Título: Copom reforça a expectativa de novos cortes de 0,5 ponto na Selic
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 15/06/2007, Finanças, p. C2

A ata da reunião da semana passada do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada ontem, reforçou os argumentos dos analistas do mercado financeiro que projetam pelo menos mais dois ou três cortes de 0,5 ponto percentual na taxa básica de juros. Mas não trouxe, por outro lado, nada de novo que pudesse mudar as previsões de uma minoria dos observadores econômicos que aposta em apenas 0,25 ponto.

Como já era esperado, a ata diz que o Copom resolveu intensificar na semana passada o ritmo de cortes de juros, de 0,25 para 0,5 ponto percentual , porque a valorização do câmbio e o aumento da importação ajudam a manter a inflação sob controle. Não houve surpresas também nas ponderações dos 2 dos 7 membros do comitê que votaram por um corte de apenas 0,25. Para eles, a demanda agregada já está aquecida, parte dos estímulos monetários ainda não tiveram efeito pleno sobre a economia e há incerteza sobre como os cortes de juros irão afetar a inflação.

O que há de novo na ata é um entendimento consensual do BC de que os dois fatores acima - câmbio e aquecimento da economia - se exacerbaram, atuando em direções opostas. "O setor externo, que vem atuando de forma importante para ampliar a oferta agregada, continua tendo influência predominantemente benigna sobre as perspectivas de inflação, ao passo que o ritmo de expansão da demanda doméstica pode colocar riscos para a dinâmica inflacionária no médio prazo", diz a ata.

Os cinco membros que votaram por um corte de 0,5 acham que o fator externo é mais importante. Eles consideram, segundo a ata, que sua contribuição "poderá ser maior do que a inicialmente contemplada, especialmente pela disciplina exercida sobre os preços dos bens transacionáveis e por meio da ampliação da dos investimentos, em um ambiente de demanda aquecida". Os dois membros que saíram vencidos lembram que a a expansão da demanda ocorre não apenas entre os bens transacionáveis, mas também entre os não transacionáveis - ou seja, há também procura por bens que não podem ser importados.

A ata faz várias referências ao grau de aquecimento da economia. Assinala, em especial, que os indicadores da Confederação Nacional da Indústria (CNI) para abril mostravam que 15 em um total de 19 setores industriais pesquisados operavam acima das respectivas taxas médias de utilização da capacidade produtiva. "Tendo em vista o comportamento recente das taxas de utilização da capacidade, a continuidade da expansão do investimento será fundamental para evitar descompassos relevantes no que se refere à evolução da oferta e da demanda agregada." Mais adiante, o Copom reconhece que fez opção dentro de um balanço de risco, atribuindo peso maior ao fator externo do que à demanda aquecida, e deixa porta aberta para mudar de opinião, afirmando que o cenário de incerteza exige que a política monetária se mantenha "especialmente vigilante".

O estrategista sênior para a América Latina do banco WestLB, Roberto Padovani, acha que o principal fator que possibilitou ao BC intensificar o corte de juros foi a melhora dos índices de inflação corrente. Ele lembra que a ata de abril ainda era pontuada com referências à pressão inflacionária ocorrida no início do ano - assunto que não está presente na ata de ontem. Padovani acredita que o BC fará mais dois cortes de 0,5 nos juros, hoje fixados em 12% ao ano, retomando depois o ritmo de 0,25.

"Existe o consenso entre os membros do Copom de que a economia está aquecida, mas não sobre como isso vai chegar à inflação", afirma. "Os índices de inflação corrente que serão divulgado daqui por diante vão ser fundamentais para determinar se, realmente, o Copom vai manter o ritmo de 0,5." Avaliação semelhante tem o economista-chefe da Mauá Investimentos, Caio Megale. "O fiel da balança vai ser a inflação corrente", afirmou ele, que aposta em três cortes de 0,5 ponto.