presidente Lula poderá chamar um petista para as Relações Institucionais - os mais cotados são o ex-governador do Acre Jorge Vianna e o deputado Henrique Fontana (RS). Quanto aos ministérios restantes, o presidente ainda terá que tomar uma decisão sobre o Desenvolvimento Agrário. O PT indicou o deputado Walter Pinheiro (BA), mas Lula não gostou. Lembrou aos petistas que, no primeiro mandato, Pinheiro foi um crítico constante de sua gestão, principalmente, da política econômica.

Outra opção seria o retorno de Miguel Rosseto, que concorreu, sem sucesso, ao Senado pelo Rio Grande do Sul na última eleição. Inicialmente, Lula não gostaria de nomear um derrotado para seu ministério. Além disso, Rosseto é pré-candidato à prefeitura de Porto Alegre em 2010, mas ontem, apesar disso, seu nome voltou a ser cogitado - Rosseto tem encontro agendado com o presidente na segunda-feira.

A tendência Movimento PT, que reclama da falta de cargos, pode vir a ser contemplada com a Secretaria de Direitos Humanos, com a nomeação da deputada Maria do Rosário (RS), que teria sido sondada. Outro nome cotado para o cargo é o do ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT), amigo de Lula e um dos maiores ativistas dos direitos humanos do país.

A ex-deputada petista Luci Choinaki (PT-SC) está cotada para assumir a Secretaria da Pesca. Ontem, o deputado Paulinho da Força (PDT-SP) confirmou, depois de se encontrar com o ministro Tarso Genro, no Palácio do Planalto, que o governo entregará ao PDT o Ministério da Previdência. "O PDT só tem um candidato (para o cargo), que é o (deputado Carlos) Lupi", afirmou o deputado, referindo-se ao presidente do PDT.(Colaborou Mauro Zanatta)