Título: Salários sobem mais no Norte e Nordeste
Autor: Salgado, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 27/02/2007, Brasil, p. A5

No último ano, os trabalhadores que conseguiram empregos com carteira assinada nas regiões Norte e Nordeste foram os que tiveram os maiores aumentos salariais. O salário de admissão cresceu 6,9% reais nos Estados nortistas, acima dos 5,1% verificados para o Brasil. No Nordeste, o aumento foi de 6,7%. Segundo economistas, o reajuste real de 13% no salário mínimo explica parte dessa melhora, já que muitos salários nessas regiões são vinculados a esse piso.

No entanto, apesar de serem elevações robustas, o valor absoluto dos salários pagos nessas regiões ainda está abaixo da média nacional. Atualmente, o rendimento dos admitidos em cidades nordestinas representa 82% do salário médio do país, enquanto no Norte esse percentual é de 88%. Os cálculos são do economista Fábio Romão, da LCA Consultores, com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho.

A região Sudeste teve crescimento abaixo do país: 4,6% nos salários dos admitidos. Porém, o crescimento do rendimento dos empregados foi maior do que o das pessoas que perderam emprego (3,6%), o que é visto como um movimento positivo. "A recuperação dos salários foi encabeçada pelo Norte e pelo Nordeste, mas os dados do Sudeste também são importantes, porque é a região com maior peso e qualidade no emprego e também registrou uma sensível melhora", comenta Maurício Moura, economista-chefe da Gouvêa de Souza & MD.

A palavra "recuperação" também é usada por Marcio Pochmann, professor da Unicamp. Isso porque, nos últimos quatro anos, o salário de admissão ficou 6,2% maior, mas foi um crescimento ante uma forte queda de 19,2% ocorrida ao longo do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso. Em sua primeira gestão, de 1995 a 1998, esse indicador subiu 9,5%. "É inegável que houve uma melhora, mas ainda estamos muito longe do patamar de rendimento registrado da década de 90", comenta o professor.

Mesmo com uma evolução acima da verificada no salário médio dos desligados, os salários dos admitidos ainda são menores do que os dos desligados. Na média brasileira, o rendimento de quem está entrando no mercado de trabalho estava em R$ 596 em novembro de 2006. Já o rendimento médio de quem deixava o emprego estava em R$ 668, o que significa que o salário de admissão equivalia a 89% do rendimento do demitido. A região Sudeste é a que tem a relação menos desfavorável entre a renda dos admitidos e demitidos: 92%. Os piores indicadores nesta relação ficam nas regiões Sul e Centro-Oeste, ambas com 85%.

Essa diferença é fruto de um mercado de trabalho ainda bastante precarizado, onde se demite quem tem salários maiores e se contrata pessoas para fazer o mesmo serviço, porém pagando menos. Essa diferença, contudo, vem diminuindo ano a ano. No final de 2002 ela estava em 83%. "Foi a partir de 2003, com um crescimento um pouco maior e mais contínuo da economia que essa relação começou a se estreitar", diz Romão, analista da LCA Consultores.

O que seria preciso ocorrer, então, para que os trabalhadores contratados tivessem salários maiores do que os dos demitidos? Um salto no patamar de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e, por conseqüência, na produtividade brasileira, afirma Moura, da Gouvêa de Souza.

Ele explica que os trabalhadores mais qualificados e com salários maiores são os que estão envolvidos em atividades com alto nível de desenvolvimento tecnológico e também mais produtivas. "Como o Brasil está estacionado em um nível baixo de eficiência do trabalho, é preciso crescer bastante e durante um longo tempo para que as pessoas mais qualificadas tenham boas oportunidades de emprego com bons salários", diz o economista.

Para 2007, a expectativa dos economistas é de continuidade dessa recuperação dos rendimentos, mas com menos vigor do que a verificada no ano passado. Romão projeta alta de 1,8% no rendimento médio dos trabalhadores - aí incluídos os com e sem carteira assinada -, abaixo dos 2,4% estimados para 2006. Com isso, a massa salarial deve crescer menos também: 4,5% em vez dos 5,1% do ano passado. Marcelo de Ávila, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) aposta no bom desempenho do emprego com carteira assinada, com crescimento do grau de formalização, que hoje está em 53,8% dos ocupados.