Título: Dilma retoma todos os poderes no ministério
Autor: Costa, Raymundo e Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 25/05/2007, Política, p. A7

A ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, retomou na prática o comando do Ministério das Minas e Energia. Ela é a principal fiadora da indicação do engenheiro Márcio Pereira Zimmermann para o lugar de Silas Rondeau, que deixou o cargo sob a suspeita de receber propina da empreiteira Gautama. Ao contrário de seu antecessor, Zimmermann não tem qualquer relação com o PMDB do Senado, muito menos com os senadores José Sarney (AP) e Renan Calheiros (AL), que resolveram "adotar" a indicação para permitir uma solução rápida para a crise e reduzir os danos políticos provocados com a acusação feita ao ex-ministro Silas Rondeau.

É o segundo ministro que o PMDB é forçado a "adotar" pelo Palácio do Planalto. O primeiro foi José Gomes Temporão, escolha pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o Ministério da Saúde, cargo para o qual os pemedebistas queriam indicar um deputado, como era o ex-ministro Saraiva Felipe. A "adoção" de Temporão foi feita pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, a pedido de Lula. O PMDB da Câmara não teve como se opor à nomeação, mas foi compensado com a indicação de deputados da bancada para os ministérios da Integração Nacional e da Agricultura.

Desde o primeiro contato que teve com a cúpula do PMDB do Senado, quando ainda analisava a possibilidade de tirar Rondeu, Lula disse que esperava do PMDB a indicação de um político com perfil técnico ou de um técnico com alguma relação política. Entre um político e um técnico puros-sangue, preferiria o técnico. O PMDB ainda testou nomes técnicos com perfil político, mas logo se deu conta de que eles não seriam viáveis e "adotou" o nome de Zimmermann, um técnico que sabiam ser ligado a Dilma.

A ministra, na realidade, nunca deixou de ter controle sobre o setor elétrico. Zimmermann, que foi levado por ela para a secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Energético se tornou sua principal referência no Ministério das Minas e Energia quando ela foi para a Casa Civil. Quando os senadores do PMDB resolveram adotar Zimmermann, a ministra prontamente avalizou a indicação para Lula.

O presidente chegou a pedir a apresentação de um segundo nome para a cúpula do PMDB, como precaução. Mas os senadores ontem avaliavam desnecessário levar uma opção de fachada ao presidente, diante do aval de Dilma à solução encontrada. Para o PMDB do Senado, a negociação com presidente está encerrada. Só dependeria de Lula agora a confirmação e o anúncio do nome do novo ministro. Para os pemedebistas a solução, embora não fosse a ideal, deve estancar o processo de desgaste da imagem de senadores como Sarney e Renan, a divisão que já começava a aparecer no partido e contém o ímpeto do PT em recuperar a Pasta. Zimmermann é considerado do "PD" - Partido da Dilma.

No meio da tarde de ontem o atual secretário de Planejamento e Desenvolvimento Energético do Ministério de Minas e Energia esteve no Planalto, mais precisamente na Casa Civil. Conversou por cerca de meia hora com a ministra Dilma Roussef, a quem é ligado. Ambos já trabalharam juntos durante a gestão de Olívio Dutra no Rio Grande do Sul. Zimmermmann também é o representante do MME nas reunião sobre o PAC.

Segundo pessoas próximas a Zimmermann, o tema da conversa não foi o Programa de Aceleração do Crescimento, mas sim, sua indicação para comandar o MME. O anúncio do novo ministro só não teria ainda ocorrido porque Lula avalia a reação do setor elétrico e do mercado, para verificar se existe algum tipo de restrição. O presidente quer se precaver de surpresas ou a repetição da novela Odílio Balbinotti no Ministério da Agricultura - Zimmermann também está sendo examinado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

No final da manhã, a resposta de Lula aos questionamentos sobre a substituição de Rondeau era lacônica: "Quando estiver decidido, eu comunico". Alguns pemedebistas apostam no anúncio hoje; outros, apenas semana que vem. "O presidente apenas nos disse que tudo estava bem encaminhado", disse um líder.

Lula falou sobre a demissão de Silas Rondeau na reunião do Conselho Político. Segundo presentes, ele teria dito que foi "muito duro ter afastado do governo um homem de bem". E que não crê que Silas recebeu dinheiro público.

O preenchimento dos cargos para o segundo escalão do setor elétrico é considerado uma outra etapa, pelos senadores. Mas a indicação de um técnico para um posto que é político, como o de ministro, pode dificultar a nomeação de políticos com perfil técnico como o de Luiz Paulo Conde, que o PMDB da Câmara quer no comando de Furnas. Lula se reúne o deputado Michel Temer, na próxima semana para tratar de uma dezena, de indicações pemedebistas.