Título: Palocci finge ser o que não é
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 03/01/2011, Política, p. 2

Mais importante assessor de Dilma na Esplanada, ministro da Casa Civil tenta diminuir a importância do próprio trabalho

O ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, até parece não querer carregar o fardo de ser o principal nome do governo da presidente Dilma Rousseff. Ele tentou passar a imagem de que a pasta é apenas órgão de assessoramento e não a número um da Esplanada. Durante os 20 minutos da cerimônia de transmissão de cargo, o petista também buscou passar a mensagem de que é mais um no time, sem opinião, autonomia ou mesmo liderança na negociação com o Congresso Nacional. Nada mais frágil.

O discurso formal de ontem de Palocci foi para a plateia. Palocci terá uma importância maior do que tenta deixar transparecer. Terá, por exemplo, acesso privilegiado a Dilma praticamente todos os dias. Mas tal coisa não foi abordada, sequer lembrada no cerimônia. O ministro tentou se igualar aos demais colegas da Esplanada. ¿Esperem todo apoio, diálogo franco, sou mais um da equipe, mais um do time. Meu esforço será expressar adequadamente as ordens da presidente Dilma¿, disse.

Colocar-se como um nome sem importância contrasta com as tarefas que o ministro teve na campanha da petista e nos primeiros três anos do governo Lula como titular da Fazenda. Palocci assumiu o posto de principal interlocutor da presidente nas conversas com políticos, empresários e financiadores de campanha. Na montagem do governo, foi ouvidos e olhos de Dilma. Também conversou com ministros, sondou políticos para compor a Esplanada e, por fim, chefiou a equipe de técnicos de transição.

Até abandonou a ideia de disputar a eleição para se dedicar à vitória da petista. Um exemplo é o convite ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, a permanecer no cargo. Palocci perguntou se o peemedebista tinha interesse em continuar, ouviu como resposta o seguinte: ¿Quem tem que ter interesse é o governo, não eu.¿ Coube ao novo ministro da Casa Civil colocar panos quentes e reverter a situação. Jobim acabou topando.

E, para a Defesa, a Casa Civil perderá atribuições. O Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam) será de responsabilidade dos militares a partir de agora. Outros três ministérios receberão tarefas que até 31 de dezembro estavam na antessala da Presidência da República. Parte da negociação do governo foi abraçada pelo Planejamento, com o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Minha Casa, Minha Vida. A Secretaria de Administração passa a ser comandada pela Secretaria-Geral e o Arquivo Nacional, pela Justiça. ¿Fica à Casa Civil, a tarefa de dedicação, assessoramento e apoio à Presidência.¿

Essa imagem de assessor veio com uma ordem aos servidores da pasta que passa a chefiar. Palocci, bem ao estilo de avesso a entrevistas que cunhou na campanha eleitoral, os proibiu de emitir opiniões. ¿Nenhum servidor está autorizado a falar sobre assuntos específicos de outras pastas¿, afirmou. ¿A Casa Civil não é um ministério fim, não deve expressar opiniões e ter vontade própria. Não cabe emitir opiniões sobre outras coisas¿, acrescentou o ministro. Aos assuntos que envolvem ao ministério, prometeu abertura e transparência. ¿Serei econômico em entrevistas e só farei com a ordem da minha chefe, a presidente Dilma¿, disse.

Palocci não quer sobrepor-se aos colegas chegando como um superministro. Nessa estratégia de ter mais espaço para trabalhar sem o importúnio dos repórteres e fora dos holofotes, buscou afastar-se de responsabilidades na negociação com o Congresso. ¿A interpretação de que a Casa Civil terá atuação política não é real. Essa tarefa caberá à Secretaria de Relações Institucionais e esta Casa Civil estará pronta para ajudar o ministro Luiz Sérgio¿, afirmou e dirigindo-se a Sérgio, falou: ¿Conte com o meu apoio, mas a bola é toda sua¿. Mas a presidente já o escalou para fazer a negociação, pelo menos, com governadores e prefeitos.

É inegável que Antonio Palocci é o principal consultor político de Dilma. A partir de hoje é quem tem mais acesso à presidente, além de participar das reuniões de coordenação que traçam a estratégia semanal do Planalto. Qualquer opinião de Palocci sobre os gastos públicos será dada à presidente.

Como argumento para falar que virou um assessor sem autonomia, o novo chefe da Casa Civil não deu nenhuma diretriz do que pretende fazer ou do que pensa. Limitou-se a listar as determinações de Dilma para desenvolver a economia do país, eliminar a pobreza, manter a estabilidade de preços e melhorar a eficiência dos gastos públicos, acabar entraves ao empresariado e ao empreendedorismo. E, por último, combate à corrupção e à transparência. Esqueceu de dizer, no entanto, que ele mesmo é fiador do ajuste nas contas públicas a ser feito este ano.

Até na escolha do secretário-executivo, Palocci fugiu da política. Ele escolheu o atual subchefe de assuntos jurídicos da pasta, o advogado Beto Vasconcelos. O antigo titular da pasta Carlos Esteves Lima ocupará o cargo de assessor especial do ministro.

Fazenda Antonio Palocci deixou o Ministério da Fazenda sob denúncia de participar da quebra de sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa. O Supremo Tribunal Federal o inocentou da acusação. Com isso, iniciou-se uma articulação encabeçada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para reerguer politicamente o antigo assessor.

Secretaria-Geral Com essa proposta de economia em palavras, entrevistas e tentando diminuir o holofote no futuro governo, Antonio Palocci abre espaço para o novo ministro da Secretaria-Geral, Gilberto Carvalho, ser o principal interlocutor da presidente Dilma Rousseff, servindo como termômetro das políticas públicas e das iniciativas da Presidência.

Congresso Durante a montagem do governo, uma tarefa pensada para Palocci foi a negociação política. Pensou-se justamente nele para fazer um contraponto ao papel de Temer. Havia um temor de que o futuro chefe de Relações Institucionais, Luiz Sérgio, não teria peso político ou respeitabilidade entre deputados, senadores e governadores.

Compromisso Depois da agenda com Antonio Palocci e Guido Mantega, a presidente Dilma Rousseff terá encontros institucionais com os presidentes da Câmara, Marco Maia (PT), do Senado, José Sarney (PMDB), e do Supremo Tribunal Federal, Cezar Peluso. Ela encerra o dia com a tradicional reunião de coordenação política para a primeira semana de governo.

Análise da notícia O principal conselheiro

Ao usar o discurso de posse para enxugar as atribuições no governo da presidente Dilma Rousseff, o ministro Antonio Palocci acabou descrevendo as linhas gerais das atribuições do Chief of Staff da Casa Branca, cargo que foi tratado simploriamente como homólogo à Casa Civil durante os oito anos do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas que tinha pouca semelhança.

Agora, ganha similaridade. O cargo de chefe da equipe da Casa Branca é considerado o principal conselheiro do presidente norte-americano, assim como Palocci. Ele não é executor de política, mas um dos cérebros do governo, assim como Palocci. O presidente Barack Obama escolheu como primeiro Chief of Staff seu principal assessor político da campanha Rahm Emmanuel. E essa é uma comparação possível: o trabalho que Emmanuel fez na campanha de Obama pode ser sintetizado na figura de Palocci ¿ ele também tinha atribuições que eram tocadas por José Eduardo Dutra, presidente do PT, e do hoje ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.

Não vem ao caso fazer comparações entre a importância de Palocci e os ministros da Justiça, Defesa, Saúde, Planejamento e Fazenda. Mas ele terá acesso aos ouvidos da presidente para dar opiniões sobre todos os assuntos. Claro que num regime presidencialista, ninguém tem mais poder ou manda mais do que um presidente ¿ não existe superministro, mas existe assessor número um. E pela primeira vez esse assessor não terá a responsabilidade de ser gerente, como era Dilma. Terá mobilidade de atuação ¿ inclusive na negociação com governadores, prefeitos, senadores e deputados. (TP)