Título: Stephanes refuta febre aftosa no Paraná
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 11/05/2007, Agronegócios, p. B13

O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, causou polêmica ontem (dia 10) ao afirmar não ter havido febre aftosa no Paraná. "O Paraná perdeu R$ 1 bilhão com uma aftosa que não existiu", disse em audiência pública na Comissão de Agricultura do Senado. Stephanes discorria sobre a necessidade de investir na prevenção e combate à doença. Ao perceber a gravidade da declaração, o ministro tentou minimizar: "Talvez até aconteceu, mas não vamos entrar nesse detalhe".

Em outubro de 2005, o vice-governador do Paraná e então secretário estadual de Agricultura, Orlando Pessuti, anunciou as suspeitas da aftosa no Estado. Depois, tentou voltar atrás, mas já era tarde. Diante da repercussão internacional do anúncio de Pessuti, o Ministério da Agricultura reconheceu a situação com a comunicação sobre focos da doença à Organização Mundial de Saúde Animal (OIE). A partir daí, o governo do Paraná, do qual Stephanes era secretário, passou a atacar de todas as formas a gestão do ex-ministro Roberto Rodrigues, acusando-o de perseguição política e até de querer beneficiar as indústrias de São Paulo. Hoje assessor especial de Stephanes, o então secretário substituto de Agricultura, Newton Pohl Ribas, era dos mais exasperados na defesa da inexistência dos focos.

A declaração de Stephanes também causou mal-estar para o atual diretor de Defesa Animal do ministério, Jamil Gomes de Souza. O veterinário foi um dos mais ferrenhos defensores da existência da aftosa. Ontem, porém, se calou diante da posição do ministro. De fato, ficou comprovado em exames posteriores não ter havido registro do vírus da doença nos bovinos do Paraná, que haviam sido levados de Mato Grosso do Sul, onde houve vários focos de aftosa. O ministério reconheceu a aftosa com base em critérios burocráticos previstos nos manuais da OIE.

Na mesma linha de Stephanes, o atual secretário de Defesa Agropecuária, Inácio Kroetz, fez uma consideração igualmente polêmica no Senado ao criticar a situação sanitária de Mato Grosso do Sul. "Temos dois exemplos [a seguir] para erradicar a aftosa [do Brasil]. O de Santa Catarina, que nos anima muito e o de Mato Grosso do Sul, que nos entristece. Então, cada um escolhe o modelo que quiser", disse. Atento, Stephanes apressou-se em pedir a palavra para colocar panos quentes na declaração de Kroetz. "Só para deixar bem claro que o Mato Grosso do Sul está fazendo seu dever de casa", disse.

O senador Delcídio Amaral (PT-MS), que minutos antes havia elogiado a atuação do ministério em seu Estado, tinha saído da reunião naquele momento. Ontem, o governo editou uma medida provisória para destinar R$ 25 milhões às indenizações aos pecuaristas do Estado e para elevar até 100% a participação da União no financiamento das ações emergenciais de defesa sanitária numa faixa de 150 km da fronteira.