Título: Lula cobra marca social e eficiência administrativa
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 13/01/2005, Política, p. A5

Enquanto finaliza as articulações - que tem conduzido meticulosa e isoladamente - para modificar parte da estrutura do primeiro escalão, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avisa aos auxiliares mais próximos que o governo precisa ter eficiência administrativa e uma marca social clara a partir deste ano. Na segunda-feira, Lula teve uma longa conversa com o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, responsável pela gerência de todo o governo. Avisou ao ministro que é preciso melhorar a gestão administrativa, não medir esforços para aumentar o nível de investimentos no país e consolidar um ação social do governo. A prioridade é o programa Bolsa Família. Lula chamou, um dia depois, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para outra conversa reservada. Ontem, o presidente marcou com o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), e ao presidente da Casa, José Sarney, uma conversa decisiva sobre a reforma ministerial na segunda-feira. Para auxiliares de Lula, a reforma será concluída na próxima semana. Uma das mudanças dada como certa no meio político é que a senadora Roseana Sarney será mesmo convidada a ocupar um ministério. De acordo com impressões políticas de interlocutores do presidente, é possível que a senadora ocupe o ministério das Cidades ou das Comunicações. O PMDB continua pressionando por um terceiro ministério, mas numa avaliação realista poucos interlocutores do presidente Lula acreditam nesta possibilidade. Pemedebistas envolvidos nas negociações contam que há forte resistência do PT em deixar ministérios para ceder a outras legendas. Um dos que não cogita a hipótese de desligamento é o ministro Olívio Dutra (Cidades). "Acho que o PMDB vai ter o espaço de acordo com a legitimidade de sua presença na política brasileira, e por ser a maior bancada no Senado, que vai ter o senador Renan Calheiros como presidente", afirmou ontem Sarney, após o encontro com Lula. Sarney disse que se sente constrangido em discutir com Lula o futuro político de sua filha. "A senadora Roseana caminha com seus próprios pés. Ela tem uma personalidade e é dona do seu destino político. Ela decide as coisas que tem que decidir, e não eu", disse o presidente do Senado. Roseana Sarney ainda não comunicou oficialmente ao PFL a decisão de se desfiliar. Mas a sua ida para o ministério é dada como certa pelo presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), que ontem anunciou sua saída do partido (ver matéria ao lado). O pefelista disse que, em conversas com Roseana sobre tais especulações publicadas na imprensa, deixou clara a posição do partido. "Eu e a senadora temos uma amizade que está acima disso tudo", declarou Bornhausen. O atual ministro da Previdência, Amir Lando, deve deixar o cargo, numa decisão interna do PMDB. Lando voltaria para o Senado, onde ocuparia cargo de destaque. "O senador Amir Lando foi um excelente líder do governo, é um excelente ministro, e tem todo o reconhecimento do governo, do PMDB e do Senado, em qualquer papel que assuma certamente terá uma tarefa de destaque", disse o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). É provável que o outro ministro pemedebista, Eunício Oliveira (Comunicações), permanece no primeiro escalão, mas pode ser remanejado. Outra hipótese é que Ciro Gomes seja deslocado para a Previdência, e a Integração Nacional fique com o PMDB. O provável nome do partido a ser indicado é o do senador Romero Jucá (RR). Lula também conversou ontem com o presidente da Câmara, João Paulo Cunha. A equação para o petista compor o ministério é complicada, pois exigiria a saída de um outro petista, de São Paulo, do primeiro escalão. Uma possibilidade que circula no meio político é a indicação do ministro Ricardo Berzoini (Trabalho) para a presidência do Banco do Brasil. Para isso, o deputado Berzoini teria que renunciar ao mandato, com que já teria concordado. A principal resistência parte de Palocci, que teme a partidarização do BB. Já alguns petistas acham que a posição de João Paulo no fim de sua gestão trouxe desgastes que dificultam sua indicação para o ministério. Além de insistir na sua reeleição para a Câmara, João Paulo não teria dado, no momento certo, o apoio ao sucessor escolhido pelo PT, Luiz Eduardo Greenhalgh.