Título: Fernando Henrique apresenta diretrizes para os tucanos
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 31/10/2006, Política, p. A13

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sugeriu ontem diretrizes para o PSDB adotar a partir dos resultados das eleições deste ano: Para ele, os tucanos devem ser mais afirmativos em suas propostas, defender as realizações dos oito anos em que ele esteve no poder e buscar maior diálogo com a sociedade.

"É preciso dar uma chacoalhada no partido, ampliar, ter mais contato com a sociedade, representar mais os diversos setores da sociedade, conversar mais, ter posições firmes. Firmeza também na questão da justiça social. Não deixar abrir espaço para dizerem que o PSDB não está olhando para os pobres. Quem fez tudo isso no começo fui eu, não outra pessoa. Acabar com a inflação, Bolsa Escola, reorganizar o aparelho estatal para ter maior eficiência, mudar a Previdência Social. O salário mínimo real começou a aumentar em 1993 e não parou de aumentar. Não aumentou mais depressa agora não. Ninguém sabe, mas tem que dizer. Tem que botar o olho e contar. Cacarejar. Nós não cacarejamos suficientemente", afirmou.

O ex-presidente disse também que a sucessão de 2010 só deve entrar na pauta da legenda após as eleições municipais de 2008, uma vez que, segundo ele, a antecipação dessa discussão interna favorece aos adversários. "Só vamos poder, com seriedade, discutir sucessão daqui a dois anos. Antes disso é todo mundo junto e vamos ver o que vai acontecer. Qualquer discussão sobre Fulano, Beltrano, Ciclano é prejudicial e o partido tem que coibir todo mundo de entrar em discussão sem sentido, porque não tem praticidade alguma. É bom pra animar a fofoca e o lado contrário a nós."

Assinalou ainda que, até lá, a condução do processo deve ser feita de maneira que os potenciais candidatos, como os governadores eleitos Aécio Neves (MG) e José Serra (SP) não se "aniquilem". "É bom que tenha (candidatos) demais, desde que conduza esse processo de uma maneira contrutiva e que os vários candidatos não se aniquilem uns aos outros. Se o PSDB tiver noção de sua responsabilidade histórica e perceber que o país precisa de mais modernização e não ficar com medo de dizer as coisas, aí abrimos um horizonte positivo".

FHC rejeitou a hipótese de que a população não estava informada sobre as denúncias de corrupção do governo Lula, o que teria favorecido a reeleição do presidente. "Nem sempre a população está preparada para ouvir. Quais suas opções? Ela diz 'olha estou melhorando aqui e acolá e não quero saber desse outro lado'. É um direito da população. Até entendo as razões. Dizer que a população não entende, não. A população entende e tomou sua posição. Nós é que temos que dizer: 'Olha, essa decisão é de curto prazo'. Nós é que temos que ter capacidade de dizer 'olha, essa perspectiva, embora eu respeite, não é a melhor'."

Sobre a governabilidade no segundo mandato, FHC disse que o governo, na condição de vencedor das eleições, deve apresentar sua agenda. "Vai reduzir imposto? Como? Vai reduzir o gasto corrente? Como? Vai ter aumento de investimento? Como? Eu creio que a oposição vai cobrar esses itens porque as propostas de que vai crescer a 5% são reiteradas. Governo e oposição tem que se preparar para discutir essa agenda do Brasil."