Título: Reduzir desemprego é o maior desafio na Bahia
Autor: Cruz, Patrick
Fonte: Valor Econômico, 29/12/2006, Política, p. A11

O governador eleito da Bahia, Jaques Wagner, assumirá o posto na segunda-feira como um dos nomes do PT mais fortalecidos nas urnas após a surpreendente vitória contra o pefelista Paulo Souto, então candidato à reeleição. Antes mesmo de chegar ao poder, entretanto, teve sinais de que sua relação com a Assembléia Legislativa pode não ser tão amistosa quanto a que teve seu antecessor.

Ao revelar sua equipe de governo, no início deste mês, Wagner anunciou que ampliaria de 17 para 21 o número de secretarias. A medida, que precisava ser aprovada pelos deputados estaduais, foi encaminhada à Assembléia por Souto a pedido do petista. Ao contrário do que ocorreu em todo o mandato do pefelista, no qual invariavelmente não teve dificuldades para ter seus projetos aprovados, os deputados adiaram até o último momento a votação do projeto.

Depois de mais de 16 horas de deliberações entre os deputados e de trabalharem madrugada adentro, o projeto foi aprovado no início da manhã de ontem, ainda que com reticências dos opositores de Wagner. Entre os pontos de discórdia estava o artigo que autoriza o governador a fazer "modificações orçamentárias necessárias", sem ultrapassar o valor global, incluindo a "abertura de créditos especiais" para o funcionamento dos órgãos a serem criados.

Os desacordos entre as bancadas de oposição e situação acabaram por adiar também a votação do orçamento para 2007. Ainda que com beligerância pouco vista ao longo do mandato de Paulo Souto - por conta do desacordo com o projeto de reforma administrativa -, o orçamento foi aprovado. Os R$ 17,275 bilhões previstos para o próximo ano serão 1,7% superiores ao de 2006.

Segundo o relatório de atividades apresentado por Souto na última semana, a próxima administração terá US$ 480 milhões em financiamentos externos para investimentos, valor que corresponde a contratos já firmados pelo Estado. Mesmo que, em termos percentuais, a Bahia tenha registrado crescimento sempre superior à média brasileira nos últimos quatro anos, Wagner enfrentará desafios como o forte desemprego, particularmente problemático no Estado. Na região metropolitana de Salvador, o índice é de cerca de 25%, o mais alto do país.

Jaques Wagner pode ter enfrentado resistência para ver aprovado um projeto seu antes mesmo de tomar posse, mas assumirá o governo baiano na segunda-feira tido como uma das novas estrelas do PT. Além da surpresa da vitória, que contrariou todas as pesquisas realizadas até a última semana de campanha, Wagner protagonizou o simbolismo da derrota do grupo liderado pelo senador Antonio Carlos Magalhães. O carlismo estava no poder na Bahia, de forma ininterrupta, desde 1990.

O valor simbólico da vitória foi mantido, por exemplo, no convite para a cerimônia de posse distribuído por sua equipe, no qual se lê "O dia mais esperado dos últimos 16 anos - posse do governador Jaques Wagner". Com um típico "Axé, Wagner", outdoors espalhados por Salvador desejam sorte ao futuro governador. Sua posse será seguida por apresentações de grupos de música locais.