Título: PAC e disputa na Câmara podem adiar anúncio do ministério
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 24/01/2007, Política, p. A8

Esperado para a primeira semana depois da eleição para as presidências da Câmara e do Senado, o anúncio do novo ministério do governo Lula pode demorar mais alguns dias, enquanto os partidos definem no Congresso quem serão os seus interlocutores com o Palácio do Planalto. Em conversa recente com um líder partidário, Lula perguntou que quer antes saber de quem vai cobrar a conta, na hipótese, por exemplo, de os partidos aliados não darem os votos prometidos a projetos como os incluídos no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

O normal é que as bancadas escolham os novos líderes logo na primeira semana de funcionamento do Congresso. Mas está prevista também a renovação de comandos partidários. O do PMDB, maior partido da coalizão, só ocorrerá em março, o que levou pemedebistas a acreditar que Lula possa deixar a reforma para depois do Carnaval. É pouco provável, segundo interlocutores de Lula. O presidente, segundo fontes ouvidas pelo Valor, estaria decidido a fechar o novo ministério, no máximo, até o dia 15 de fevereiro, apesar das dificuldades já antevistas no Planalto para o "day after" da eleição na Câmara.

Um indício de que Lula pode resolver logo o ministério é que o presidente convocou o presidente do PT, Ricardo Berzoini, para uma reunião no dia 29 de janeiro. Na pauta, as demandas do PT. Outro, é o de que precisa desencadear logo as conversas no Congresso para a votação das sete medidas provisórias e cinco projetos de lei previstos no PAC.

De início, Lula dispunha de apenas um candidato: o deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP), atual presidente da Casa. Com a decisão do PT de lançar o deputado Arlindo Chinaglia (SP), foi obrigado a formular um Plano B - o presidente declarou que não faria uma opção, pois considerava Aldo e Chinaglia como dois filhos. Neste caso - o da vitória de Chinaglia -, Lula consideraria o PT atendido e teria maior liberdade para trabalhar a redução de espaço do partido no governo. O problema é que os petistas pensam justamente o contrário: a vitória daria ao partido força para negociar a manutenção ou até a ampliação de espaço.

No caso da eleição de Chinaglia, o PMDB ganharia apenas mais um ministério, pois, pelo acordo feito com o PT, o partido sucederá Chinaglia na presidência. O problema é que os pemedebistas que lideraram o apoio a Chinaglia, um núcleo que fazia oposição ao governo no primeiro mandato, reivindica o Ministério dos Transportes, cargo que já estaria assegurado ao ex-ministro Alfredo Nascimento. O PR (fusão do PL com o Prona) também afirma que não abre mão do cargo e tenta aumentar sua bancada de 20 para 40 deputados para ter mais força na hora de negociar.

A candidatura Aldo esteve na UTI quando o PSDB anunciou que apoiaria Chinaglia. Voltou ao páreo quando os tucanos recuaram em favor do candidato da "Terceira Via", Gustavo Fruet (PR), que é do PSDB. Mas ainda caminha em campo minado: a expectativa é que o petista tenha pelo menos 20 dos 66 votos tucanos. Além disso, há uma pouco visível dissidência no PSB, que estaria disposta a votar em Fruet no primeiro turno em troca de seu apoio ao PT no segundo turno.

A sorte de Aldo - como a de Chinaglia - será decidida no PMDB. Ainda não está claro se os neolulistas conseguiram estabelecer uma aliança firme com setores do grupo que apoiou Lula até agora para formar uma nova maioria no partido. No plano inicial de Lula, os pemedebistas poderiam ter até cinco ministérios na hipótese de eleição de Aldo. O PMDB governista conta em manter os três ministérios atuais (Minas e Energia, Saúde e Comunicações) e levar Cidades ou Integração Nacional. O problema é que Marta Suplicy entrou no páreo para a Saúde.

Lula pediu para o PT parar de oferecer ministérios em troca de apoio a Chinaglia. A cúpula do PMDB fez um balanço e descobriu que já tem 15 ministros nomeados na Câmara por Chinaglia. O presidente também informou que os partidos não receberão ministérios de "porteira fechada": terão de partilhar cargos com os aliados, para bem caracterizar a coalizão.