Título: Parceria com Lula ajudou recuperação
Autor: Santos, Chico
Fonte: Valor Econômico, 26/12/2006, Especial, p. A12

Paulo Hartung acha que o histórico do seu primeiro mandato lhe dá autoridade para levantar temas polêmicos, como considerar intocáveis a Lei de Responsabilidade Fiscal e os contratos das dívidas dos Estados com a União. "Acho que um governador falar isso é importante, mas um governador que pegou um Estado endividado, quebrado, tomado pela corrupção e pelo crime organizado e que conseguiu fazer a reorganização sem confrontar a LRF e pagando rigorosamente a dívida com a União pode ainda mais falar em propor uma agenda sem mexer nesses dois pilares".

Para o cientista político capixaba João Gualberto, o segredo do sucesso de Hartung foi ter proposto "um programa óbvio, reconstruir o Estado", e ter conseguido cumprir esse programa. Segundo ele, o Espírito Santo vinha de três experiências administrativas muito ruins, começando pelo governo Albuíno Azeredo (1991-1994), eleito pelo PDT, passando pela frustração com o petista Victor Buaiz (1995-1998) e culminando com o tucano José Ignácio Ferreira (1999-2002) que "consolidou a fragilidade do executivo e deixou o governo crivado de denúncias de corrupção".

Gualberto narra que, eleito em 2002, Hartung buscou ampliar o arco de alianças, associando-se ao PT para eleger o presidente da Assembléia Legislativa do Estado e conseguiu do presidente Lula a antecipação dos royalties que lhe deu o ponto de partida para a recuperação das finanças. Recuperando a capacidade de investir, segundo o cientista, o governador fez muitos investimentos no interior e conseguiu na eleição deste ano o apoio da maioria esmagadora dos prefeitos dos 78 municípios capixabas.

Depois de amargar os dois primeiros anos purgando as mazelas, o governo do Espírito Santo conseguiu investir R$ 400 milhões em 2005, dobrou o número neste ano e promete R$ 1 bilhão para 2007, um número próximo a 20% da receita estadual. Hartung inicia um novo governo com um arco de alianças ainda maior do que o do primeiro mandato. Ao apoiar a eleição de Renato Casagrande (PSB) para o Senado, o governador uniu em torno da sua candidatura do PSDB ao PT, deixando na oposição praticamente apenas o PDT, partido do candidato derrotado ao governo, Sérgio Vidigal, e da principal liderança oposicionista hoje no Estado, o ex-governador Max Mauro, derrotado por Casagrande para o Senado.

Mauro disse ao Valor que o sucesso de Hartung está relacionado, primeiramente, com o "fracasso total" do seu antecessor, José Ignácio Ferreira, e em segundo lugar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que ao fazer a antecipação dos royalties permitiu o pagamento dos funcionários e a recuperação da capacidade de investimento do Estado. Segundo o líder pedetista, Hartung cooptou os partidos com uma política do "é dando que se recebe" e governou praticamente sem oposição.

Nesse contexto, de acordo com Mauro, o lançamento da candidatura de Sérgio Vidigal pelo PDT foi mais um ato de resistência do que uma disputa propriamente dita. O ex-governador afirma ainda que as boas perspectivas do Estado na área econômica para os próprios anos devem-se mais a iniciativas de empresas há muito instaladas no Espírito Santo, como a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e a Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), e à "sorte" da descoberta de novas províncias petrolíferas pela Petrobras do que à gestão de Hartung.

Apesar do discurso virulento do principal líder da oposição, não quem acompanha a política capixaba de perto acredita, não no apoio, mas em uma oposição construtiva por parte do PDT. O deputado estadual reeleito César Colnago (PSDB), atual presidente da Assembléia Legislativa do Estado, que tem ligações pessoais com Mauro e o considera um adversário sério e correto, vem trabalhando nos bastidores para aparar as arestas e garantir uma boa convivência entre oposição e situação. Hartung já disse que está aberto até a convidar oposicionistas "competentes e honestos" a colaborar com o seu segundo governo. (CS)