Título: Montadoras prevêem queda de exportações em 2006
Autor: Marli Olmos
Fonte: Valor Econômico, 12/01/2005, Empresas &, p. B5

Os volumes de exportações de veículos tendem a começar a cair em 2006 por força da desvalorização do dólar, segundo sustentam os executivos das montadoras. A preocupação já foi levada ao governo. O presidente da General Motors do Brasil, Ray Young, disse que falou sobre isso com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Eu disse a Lula que a nossa competitividade não depende apenas do mercado interno", explicou Young, que está em Detroit para acompanhar a apresentação do Salão do Automóvel (North American International Auto Show). "Somente por conta da redução de R$ 3,10 para R$ 2,70 a cotação do dólar representou uma perda de 17% em menos de um ano", destaca o presidente da Ford na América do Sul, Antonio Maciel Neto. Em 2004, o Brasil exportou 630 mil veículos. Somado aos embarques de autopeças feitos pelas próprias montadoras, o volume representou uma receita de US$ 8,3 bilhões, o que equivale a 20% do superávit da balança comercial brasileira. Somente em dezembro as montadoras embarcaram o equivalente a US$ 777,6 milhões. As exportações da indústria automobilística em 2004 cresceram 51,8% na comparação com 2003. Para 2005, é esperado ainda um avanço, de 7%, o que indica total de US$ 8,9 bilhões. Mas os dirigentes das montadoras sustentam que os volumes deste ano ainda refletem a continuidade de contratos fechados meses atrás. Inclui-se aí a negociação de venda do Fox, da Volkswagen, para a Europa, que deverá puxar boa parte do crescimento. Não há, por ora, novos grandes contratos em vista. A General Motors conseguiu fechar a venda de mil picapes Montana para a Síria, a partir do próximo mês. É o único contrato novo da montadora que, por conta disso, calcula fechar o ano sem crescimento nas exportações. Isso significa faturamento externo igual ao de 2004: US$ 1,6 bilhão, incluindo os embarques a partir também da fábrica na Argentina. Para o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Rogelio Golfarb, o câmbio representa um dos maiores riscos não apenas para a continuidade do ritmo de exportações como também para a sustentação do crescimento do setor, que bateu recorde de produção em 2004. Golfarb diz que não vê chances de o dólar valorizar nos próximos meses. E aponta, entre os motivos dessa expectativa, os esforços dos Estados Unidos para tentar reverter o déficit da sua balança comercial. "Sem a chance de a indústria poder aumentar os preços (para repassar o custo da desvalorização), a equação fica difícil", destaca Golfarb. A presidente da General Motors para a região que engloba América Latina, África do Sul e Oriente Médio, Maureen Kempston-Darkes, explica por que é impossível repassar a desvalorização do real nos preços. A maior parte das exportações de veículos do Brasil segue para países da própria América do Sul e outras nações emergentes. "São mercados muito sensíveis a qualquer variação de preços", destaca a executiva. A infra-estrutura também preocupa os executivos do setor. Maciel aponta o excesso de burocracia nos portos. Uma situação que, segundo ele, não ocorre em países como o México, por exemplo, que competem com o Brasil no mercado externo. Young diz, ainda, que a subsidiária brasileira também está sendo obrigada a criar bolsões para estocar as mercadorias que não podem ser embarcadas por falta de contêineres, um problema que afeta todo o mundo por força do aumento da demanda na China. Segundo Young, somente os bolsões representam acréscimo de 30% nos custos.