Título: Nota vermelha na luta pelo desarmamento
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Fonte: Correio Braziliense, 22/12/2010, Opiniao, p. 16

A sociedade está perdendo a guerra pelo desarmamento. É o que mostram as pesquisas Mapa do Tráfico Ilícito de Armas no Brasil e Ranking dos Estados no Controle de Armas. Realizados pela ONG Viva Rio em parceria com o Ministério da Justiça, os estudos chegam a conclusões capazes de tirar o sono dos cidadãos de bem.

A mais assustadora: com 16 milhões de armas espalhadas pelo território nacional, o país ocupa o sexto lugar no ranking das nações mais armadas do mundo. Vem atrás de Estados Unidos, Índia, China, Alemanha e França. Do total, quase a metade engrossa a estatística da ilegalidade. Nada menos de 47,6%.

Ao contrário do que se apregoa com veemente insistência, a maior parte do armamento ilícito é de fabricação verde-amarela. Revólveres e pistolas sofrem o efeito bumerangue. Exportadas para os países vizinhos, dão meia volta e retornam ao Brasil. Entram, então, na clandestinidade. Aqui, têm dois destinos. Um: engrossam o arsenal de bandidos. O outro: são vendidas para pessoas sem vínculo com o crime. Às vezes caem em mãos de menores de idade que, em confronto com jovens rivais, não pensam duas vezes antes de puxar o gatilho.

Também circulam no território nacional artefatos legais. São, segundo os organizadores do levantamento, 8,3 milhões de unidades. Mais da metade delas (4,5 milhões) estão na posse de civis. Militares, policiais e empresas de segurança detêm a outra parcela. É preocupante. O cidadão pensa que compra segurança ao adquirir um revólver ou uma pistola. A realidade diz que ele se engana.

Muitos assaltos a residências não visam a dinheiro, joias ou eletrônicos. O primeiro objeto do desejo é arma. O restante vem em consequência. Mais: cidadãos roubam a vida de outros por motivos banais. Uma fechada no trânsito, um olhar pouco amistoso ou uma palavra descuidada têm o poder de acionar reações violentas. Se tiver uma arma ao alcance da mão, a pessoa responde com tiros que, uma vez disparados, não têm volta.

Urge mudar a direção do vento. Campanhas maciças se impõem. A população precisa se convencer de que arma não é sinônimo de segurança. Ao contrário. O ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, observa que até policiais, quando surpreendidos por criminosos, têm dificuldade de usar a arma. No confronto, ¿ou mata ou morre¿, resume ele. O Distrito Federal, embora ocupe o quinto lugar entre as regiões do país com mais mortes por armas de fogo, aparece como exemplo. Com campanhas bem-sucedidas, foi a unidade da Federação que mais recolheu e legalizou armas de fogo.