Título: IFC faz empréstimo em reais a bancos brasileiros
Autor: Bautzer, Tatiana
Fonte: Valor Econômico, 26/01/2007, Finanças, p. C3

A International Finance Corporation, braço financeiro do Banco Mundial, deve aprovar duas linhas de crédito de valor total de R$ 198 milhões a bancos brasileiros. A IFC comprará notas emitidas em reais dos bancos Fibra e Bicbanco, com prazo de sete anos e indexação ao CDI (certificado de depósito interbancário). O mecanismo de crédito será a emissão de notas pelas instituições financeiras que serão compradas pela IFC. O Fibra emitirá um título em reais de valor equivalente a US$ 50 milhões (R$ 110 milhões pela taxa de câmbio de ontem), e o Bicbanco, de US$ 40 milhões (R$ 88 milhões). A diretoria da corporação votará as propostas a partir do final de fevereiro. As datas previstas oficialmente para avaliação pelo 'board' são 15 e 28 de fevereiro, mas espera-se que a votação ocorra algumas semanas mais tarde.

Uma das condições do empréstimo feito pelo organismo multilateral é de que os recursos sejam usados exclusivamente para crédito a pequenas e médias empresas. Há uma condição específica de valor máximo de faturamento nos empréstimos. Nos últimos anos, o Banco Mundial vem enfatizando a importância de aspectos microeconômicos para o desenvolvimento, como o acesso ao crédito por empresas de pequeno porte em países emergentes.

Segundo uma nota enviada pela assessoria da IFC no Brasil, "para nós o acesso ao crédito para pequenas e médias empresas é fundamental. Por meio de operações como investimento em microfinanças e linhas de crédito para empresas que atuam em mercados de nível médio a IFC vem ajudando as empresas locais a obter maior acesso aos mercados de capitais e a financiamentos". A instituição não comenta as condições dos empréstimos antes de sua assinatura.

A IFC está aumentando sua participação em operações com moeda local de diversos mercados emergentes. Em outubro do ano passado, fez uma emissão de bônus no mercado interno chinês para utilizar como lastro de operações de empréstimo em moeda local. Também já emitiu no mercado local colombiano. Entre 2000 e 2005, a instituição fechou operações de crédito nas moedas locais do México, Chile, Colômbia, Rússia, Paquistão, Índia, Filipinas, Indonésia, Tailândia, República Checa, África do Sul e Gana.

Por enquanto, a primeira emissão de títulos em reais da IFC está à espera de aprovação final da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). O primeiro pedido foi feito em agosto do ano passado. A instituição pretende emitir R$ 200 milhões em "títulos de investimento coletivo", uma nova modalidade de papéis no mercado interno, com liderança do ABN Amro e participação do Itaú BBA. Segundo prospecto preliminar, os títulos terão prazo de três anos e pagarão uma taxa de juros prefixada. O organismo multilateral não fez até agora emissões em reais no mercado internacional, que tornaram-se comuns desde o ano passado.

O único crédito concedido em reais pela IFC até agora era para o banco BBM, com valor equivalente a US$ 50 milhões - com repasse também obrigatório para empresas de médio porte.

Numa entrevista concedida ao Valor no mesmo dia em que foi anunciada a venda do concorrente BMC para o Bradesco, o vice-presidente do Bicbanco, Milto Bardini, diz que o uso de recursos de instituições multilaterais "é uma boa alternativa" para que os bancos menores enfrentem os grandes conglomerados no 'middle market', principalmente pela oferta de prazos superior à média do mercado privado internacional. O banco terá acesso a até R$ 88 milhões com a venda de notas de até sete anos para o IFC. "As instituições multilaterais têm tradição de apoiar o sistema bancário de países emergentes, como foi o caso da linha de financiamento ao comércio exterior durante o auge da crise pré-eleitoral de 2002", diz.

O Bicbanco já tem uma operação anterior com a IFC, de US$ 50 milhões para financiamento de comércio exterior. A instituição ainda não fez captações no exterior em reais por não querer pagar juros prefixados altos num momento de redução das taxas.

O Fibra poderá tomar uma linha de até R$ 110 milhões da IFC. "É um recurso mais barato porque já vem em reais, o que elimina o custo do swap", diz o diretor do Fibra João Rabello. Em relação a possíveis captações em reais no exterior, o diferencial é o prazo. O Fibra emitiu em 2005 US$ 60 milhões em reais no mercado internacional. Mas a captação foi por 18 meses e pagou 17,95%.

O Fibra usará os recursos para financiamentos de empresas médias- a carteira da instituição hoje é de R$ 2,6 bilhões. As operações atuais têm prazos variando entre 1 e 2 anos, o que permite girar os recursos do IFC em 3 ou 4 operações.

No ano passado, a IFC fez a primeira operação de grande porte em reais, para o banco BBM, que está servindo de modelo para as atuais. O empréstimo, de R$ 100 milhões, saiu por sete anos e foi concretizado por meio da emissão de notas da instituição financeira. A IFC incluiu entre as condições do empréstimo o alongamento de prazos para empresas médias e o atendimento a companhias de porte menor do que o banco atendia até receber os recursos.