Título: Depois dos grãos, oeste da Bahia atrai pecuária bovina de corte
Autor: Cruz, Patrick
Fonte: Valor Econômico, 04/06/2007, Agronegócios, p. B14

A região oeste da Bahia, pólo do agronegócio que se notabilizou na última década pela crescente produção de grãos, tem assistido agora ao florescimento da pecuária. O preço ainda relativamente baixo das terras, a utilização do gado na rotação de culturas e a facilidade para comercialização estão entre os motivos que explicam o avanço da atividade na região. No ano passado, o rebanho de bovinos da região superou pela primeira vez a marca de dois milhões de cabeças.

Segundo a Agência de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab), o rebanho do oeste baiano passou de 1,263 milhão para 2,141 milhões de cabeças entre 2001 e 2007, um avanço de 70%. "A pecuária não vai substituir o cultivo de grãos. Ela deve permanecer como uma atividade secundária na região, mas o crescimento é muito forte e tem ocorrido muito recentemente", diz Humberto Santa Cruz, presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Aiba).

A pecuária não é uma atividade recente na Bahia, mas sempre concentrou-se na região do Vale do São Francisco. Agora, além do Vale, a atividade ganha fôlego também no cerrado. O município de Angical, por exemplo, a 887 quilômetros de Salvador, fica na microrregião de Barreiras, grande centro produtor de grãos do cerrado baiano. O rebanho do oeste cresceu 70% desde 2001, enquanto o de Angical subiu 124%, para quase 100 mil cabeças. Luís Eduardo Magalhães, outra das cidades de referência na produção de grãos no oeste baiano, viu seu plantel de bovinos aumentar 82% no mesmo período.

O avanço da atividade abre também espaço para o restante da cadeia da pecuária de corte. Há três anos, não havia frigoríficos na região. O Fribarreiras, localizado em Barreiras, foi o primeiro a ser criado. Há um mês começaram as operações do Frigorífico Boi do Cerrado, que fica em Santa Maria da Vitória. A capacidade de abate somada dos dois é de 1.700 bovinos por dia.

A rentabilidade do gado é menor que a das culturas mais tradicionais na região, como algodão e soja, mas a criação ajuda a contrabalançar perdas com os grãos, diz Antônio Balbino, presidente da Associação dos Criadores de Gado do Oeste da Bahia (Acrioeste). "O histórico mostra que, a cada dez anos, a área de cerrado no Estado tem dois anos de veranico", afirma. "O gado não rende como os grãos, mas limita as perdas quando a safra é ruim. É quase como uma reserva de capital", afirma.

O argumento de Balbino ajuda a explicar o salto de 35% no número de cabeças entre 2005 e 2006 - foram mais de 500 mil cabeças de um ano para o outro, o maior crescimento nominal neste década. Em 2006, o oeste da Bahia sofreu com uma estiagem entre janeiro e fevereiro, período de desenvolvimento das plantas das principais culturas da região. Em abril, na época da colheita, o excesso de chuvas também atrapalhou o desempenho dos grãos.

O avanço da cana-de-açúcar em São Paulo também atraiu para o oeste baiano tradicionais criadores de gado bovino do Estado. Caso das Agropecuária Jacarezinho e da CFM que decidiram investir na pecuária bovina no oeste da Bahia para aumentar o plantio de cana em terras paulistas antes ocupadas com pastagens. A Jacarezinho já transferiu 15 mil animais para a região.

"A pecuária é uma atividade de alta liquidez. Ela é de ciclo longo, mas de baixo risco. É quase como ter um cheque em branco na mão", diz Alcides Viana, da AVGN, empresa que presta consultoria técnica aos pecuaristas da região. O gado baiano tem um trunfo extra, complementa André Dal Maso, supervisor técnico da Tortuga: não são registrados casos de febre aftosa no Estado há dez anos.

O crescimento da criação de gado no oeste da Bahia também levou os pecuaristas a organizar o primeiro leilão de animais da Agrishow, feira itinerante de venda maquinário agrícola que tem Luís Eduardo Magalhães como uma das sedes. O evento encerrou-se na última semana. O leilão de reprodutores e matrizes fêmeas movimentou R$ 1,2 milhão. (Colaborou AAR, de São Paulo)