Título: Investimento estrangeiro eleva débito de curto prazo
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 11/05/2007, Finanças, p. C3

A dívida externa de curto prazo voltou a crescer neste ano, puxada por capitais que buscam os altos juros vigentes dentro do país. No primeiro trimestre, as dívidas pública e privada com vencimento em até um ano subiram de US$ 20,192 bilhões para US$ 28,086 bilhões, o maior valor registrado em quase cinco anos.

A maior parte do crescimento se deve a créditos interbancários de curtíssimo prazo, que passaram de US$ 7,3 bilhões para US$ 14,363 bilhões.

O Banco Central explica que a expansão do crédito interbancário está ligada fundamentalmente à ampliação das posições vendidas em câmbio das instituições financeiras.

Em menor escala, também refletem linhas sacadas pelos bancos no exterior para lastrear as suas atividades dentro do país, como a concessão de financiamentos ao comércio exterior.

Os bancos ampliaram em US$ 4,447 bilhões a sua posição vendida em moeda estrangeira no primeiro trimestre, para US$ 6,467 bilhões em março (desde então, subiu ainda mais, para US$ US$ 7,516 bilhões, em abril).

Os bancos venderam esses dólares ao Banco Central, que faz leilões de moeda estrangeira para reforçar as suas reservas internacionais.

Na prática, o que ocorre é que os bancos vendem ao Banco Central moeda estrangeira que ainda não têm em caixa e, para entregar o produto vendido, sacam recursos de bancos no exterior, em linhas de crédito de curtíssimo prazo.

Num momento seguinte, as instituições substituem as linhas interbancárias por captações de longo prazo.

O resultado dessa operação é que hoje uma parcela dos dólares comprados do Banco Central tem origem em capitais de curtíssimo prazo, mais voláteis a mudanças na percepção de risco dos investidores estrangeiros.

Não se chega à situação vivida entre 1995 e 1998, quando mais da metade das reservas era formada por capitais especulativos - o que deixava a economia suscetível a fugas de capitais nos momentos de crise.

Mas não deixa de ser negativo o fato de que um terço do aumento de reservas no primeiro trimestre ocorreu com capital de curto prazo. No período, as reservas internacionais cresceram US$ 23,692 bilhões, enquanto a dívida externa de curto prazo aumento em US$ 7,894 bilhões.

Os altos juros vigentes dentro do país explicam tanto a ampliação da posição vendida em moeda estrangeira das instituições financeiras quanto o aumento da dívida de curto prazo. Os investidores estrangeiros que investem em renda fixa no país estão ingressando sobretudo pelo mercado futuro. Esse movimento reduz a cotação do dólar no mercado futuro e cria oportunidades de arbitragem para os bancos, que vendem dólares ao BC no mercado à vista e compram dólares no mercado futuro.

O BC não nega que uma parcela do aumento das reservas ocorre à custa de capitais de curto prazo. Mas pondera que esse não é o principal fator por trás do acúmulo de moeda estrangeira. No primeiro trimestre, os investimentos estrangeiros diretos somaram US$ 6,6 bilhões, e os investimentos em carteira, US$ 4,8 bilhões, com destaque para a compra de ações nas aberturas recentes de capital em Bolsa.

Os investidores estrangeiros costumam olhar não só o volume de reservas isoladamente, mas a sua relação com outros indicadores externos, como a dívida externa de curto prazo por vencimento residual (que é a dívida de curto prazo mais a dívida de longo prazo que vence nos 12 meses seguintes). É um indicador que mostra se o país seria capaz de honrar seus compromissos imediatos caso o financiamento externo cessasse repentinamente.

A despeito de a dívida de curto prazo ter aumentado, essa relação melhorou. Em dezembro de 2006, as reservas equivaliam a 212% da dívida de curto prazo por vencimento residual; em março, de 2007, o indicador havia subido para 231%. A melhora se deve ao fato de as reservas terem crescido graças ao ingresso de recursos de outras fontes, como investimentos diretos e em portfólio. Mas, se a dívida de curto prazo não tivesse subido, o indicador teria melhorado ainda mais, chegando a 270%.