Título: Com menos recursos, microcrédito começa a chegar ao público-alvo
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 21/02/2007, Finanças, p. C2

Estatísticas divulgadas pelo Banco Central mostram que, embora os bancos estejam emprestando menos em suas linhas de microcrédito, as operações estão chegando cada vez mais próximas do público-alvo do programa - microempreendedores e pessoas físicas que não tinham acesso ao sistema financeiro. Até então, o BC divulgava apenas as estatísticas agregadas sobre as aplicações do microcrédito. Os números não são positivos: os bancos, que em dezembro de 2005 cumpriam 69,7% das aplicações exigidas pela regulamentação em vigor, passaram a cumprir apenas 56,1% das exigências em dezembro de 2006. Em termos nominais, a carteira encolheu 9,5%, chegando a R$ 1,023 bilhão no fim do ano.

Lançado em 2003, o programa do microcrédito determina que os bancos emprestem 2% dos saldos captados em contas correntes a pequenos empréstimos com juros limitados a 2% ao ano (nos financiamentos a atividades produtivas, pode chegar a 4%). Agora, o BC passou a divulgar estatísticas mais refinadas, que mostram que a queda no volume de operações ocorreu na linha de microcrédito destinada ao financiamento de consumo. Os financiamentos a microempreendedores cresceram 6,8% no ano, chegando a R$ 210 milhões.

Os empréstimos a microempreendedores são considerados, entre os especialistas, a principal função do microcrédito - alguns dizem que apenas o financiamento a atividades produtivas pode ser chamado de microcrédito.

O crescimento dessas operações se deve, sobretudo, às operações do Banco do Nordeste. Mas já começam a aparecer operações de maior expressão do Banco Popular do Brasil (BPB), da Caixa Econômica Federal e de bancos privados. O ABN AMRO, por exemplo, anunciou que pretende chegar a 100 mil operações ainda neste ano, por meio da Real Microcrédito.

"Os empréstimos aos microempreendedores demoraram um pouco mais para deslanchar, porque os bancos primeiro tiveram que passar por uma fase de aprendizagem", diz Gilson Bittencourt, assessor especial do Ministério da Fazenda para microfinanças. "Agora dá para expandir a carteira com um pouco mais de velocidade."

Já as operações de financiamento de consumo caíram 12% em 2006, para R$ 812 milhões. Mas o número de empréstimos concedidos caiu menos - apenas 4%, para 8,9 milhões. A queda dos volumes emprestados tem a ver com o fato de que os bancos estão fazendo empréstimos de menor valor. Em 2004, o valor médio dos empréstimos era R$ 252,90; em 2005, de R$ 113,71; em 2006, R$ 78,59. Esse é um sinal de que os bancos estão fazendo mais empréstimos para a baixa renda, que não tinha acesso ao sistema financeiro.

A expectativa é que, nos próximos meses, o volume total de financiamento ao consumo continue a cair, depois que o Bradesco anunciou a suspensão das suas atividades na área de microcrédito. Mas a aposta é que, logo em seguida, volte a crescer, com a intensificação das operações da Caixa e do Banco Popular - e também devido ao aumento dos limites dos empréstimos, de R$ 600 para R$ 1000.

Tanto a Caixa quanto o BPB adotaram, em 2006, novos sistemas de avaliação de risco - o que fará com que as carteiras voltem a se expandir com segurança. "O sistema de avaliação de risco permite que, ao longo do tempo, a gente vá aumentando os limites de crédito dos clientes", disse o presidente do Banco Popular, Robson Rocha.

A Caixa começou a operar com o novo sistema de avaliação de risco em novembro. "Os empréstimos estão crescendo em progressão geométrica", disse o superintendente nacional de empréstimos a pessoas físicas da Caixa, Laércio de Souza. O sistema identificou público potencial de mais de um milhão na carteira de clientes. A Caixa espera que o valor médio do empréstimo, hoje em R$ 500, suba para R$ 800.