Título: Para CPI, PT sabia da compra de dossiê
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 23/11/2006, Política, p. A10

Levantamento feito ontem pela CPI das Sanguessugas reforça ainda mais as suspeitas de que todos os petistas ligados ao setor de inteligência da campanha do presidente Lula tinham conhecimento de que R$ 2 milhões seriam pagos em troca da obtenção do dossiê contra o PSDB. A principal tese de defesa de parte desses militantes é de que não havia dinheiro envolvido na aquisição dos documentos. Os Vedoin receberiam apenas apoio jurídico para reforçar suas defesas nos tribunais.

"Cruzamos imagens com dados telefônicos. São dados incontestáveis de que todos os petistas sabiam de tudo o que estava acontecendo. Todos sabiam que a operação envolvia dinheiro e todos foram informados de que o primeiro milhão havia sido entregue como previamente combinado", concluiu o sub-relator da CPI e deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP).

Quando diz "todos", Sampaio refere-se a Jorge Lorenzetti, chefe do setor de análise de risco da campanha de Lula, seus contratados Gedimar Passos, Expedito Veloso e Osvaldo Bargas, além de Hamilton Lacerda - assessor do senador Aloizio Mercadante (PT-SP) - e Valdebran Padilha, homem responsável pelo contato entre esse núcleo de informação e Vedoin. Gedimar e Valdebran foram presos pela Polícia Federal, em setembro, com R$ 1,7 milhão.

O montante seria usado para pagar os Vedoin por informações contra os tucanos. O dossiê ligava a máfia a José Serra, ministro da Saúde do governo Fernando Henrique Cardoso e, neste ano, vitorioso na disputa do governo de São Paulo contra Mercadante. A estratégia de defesa de Lorenzetti, Bargas e Expedito é dizer que não tinham conhecimento de que o dinheiro fazia parte da negociação.

A CPI cruzou dois relatórios. No primeiro, há a relação de quebra dos sigilos telefônicos de todos os envolvidos. No segundo, há a análise das imagens do esquema de segurança do hotel de São Paulo onde Gedimar e Valdebran foram presos. O roteiro mais valioso do cruzamento refere-se ao dia 13 de setembro. Naquele dia, Lacerda teria chegado com o primeiro milhão arrecadado para bancar a empreitada. Às 8h51 daquele dia, o sistema de segurança mostrou Lacerda entrando no hotel - onde Gedimar já estava hospedado - com uma mala onde, segundo a PF, estava o dinheiro.

Às 8h58, Hamilton encontrou Gedimar no lobby do hotel e os dois subiram para o quarto de Gedimar. Entre esse momento e 9h13, Hamilton conversou com Bargas por telefone - Bargas alegou à CPI que não sabe nada sobre dinheiro. Às 9h20, Lacerda deixou o hotel e, um minuto, ligou para Lorenzetti. Dois minutos mais tarde, houve nova ligação entre Hamilton e Lorenzetti.

Por alguns minutos, as ligações foram interrompidas. Depois, das 10h12 às 10h26, o circuito interno do hotel mostrou Gedimar no lobby, falando ao celular. Os registros telefônicos apontam para três ligações feitas nesse intervalo de Gedimar para Expedito Veloso, outro que diz não saber nada de negociação em dinheiro. "São provas incontestáveis. Como alguém que acaba de receber ou entregar R$ 1 milhão liga para seu superior um minuto depois e não trata do assunto?", indagou Carlos Sampaio.

Ontem, na CPI, prestaram depoimento Osvaldo Bargas e Expedito Veloso. O primeiro afirmou à CPI que não sabia nem da existência do dossiê. Afirmou que participou do esquema apenas para encontrar um veículo de comunicação interessado em fazer uma entrevista com Luiz Antônio e Darci Vedoin, donos da Planam. A entrevista fazia parte da estratégia de divulgação das informações contra Serra.

Já Veloso afirmou que participou simplesmente para apurar a veracidade dos documentos a serem repassados pela família Vedoin. Chegou a dizer que participou de uma das reuniões com Vedoin apenas para "conhecer as pessoas". O vice-presidente da CPI, Raul Jungmann (PPS-PE), disse que pedirá uma acareação entre todos os petistas e Vedoin. "São escandalosos e inverossímeis as versões apresentadas. Está claro que houve um acerto entre alguns deles", afirmou.