Título: "Greve sem corte de ponto é férias"
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 16/05/2007, Especial, p. A14

Ao abordar os temas sociais, o ex-sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva foi duro com as greves no serviço público, defendeu a ampliação da legislação sobre o aborto, mas pouco acrescentou ao debate sobre as causas do "apagão aéreo". No que se refere à violência, reiterou que o ministro da Justiça, Tarso Genro, está finalizando o PAC da Segurança, disse que o Panamericano do Rio poderá servir como "laboratório" do modelo de segurança ideal.

"Não é possível, e nenhum brasileiro pode aceitar, alguém fazer 90 dias de greve e receber os dias parados, porque, aí, deixa de ser greve e passa a ser férias", declarou o presidente ao se referir à greve de funcionários.

Lula declarou-se pessoalmente contra o aborto, mas disse que "o Estado tem que tratar o assunto como uma questão de saúde pública". Para o presidente, a legislação não trata da realidade do aborto no país. "Às vezes, ficam grávidas e não querem ter o filho. É uma gravidez "indesejada", e não apenas porque foram violentadas. O poder público faz o que? Abandona? Ou o Estado intervém para essas pessoas terem um tratamento adequado?"

O presidente esquivou-se da pergunta sobre o apagão aéreo. Disse que não vai condenar ninguém antes que o resultados das investigações se concluam. Apontou a falência da Varig, o overbooking da TAM, as exigências salariais e a discussão sobre a desmilitarização dos controladores de vôo como ingredientes da crise. E assegurou que vai continuar investindo em obras de modernização dos aeroportos.

Lula prometeu encaminhar em breve ao Congresso o projeto da Lei de Greve, que está sendo debatido pela equipe econômica, pelas centrais sindicais e pelos empresários. E negou que o endurecimento com os grevistas esteja em desacordo com seu passado de sindicalista. "Eu sempre discuti com os meus companheiros servidores públicos que a greve no setor público não deveria ser feita como se faz a greve numa fábrica".

Segundo o presidente, quando os trabalhadores da iniciativa privada cruzam os braços, o objetivo é causar um prejuízo econômico ao patrão, para que este ceda, atenda às reivindicações e, com isso, os trabalhos possam ser normalizados. "No caso do servidor público não tem patrão, e o prejudicado, na verdade, não é o governo, é o povo brasileiro".

O presidente destacou que não há a intenção de coibir os direitos dos servidores públicos. "O que eu quero é apenas responsabilizar o direito de greve. Queremos regulamentar também o contrato coletivo de trabalho para garantir ao servidor público que ele seja tratado democraticamente como qualquer servidor é tratado em qualquer parte do mundo".

Sobre o aborto, Lula disse conhecer casos "de pessoas que perfuraram o útero com agulha de tricô, casos de pessoas que tomaram chá de caroço de abacate, casos de pessoas que colocaram fuligem, e terminavam morrendo. Então, o Estado tem que ter responsabilidade", defendeu o presidente.

O presidente sugeriu que o Congresso, a sociedade civil, os partidos e as emissoras de televisão iniciem um debate sobre o tema. Para o presidente, se houvesse uma educação sexual correta nas salas de aula e dentro de casa, "certamente a gente teria muito menos aborto do que temos hoje". (RC e PTL)