Título: É preciso treinar melhor o planejador financeiro
Autor: Aguilar, Adriana
Fonte: Valor Econômico, 04/06/2007, Caderno Especial, p. F7

É comum uma pessoa entrar na agência bancária em busca de orientação sobre como aplicar o dinheiro e, em troca, o gerente empurrar vários produtos ou passar uma "tonelada" de informações que, dificilmente, são assimiladas. A pessoa acaba saindo do banco com mais dúvidas. Diante do aumento do interesse sobre o mercado de ações, como as instituições financeiras estão se preparando para orientar a vida financeira das pessoas preocupadas em fazer uma poupança? Essa foi a pergunta feita pelo jornalista Carlos Alberto Sardenberg aos representantes de importantes instituições do mercado, em ordem alfabética, ABN AMRO Real, Claritas Investimentos, Itaú, Hedging Griffo e UBS Pactual, durante o 4º Congresso de Anbid, em São Paulo.

Quando se trata do investidor qualificado, é possível oferecer o serviço de aconselhamento personalizado, pois se trata de um público restrito. Mas, no segmento de varejo, a situação é mais complicada, explica a CEO do ABN AMRO Asset Management Latin America, Luciane Ribeiro.

O serviço de planejador financeiro vai crescer nas instituições de varejo. "À medida que a taxa de juro vai caindo, cada vez mais, a presença deste profissional para avaliar o perfil do cliente e, depois, indicar o produto adequado a ele, se faz necessária", diz Luciane.

O treinamento mais intensivo para transformar o gerente, que só oferece produtos, em planejador financeiro é uma das saídas apontadas pelos executivos dos bancos. "Já cumprimos as certificações CPA-10 e CPA-20", afirma o diretor sênior do Banco Itaú, Alexandre Zákia Albert. Agora, a exigência do CPA-30 servirá para treinar o profissional do banco a orientar o investidor nas aplicações adequadas, de acordo com o perfil de cada um, explica.

O programa de certificação serve para aumentar a capacitação dos profissionais do mercado de capitais que têm contato direto com os investidores para a oferta de produtos bancários. Trata-se de uma iniciativa da comissão de auto-regulação da Anbid.

No caso da CPA-10, é voltada aos profissionais que ficam em agência bancárias em contato direto - presencial ou à distância - com os clientes para a oferta de produtos. Já a CPA-20 é dirigida aos profissionais que atuam com produtos de investimento para o segmento qualificado, que não estão nas agências bancárias.

Zákia avalia o treinamento CPA-30 como parte de um processo natural para ter a figura do planejador financeiro. "Ajudaria os clientes a investirem de acordo com o perfil e fase da vida em que se encontram", concorda Luciane Pinheiro. A preocupação com as aplicações aumenta neste cenário de "euforia" em relação ao mercado de ações.

O diretor do banco UBS Pactual, Rodrigo Guedes Xavier, lembra que cada 1% que sai da renda fixa e segue para o fundo de ações no mercado brasileiro, representa o deslocamento do montante aproximado de R$ 10 bilhões. Também explica que em países mediterrâneos, como Espanha e Grécia, o patrimônio dos fundos de ações representava 5% do total de fundos no passado. Com a queda dos juros, passaram a ocupar 45% do patrimônio total.

Por enquanto, no Brasil, o patrimônio dos fundos de ações corresponde a cerca de 10% do total de recursos presentes nos fundos, segundo dados da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Mas, já dá para notar um crescimento bem interessante.

De dezembro de 2005 a abril de 2007, o patrimônio líquido dos fundos de ações aumentou 75,2% - foi o maior percentual obtido dentre todas as outras classes de fundos. Em segundo lugar, ficaram os multimercados, com 49,9%. Quase na lanterna, estão os fundos de renda fixa, com 28,1% de variação no patrimônio no período. Por último, vêm os referenciados, com 11,8%.

Além de registrar significativa evolução de patrimônio no curto período (16 meses), os fundos multimercados também se destacam pelo volume. Em abril de 2007, segundo dados da CVM, apresentavam R$ 207 bilhões. Só perdendo para os fundos de renda fixa, com R$ 491 bilhões.

Nesta fase de otimismo do mercado de capitais, seja em relação aos fundos de ações e aos multimercados, o sócio-diretor da Hedging Griffo, Luiz Stuhlberger, se preocupa mais com a reação do investidor em relação ao multimercado diante de um suposto cenário de queda.

Com a experiência acumulada em crises passadas, Stuhlberger percebeu que a decepção do investidor foi maior com o multimercado. "Na bolsa, se as ações caem, há uma sensação de posse sobre os papéis. A educação do investidor também o leva a aceitar a queda na bolsa de maneira mais natural".

Apesar dos receios em relação às possíveis reações que o investidor possa ter, é consenso entre os profissionais do mercado que os fundos multimercados, cada vez mais, estão se sofisticando. Há cinco anos, era visto como um investimento agressivo. Hoje, as pessoas reconhecem a flexibilidade deste tipo de aplicação. "Muitos multimercados quebraram. O exemplo serviu de aprendizado e a área de risco das instituições foi aperfeiçoada", afirma Carlos Ambrosio, sócio da Claritas Investimentos e coordenador da subcomissão de multimercado e renda variável da Anbid.