Título: MPEs devem redobrar atenção com o sistema de distribuição
Autor: Terzian, Françoise
Fonte: Valor Econômico, 31/10/2006, Caderno Especial, p. G2

A logística é o calcanhar de Aquiles das micro e pequenas empresas (MPEs) brasileiras. Garantir ao cliente que seu produto estará disponível na prateleira de diferentes redes varejistas nos sete dias da semana é uma promessa de alto risco. A culpa, neste caso, não se refere à linha de produção do fabricante ou à infra-estrutura falha de rodovias, ferrovias e portos do país. O que pesa é a falta de know-how do pequeno empreendedor e a ausência de parcerias com empresas sérias do ramo.

Se até uma grande fabricante de alimentos enfrenta desafios para transportar e distribuir seus produtos em estabelecimentos de todo o país, o que dizer de uma pequena? Quem sente essas agruras na pele é Renato Ferreira de Sousa, dono da Via Delícia, pequena fabricante de pães suecos que atende cerca de 700 clientes localizados em 15 Estados. Com um faturamento mensal de cerca de R$ 100 mil, a empresa sabe que a logística é tão fundamental para o seu negócio quanto a confiança que o consumidor tem no seu produto. "Se você vende e o produto não chega ou chega em desacordo com o que foi firmado, sua credibilidade fica arranhada diante do cliente", afirma Sousa.

Com sede na capital paulista, a Via Delícia cuida diretamente da logística para São Paulo e terceiriza o trabalho para o restante do país. Sousa afirma que seu maior desafio foi encontrar uma transportadora comprometida em oferecer uma logística de qualidade. No passado, ele teve problemas com parceiros que agiam de forma desonesta. Eles mentiam sobre o tipo de veículo usado, o prazo de entrega e o seguro nunca feito das mercadorias. Deste então, Sousa diz que nunca mais fechou um contrato tendo o custo financeiro do processo como fator principal. "Foi um barato que saiu caro", recorda.

Para evitar problemas, é preciso conhecer bem o parceiro, assegurar que ele compreenda os processos da empresa cliente, testá-lo e averiguar se ele conhece o setor que atenderá. Isso significa que entender apenas de logística não é suficiente. Sousa sugere sempre firmar um contrato e solicitar o acompanhamento da carga via Internet. Alecsandro Araújo de Souza, consultor do Sebrae-SP, avisa ainda que quem não ficar de olho no custo e tempo da entrega do operador logístico corre grandes riscos de perder competitividade. "Além de tirar vários orçamentos, verifique se há seguro incluso no serviço, uma preocupação a mais em tempos de inúmeros assaltos a caminhões", alerta Araújo.

Para Leandro Bidin, professor do curso técnico em logística do Senac São Paulo, o grande desafio de contratar um parceiro está justamente em transformá-lo em parceiro. Sua sugestão é analisar as estruturas organizacionais e físicas da empresa, seus indicadores de performance, avaliar o índice de satisfação dos demais clientes, as condições da frota, entre outros detalhes. O crucial, entretanto, é fazer com que ele participe das decisões do cliente, para agregar valor aos projetos e ocasiões específicas como Natal, feriado, entre outras datas.

Cristiano Cecatto, sócio-consultor sênior de logística e supply chain da Qualilog, alerta as MPEs para um fator interessante. Ele explica que, por conta dos varejistas de fast-food, caixas automáticos, entregas noturnas e correio eletrônico, os consumidores têm se acostumado e solicitado produtos e serviços disponíveis em períodos de tempo cada vez mais curtos. Diante das exigências crescentes, as empresas utilizam sistemas melhorados de informação e trabalham com processos de manufatura mais flexíveis. A logística precisa acompanhar tais mudanças.

"A globalização e a internacionalização das indústrias dependerão fortemente do desempenho logístico e dos custos", lembra Cecatto. Isso vem ao encontro do que Bidin defende. Ele acredita que a logística influencia as MPEs por exigir delas as mesmas utilizações de técnicas que permitam um controle mais eficiente dos processos de fabricação, qualidade, transporte e qualidade da informação.

No geral, Bidin acredita que a terceirização pode beneficiar as MPEs, graças às vantagens oferecidas pelos fornecedores de serviços, como otimização do transporte e centros de distribuição bem localizados.