Título: FMI prevê queda nos preços de commodities
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 08/09/2006, Finanças, p. C1

A explosão dos preços de algumas matérias-primas foi um dos principais motores do crescimento no Brasil e em outros países em desenvolvimento nos últimos tempos, mas a festa está prestes a terminar, se forem confirmadas as projeções de um novo estudo publicado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

A demanda por essas mercadorias continua em alta, mas cálculos de economistas da instituição sugerem que nos próximos cinco anos os preços do alumínio vão cair 35% e os do cobre, 57%, por causa da entrada de novas minas em operação e do impacto que os investimentos em andamento deverão ter sobre a oferta dos dois metais.

Esse movimento poderá ter implicações profundas para economias muito dependentes das exportações desses produtos, disse na quarta-feira o economista-chefe do FMI, Raghuram Rajan, ao apresentar o estudo, um dos capítulos analíticos que integram a nova edição do relatório semestral do Fundo sobre o estado da economia mundial.

"Nosso modelo sugere que os preços dos metais tendem a cair", afirmou Rajan. "Economias dependentes dessas mercadorias deveriam antecipar esse risco sendo mais cautelosas ao fazer despesas que são difíceis de reverter, como salários do setor público, e em vez disso focar em gastos que ajudam a construir uma capacidade produtiva diversificada para o futuro."

O diretor-adjunto do departamento do Fundo que monitora a América Latina, Charles Collyns, citou o exemplo do Chile, onde o cobre representa quase um terço das exportações. Boa parte da receita extra obtida pelo governo chileno com o aumento dos preços do cobre vem sendo guardada num fundo que poderá ser usado no futuro para lidar com situações de emergência.

Os preços de algumas dessas mercadorias aumentaram nos últimos anos até mais do que os do petróleo. Segundo o FMI, os preços dos metais subiram 180% em termos reais desde 2002. O petróleo ficou 157% mais caro, já descontada a inflação do período. A demanda por essas mercadorias tem aumentado num ritmo mais rápido que o do crescimento da economia mundial.

Um dos principais fatores por trás desse fenômeno é a expansão da China e seu enorme apetite por matérias-primas. O país absorveu mais da metade do crescimento observado na produção de metais nos últimos anos e hoje consome cerca de um quarto da produção mundial de alumínio, cobre e aço.

Mas o estudo do FMI adverte que isso também pode estar mudando, à medida em que o governo chinês tenta dirigir a atividade econômica do país para um modelo de crescimento em que o consumo seja mais importante que os atuais investimentos em grandes projetos. "Parte da força da demanda atual pode ser temporária", diz o trabalho.

A demanda por alimentos e produtos agrícolas também cresceu muito nos últimos anos, mas o impacto sobre os preços não foi tão notável, observa o FMI. No longo prazo, os economistas do FMI acreditam que a reforma das políticas agrícolas dos países ricos tende a fazer subir os preços dessas mercadorias, beneficiando nações em desenvolvimento, como o Brasil.

Os Estados Unidos e a União Européia gastam bilhões de dólares todos os anos para apoiar seus agricultores, o que distorce o comércio agrícola mundial deprimindo artificialmente os preços de várias mercadorias. Estudos citados pelo FMI sugerem que os preços de alguns produtos poderiam subir até 35% com o fim dos subsídios e a redução de tarifas e outras barreiras comerciais.