Título: G-20 vai reexaminar posições para avançar em Doha
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 23/01/2007, Brasil, p. A2

O G-20, grupo liderado pelo Brasil, decidiu ontem que vai reexaminar todas suas posições na negociação agrícola, para reagir ao que for apresentado como avanço pelos Estados Unidos e pela União Européia (UE). A UE avisou que sem "oferta séria" dos países do G-20 nas áreas industrial e de serviços "não será possível" um acordo para retomar a Rodada Doha.

A expectativa é de que ministros dos EUA, UE, Brasil e Índia se reúnam no sábado em Davos (Suíça), como parte do esforço para um avanço na combalida rodada global de negociações comerciais. Esse encontro do chamado G-4, se confirmado, deve ocorrer após uma miniconferência ministerial organizada pelo governo suíço. Ministros de comércio e de agricultura de 24 países foram convidados.

O embaixador brasileiro na Organização Mundial do Comércio (OMC), Clodoaldo Hugueney, ressalvou que o calendário com que os negociadores trabalham em Genebra para progresso na Rodada Doha é fim de março ou começo de abril e não esta semana em Davos.

Washington e Bruxelas confirmaram que aproximam suas posições para quebrar o impasse na negociação global, mas que não há acordo agrícola fechado entre eles. Porta-voz do USTR, a representação comercial da Casa Branca, disse que os EUA e a UE estão fazendo progressos, mas que "não há acordo na mão" e qualificou de "incorretas" as cifras publicadas pelo jornal "Financial Times".

Menos incisivo, um porta-voz do comissário Peter Mandelson disse que a posição européia é clara: tanto a UE como os EUA precisam mover-se o máximo possível para a posição do G-20 na agricultura.

"O G-20 exige que os EUA implementem cortes reais e disciplinas sobre subsídios agrícolas. Concordamos com isso", disse o porta-voz, insistindo que ao mesmo tempo o G-20 precisa fazer mover-se nas outras áreas.

A posição do G-20 é de redução média de tarifas agrícolas de 54% e limitar a US$ 12,7 bilhões o total dos subsídios americanos que mais distorcem o comércio, comparado a US$ 19 bilhões atualmente. O "FT" publicou que o esboço de acordo entre americanos e europeus resultaria no corte tarifário de 54% e redução dos subsídios americanos para US$ 17 bilhões.

O embaixador Hugueney indicou que o G-20 aceita mostrar flexibilidade, dependendo das contrapartidas. Analistas aguardam um posicionamento claro da Índia sobre o corte de tarifas agrícolas e industriais, já que até agora tem sido bastante defensiva.

O Brasil não espera mais do que manifestação de apoio político a negociação, em Davos. Segundo Hugueney, os países não vão discutir os números que contam na negociação, envolvendo cortes de subsídios e de tarifas agrícolas.

Mas as barganhas prosseguem. Nesta quinta-feira, em Genebra, o subsecretário de assuntos econômicos do Itamaraty, Roberto Azevedo, volta a se reunir em Genebra com o diretor-geral de Agricultura da UE, Jean Luc Dimarti. Um dos temas centrais é o tamanho da expansão das cotas agrícolas para produtos-chave do Brasil, como carnes.

A publicação de que um acordo está próximo entre os EUA e a UE serviu pelo menos para reanimar negociadores em Genebra. Para se ter uma idéia, o ânimo estava tão baixo que nenhum representante da indústria brasileira veio a Genebra participar de discussões setoriais de eletrônica e automotiva com outros países, realizadas ontem na OMC.