Título: UBS Pactual estréia e terá banco no México
Autor: Adachi,Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 04/12/2006, Finanças, p. C10

Começa a operar hoje o banco de investimento UBS Pactual, resultante da compra do brasileiro Pactual pelo suíço UBS. A instituição, que nasce concorrendo à liderança do segmento no país, participa da maior operação do ano do mercado brasileiro - a compra da mineradora canadense Inco pela Companhia Vale do Rio Doce -, ao mesmo tempo em que se prepara para avançar sobre o mercado mexicano.

No mês passado, o UBS Pactual obteve licença do Banco Central do México para abrir um banco naquele país - até agora, o UBS tinha apenas um escritório de representação.

"Há condições de replicar lá uma plataforma semelhante à que temos no Brasil e a oportunidade de crescimento é excelente", afirmou André Esteves, CEO do UBS Pactual, que comandará a operação do banco suíço para toda a América Latina.

Em entrevista ao Valor poucas horas depois de completar na última sexta-feira a operação de venda de seu banco aos suíços, Esteves comentou que, ao mesmo tempo em que a economia mexicana é mais aberta que a brasileira, há segmentos de mercado menos desenvolvidos. "O setor de administração de recursos está no estágio em que estávamos há dez anos", disse, para justificar a oportunidade que enxerga.

O UBS Pactual acaba de atingir a cifra de R$ 50 bilhões de recursos administrados, o que o coloca entre os sete maiores, à frente até mesmo de alguns bancos de porte do varejo.

Outra área que interessa muito ao banco, dada a tarimba do antigo Pactual, é a de operações com renda fixa. "Por mais que esse mercado seja aberto no México, a nossa tecnologia, mais adaptada a mercado emergente, é uma vantagem competitiva grande."

As diversas áreas do UBS Pactual no México estarão subordinadas aos executivos brasileiros de cada uma delas e, em última instância, a Esteves. O time que o UBS já tinha baseado no país agrada bastante e vai continuar, somado a alguns nomes que estão sendo enviados do Brasil.

Também na Argentina há planos de expansão. "Gostamos do país", disse Esteves. "Sem a escala mexicana ou brasileira, mas é uma operação importante."

Mesmo com tantos planos para além da fronteira, o novo banco não quer perder o foco e isso se refletirá no plano de negócios para 2007 que está em elaboração. "A grande oportunidade de crescimento na América Latina está no Brasil e essa foi a razão do investimento feito pelo UBS, que isso fique claro."

O desenvolvimento do mercado financeiro brasileiro, que tem sido "estupendo" nos últimos anos, promete ser "excepcional" no próximo, nas palavras de Esteves.

Para surfar essa onda, o banqueiro considera que o UBS Pactual "larga muito bem posicionado". "Agora somados, devemos ser iguais ou um pouco maiores que o Credit Suisse", arriscou. O CS é o único banco de investimentos de perfil semelhante ao UBS Pactual no país, com a placa internacional somada a uma expressiva presença local.

"Não deixamos nada do Pactual na mesa e só agregamos muitas coisas ao nos juntarmos ao UBS", avaliou. O caso da operação da Vale do Rio Doce, em sua opinião, é a perfeita tradução desse conceito. "Como Pactual apenas, nunca teríamos condições de emprestar US$ 4 bilhões à Vale; da mesma forma, o UBS não teria capacidade para gerenciar o refinanciamento da compra no mercado local ", disse, referindo-se à enorme colocação de debêntures da Vale, que, segundo estimativas de mercado, deve ficar próxima de R$ 7 bilhões.

Esteves desconversa quando o tema surge, mas no mercado financeiro é dado como certo que o UBS Pactual também acaba de fechar um empréstimo superior a US$ 1 bilhão à Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), como parte do pacote financeiro para a oferta de compra da mineradora anglo-holandesa Corus.

Do total de pelo menos US$ 8 bilhões que a CSN precisará para formalizar sua oferta, US$ 2,5 bilhões deverão ser tomados pela empresa no Brasil. A fatia maior será um financiamento externo à própria Corus (aquisição alavancada).

Na última sexta, junto com a finalização da venda do Pactual para o UBS, foi feita também a liquidação financeira da primeira parcela do pagamento. Os sócios do antigo Pactual colocaram no bolso de uma só vez pouco mais de US$ 1 bilhão.

No bolso é força de expressão. "Não vimos a cor do dinheiro", comentou Oswaldo de Assis, um dos sócios do banco brasileiro. Embora todo o pagamento vá ser feito em dinheiro (nenhuma fatia em ações), os recursos serão investidos em fundos geridos pelo próprio UBS Pactual e neles ficarão por um mínimo de cinco anos. No total, somada a parcela recebida na última sexta, poderão ser pagos até US$ 3,1 bilhões em cinco anos, dependendo de taxas de performance e da retenção de talentos.

Este, aliás, é um dos principais desafios do novo banco, assim como, de resto, em qualquer banco de investimentos. O primeiro passo nesse sentido está dado. Do total a ser desembolsado pelo UBS, US$ 500 milhões serão distribuídos a cerca de 200 profissionais (de um total de 600 que o Pactual tinha), caso permaneçam na instituição pelo prazo de cinco anos.

Nos dias que antecederam o fechamento da operação, surgiu comentário no mercado financeiro de que sócios do Pactual estariam contrariados com a suposta decisão de Esteves de dividir entre ele e Gilberto Sayão ações que o Pactual tinha em tesouraria, algo entre 10% e 15% do capital do banco.

A expectativa era que tais ações fossem distribuídas proporcionalmente à participação que possuíam os 33 sócios e 37 associados do banco.

Os associados mais juniores detinham 0,05% do banco. Segundo a versão que circulou, Esteves e Sayão teriam decidido cobrar um "prêmio de controle" sobre os demais sócios. Os dois detinham 50% das ações ordinárias e 30% do capital total cada um. "Não existe prêmio de controle em 'partnership'. Na venda do Garantia não existiu isso", comentou um banqueiro de investimentos.

André Esteves nega a história. "Não há nenhum sentido." Segundo ele, o movimento foi, de certa forma, no sentido inverso. "O que fizemos foi ampliar o conceito distributivo do banco." Explicação: em vez de dividir os US$ 500 milhões da retenção apenas entre sócios e associados, Esteves disse que a opção foi incluir mais gente, chegando a cerca de 200 funcionários, em diversos níveis hierárquicos.

"Na última distribuição acionária antes da venda, privilegiamos os sócios mais jovens, aqueles que têm o compromisso de desenvolvimento e construção do banco daqui para a frente." Se há alguém insatisfeito? "Eu sei que está tudo equilibrado quando todos estão insatisfeitos. Caso contrário, é sinal de que desequilibrou a favor de algum grupo."