Título: "Não atravessaremos a rua para conversar", diz Jorge Bornhausen
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Fonte: Valor Econômico, 31/10/2006, Política, p. A13

O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), rejeitou ontem a possibilidade de seu partido aceitar um convite para conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Haverá sempre diálogo no Parlamento. Mas nós não atravessaremos a rua para conversar", afirmou o catarinense. Ele convocou reunião da Comissão Executiva Nacional do PFL para hoje, com a finalidade de avaliar os resultados das eleições e divulgar uma nota com a "posição clara" do partido.

Em seu primeiro pronunciamento como presidente reeleito, na noite de domingo, Lula manifestou a intenção de procurar "todas as forças políticas do país" até dezembro. Disse, ainda, que a partir de agora não tem mais adversário e que ninguém será vetado. Pediu a "compreensão" dos partidos de oposição. Para Bornhausen, o papel dos partidos derrotados nas urnas é fiscalizar o governo. O diálogo com o Executivo tem que estar restrito ao Congresso. "O nosso diálogo é no Parlamento", resumiu. Na opinião do dirigente pefelista, se o governo enviar ao Congresso uma agenda de propostas, o partido não se negará a examiná-la, podendo "votar contra, a favor ou aprimorar" cada item.

Numa postura diferente da manifestada por setores do seu partido, Bornhausen disse que PFL e PSDB terão, a partir de agora, atuação independente no Congresso. De acordo com sua visão, PFL e PSDB podem estar juntos pontualmente, já que ambos vão continuar sendo oposição ao Planalto, dependendo da situação. As duas legendas se uniram para formar a coligação que lançou a candidatura do tucano Geraldo Alckmin à Presidência da República.

"Cada partido é um partido. A coligação se extingue quando termina a eleição. Se tivéssemos vencido, continuaríamos juntos. Mas cada um tem seu programa, seus quadros, seus projetos. Podemos estar juntos na oposição, mas isso será discutido em cada caso", afirmou o presidente do PFL.

O líder da bancada pefelista no Senado, José Agripino (RN), defende união ainda maior entre PFL e PSDB. "A campanha deixou seqüelas. Temos que robustecer a relação congressual", afirmou. Na opinião de Agripino, os dois precisam buscar aproximação com o PPS e o PDT, ampliando o leque de forças oposicionistas.

"Vão tentar nos separar, mas precisamos nos unir ainda mais", disse o líder, que já começou a conversar sobre a necessidade de fortalecimento da oposição com pefelistas e tucanos, como o líder da bancada no Senado, Arthur Virgílio (PSDB-AM). O líder da minoria na Câmara, deputado José Carlos Aleluia (BA), concorda. "A adversidade une. Os dois partidos têm que ficar juntos e fazer uma oposição coordenada", disse. Um dos maiores críticos do PSDB no PFL é o prefeito do Rio, Cesar Maia. Ele acusou os tucanos de prejudicarem a campanha de Alckmin por terem se perdido em divergências internas.

Para Aleluia, o PFL fará oposição "crítica, construtiva", mas tem disposição para conversar. O partido deve examinar projetos de interesse do Executivo e votar a favor, quando for importante. "Não há por que ficar contra tudo. O país não pode parar", disse o deputado.

Segundo Agripino, além de buscar uma atuação conjunta no Congresso, PSDB e PFL devem buscar "sintonia" com seus governadores, para que a atuação no Congresso não "atrapalhe" suas administrações. O PSDB elegeu seis governadores e o PFL, apenas um - o deputado José Roberto Arruda, do Distrito Federal.

Agripino defende uma "oposição firme" a Lula, fiscalizando e cobrando compromissos de campanha. "Temos um governo defeituoso do ponto de vista administrativo e ético. Não confiamos no governo Lula", disse. Segundo o líder, o partido ainda discutirá a conveniência partidária de tentar disputar a presidência do Senado. O PFL elegeu maior número de senadores nas urnas, o que lhe garantiria uma bancada de 18 parlamentares. O PMDB do atual presidente, Renan Calheiros (AL), tem 17, mas espera a filiação de até três senadores, dois deles do PFL, o que tornaria a sua bancada a maior da Casa. (RU)