Título: Fundos oferecem opções de risco
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 29/05/2007, Finanças, p. C1

Pressionado pela queda dos juros e em busca de mais rentabilidade, os fundos de pensão começam a mudar a forma de oferta de planos. Diversas entidades começam a oferecer opções de perfis de risco de acordo com a expectativa de retorno do próprio participante. Dessa forma, conseguem assumir mais riscos na carteira para elevar os ganhos dos ativos administrados.

Uma das primeiras a adotar essa política foi a fundação da Philips. Os funcionários podem escolher entre várias bancos responsáveis pela administração dos investimentos e entre três perfis de investimentos (conservador, moderado e agressivo).

Recentemente, o fundo dos trabalhadores da Votorantim, Funsejem, também criou três perfis de risco com duas metas de rentabilidade distintas, facilitando a administração em buscas das metas mais agressivas de rentabilidades. Outras entidades, como a Fundação Promon de Previdência e o fundo dos empregados da Odebrecht, Odeprev, preparam a migração dos planos para modelos semelhantes.

Essa tendência ganha força com a movimentação das fundações em busca de mais retorno em um cenário de queda das taxas de juros. Estudo da RiskOffice mostra a Selic atual já compromete as metas. "Anteriormente, bastava que os investimentos fossem realizados em CDI ou em títulos públicos ligados a inflação, como o NTN-B e NTN-C", explica o sócio-diretor da consultoria, Fernando Lovisotto.

O presidente da Associação dos Fundos de Pensão de Empresas Privadas (Apep), Paulo Tolentino, explica que essa foi uma das saídas encontradas pelas fundações para assumir mais riscos, sem comprometer os retornos. "Isso tem sido muito falado entre os fundos e uma boa quantidade deles estuda adotar diferentes perfis de riscos", afirma Tolentino, que também é responsável pelo fundo da Odebrecht.

A possibilidade surgiu com a migração dos fundos para os planos de contribuição definida, que se intensificou nos últimos anos. Segundo sócio da RiskOffice, cerca de 40% deles já aderiram a essa nova modalidade. A maior flexibilidade nas metas nesse modelo é que permite a adoção de diferentes perfis de risco.

O secretário de preferência complementar, Leonardo Paixão, vê com bons olhos essas mudanças e a liberdade para a formatação dos planos. Segundo ele, há de fato uma perspectiva de flexibilidade dos fundos já que os planos de contribuição definida podem ter menos exigências atuariais.

No caso da Funsejem, explica o diretor superintendente da entidade, Paulo Roberto Pisauro, a meta para quem opta pelo perfil agressivo é de 115% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI), acima das metas dos casos, conservador e moderado. A diferença está, basicamente, na alocação dos ativos.

"Os recursos foram divididos em dois grupos: um de gestão conservadora e outro de administração agressiva para otimizar o volume de recursos por fundo e o controle de custos", diz o executivo.

O sócio-diretor da Luz Engenharia Financeira, Edivar Queiroz Filho, responsável pela nova estrutura do fundo da Votorantim, afirma que outras entidades podem aderir em breve. "Já tivemos consultas de outras fundações interessadas em migrar para esse modelo", diz.

Um dos fundos que estudam essas mudanças é o próprio Odeprev, do grupo Odebrecht, enfatiza Tolentino. "O processo é longo e é preciso avaliar com calma as mudanças, pois mexe com o futuro das pessoas, mas a alteração está sendo avaliada pelos conselheiros e deve passar pela aprovação dos participantes", explica o executivo. A migração pode demorar entre quatro e cinco meses.

Já o fundo da Promon pretende implantar o modelo até o fim deste ano, afirma o diretor executivo da Fundação Promon de Previdência, Mário Ribeiro. Segundo ele, além da criação de diferentes perfis, a entidade estuda ainda poder oferecer um cardápio de modalidades de investimentos, como fundos multimercados e bolsa. "Essas medidas aproximam os participantes da gestão do fundo e ampliam ainda mais a transparência".

Além da busca por mais rentabilidade, as fundações se preparam para reduzir as metas atuariais para conseguir fechar a conta no fim do ano. O problema dessa saída é que para atender à nova taxa, o patrimônio sofre um impacto e precisa de capital, explica o diretor da Promon.

Isso porque quando são calculados os recursos para se pagar os benefícios ao longo do ano, é trazido para valor presente o montante em relação a meta, por exemplo, 6% mais variação do INPC. Quando a meta é reduzida para 5% (mais INPC), como foi o caso da Promon, a necessidade de ativos sobe 20%.