Título: Tarso Genro nega interferência do Planalto na Câmara e ameniza crise
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 26/01/2007, Política, p. A10

A uma semana da eleição para a presidência da Câmara, o ministro da coordenação política, Tarso Genro, amenizou ontem a crise na base aliada por conta da disputa entre Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Arlindo Chinaglia (PT-SP). Genro sofismou ao responder às críticas feitas por diversos aliados do Planalto de que o governo perdeu o controle sobre sua base na disputa pela sucessão à Mesa Diretora da Câmara. "Não perdeu porque nunca teve (controle)", afirmou o ministro.

Genro negou que o Planalto tenha buscado interferir, em algum momento, na disputa. Segundo ele, a preocupação do governo é que o debate entre os concorrentes aconteça da maneira mais civilizada e elevada possível, restringindo-se às questões políticas. O temor do Executivo é de que o acirramento das posições inviabilize uma repactuação posterior e ponha em risco o princípio do Conselho Político.

Outro medo do Executivo é de que a fissura cada vez mais latente entre o bloco PT-PMDB mais os partidos mensaleiros PP-PTB-PR de um lado, e PSB-PCdoB de outro, dificulte alianças em um cenário provável de segundo turno na disputa pela presidência da Casa. Para o Planalto, o melhor será que o candidato do PSDB, Gustavo Fruet (PR) não passe para o segundo turno. "Se os dois candidatos (Aldo e Chinaglia) forem para o segundo turno, a questão do ponto de vista da base do governo está resolvida", completou o ministro.

Mas o ministro teve que reiterar, na última quarta, aos integrantes da Executiva Nacional do PSB, que o Planalto vai permanecer neutro na disputa. Aliados de Aldo, os pessebistas expuseram a Genro preocupação com a oferta de cargos e ministérios, além de dinheiro de emendas, feita por aliados de Arlindo Chinaglia em troca de apoio na eleição de fevereiro. Na semana passada, a chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff, já havia dito ao próprio Aldo que esses movimentos eram desaprovados pelo Executivo. Na quarta-feira, Genro repetiu a assertiva. "Quem estiver falando isso, em nome do governo, está sendo desonesto politicamente", teria dito o ministro, segundo participantes do encontro.

Por outro lado, integrantes do PSB minimizaram as críticas públicas que o ex-ministro da Integração Nacional e deputado eleito pelo Ceará, Ciro Gomes, vem fazendo ao comportamento do PT e do governo na coalizão. Ciro chegou a dizer, no último domingo, que a coalizão de governo é muito elástica "tanto do ponto de vista programático quanto no ponto de vista ético". O vice-líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (RS) e o senador eleito Renato Casagrande (ES) garantiram que as declarações de Ciro não foram repercutidas no encontro com Genro. "Essas declarações são da responsabilidade do próprio Ciro. Ele não está falando em nome da direção partidária", assegurou Casagrande.

Genro também não quis comprar briga com Ciro. Assegura que o ex-ministro participou da reunião no Alvorada no domingo por um único motivo: fazia parte do governo até o ano passado e tinha um acúmulo de informações sobre projetos de infra-estrutura. Ontem, Genro chegou a negar que Ciro esteja atacando a coalizão. "Ele está preocupado com que o debate na Câmara não atinja a coalizão. É a mesma preocupação do governo". Sobre as críticas feitas por Ciro de que o PT atropelou os aliados, Genro foi claro. "O discurso político que cada deputado faz, dentro do Parlamento, para defender seu candidato, é uma coisa que concerne exclusivamente ao Parlamento. O governo não vai se manifestar sobre isso", assegurou.

O ministro da coordenação política também disse que o governo pretende realizar a reforma tributária e a política, mas não vai esforçar-se para assumir a paternidade das duas iniciativas. Chegou a dizer que, para o governo, pouco importa se duas reformas serão ou não realizadas. "O governo Lula não precisa da reforma política para governar e nem precisa da reforma tributária para governar. Nós queremos defendê-las e realizá-las, mas disso não depende a governabilidade do atual governo", afirmou.

Ainda no auge da crise do mensalão e durante toda a campanha eleitoral, Lula defendeu a reforma política como uma das principais bandeiras de seu segundo mandato. Sem ela, dizia, ficaria praticamente impossível evitar o surgimento de novos escândalos políticos. Lembrado disso, Genro disse que o Executivo deseja ver a reforma política aprovada ainda no primeiro semestre, e justificou a sua afirmação sobre o distanciamento do Planalto em relação à iniciativa. "É para não parecer que o governo Lula está querendo fazer qualquer chantagem em relação ao Parlamento. Essa é uma reforma que depende fundamentalmente de um acordo no Congresso".