Título: Pemedebistas anunciam grupo de oposição
Autor: Ulhôa, Raquel e Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 22/11/2006, Política, p. A5

Os ex-governadores do PMDB Jarbas Vasconcelos, de Pernambuco, e Joaquim Roriz, do Distrito Federal, recém-eleitos senadores, anunciaram ontem a formação de um grupo de oposição ao governo Luiz Inácio Lula da Silva no PMDB do Senado, a partir da próxima legislatura, que começa com seis parlamentares e deve crescer, segundo expectativa dos articuladores. Por ser minoritário no partido, o grupo não pretende atrapalhar a adesão do PMDB ao segundo governo Lula, mas pode azedar as negociações. O presidente queria o PMDB unido, para garantir a governabilidade.

O anúncio dos oposicionistas foi feito na véspera do convite formal que Lula deve fazer ao presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), para que o partido participe de uma coalizão de governo. "Somos contra o engajamento do PMDB ao governo, mas reconhecemos que somos minoria. A maioria quer o alinhamento. Mas o presidente da República tem que saber que não terá o partido todo", disse Jarbas. Segundo ele, o grupo não aceitará retaliações do partido por se opor ao governo.

"Vou retratar ao presidente a real situação do PMDB. Está difícil ele ter 100% do partido. Não tenho como levar a ele uma coisa ilusória", disse Temer. Acompanharão o presidente do partido no encontro com Lula o ex-governador Orestes Quércia e os deputados Henrique Eduardo Alves (RN) e Tadeu Filipelli (DF) - esses três membros da Comissão Executiva Nacional - e o deputado Moreira Franco (RJ), presidente da Fundação Ulysses Guimarães. O ex-governador de Pernambuco reconhece que os oposicionistas são minoria no PMDB e, por isso, não tentarão impedir a adesão ao governo. "Ninguém vai dar murro em ponta de faca. O partido vai ficar com o governo majoritariamente. Mas não vai unido. Essa coalizão está mais para colisão", disse Jarbas.

A decisão de fazer oposição a Lula foi discutida durante almoço organizado por Roriz em uma churrascaria de Brasília com Jarbas e quatro atuais senadores pemedebistas, que têm mais quatro anos de mandato: Garibaldi Alves (RN), Mão Santa (PI), Geraldo Mesquita (AC) e Almeida Lima (SE). Embora ausente, o gaúcho Pedro Simon, que estava em compromisso em seu Estado, é considerado pelos colegas como provável integrante do grupo.

"Vamos conversar com mais senadores na próxima semana. Vamos ter um grupo com uma posição comum, de oposição ao governo. Fomos eleitos para ir para a oposição, não para a situação", disse Roriz, depois do almoço.

O ex-governador do Distrito Federal chamou Temer à churrascaria para comunicar a posição do grupo. Temer passou o dia consultando correligionários e montando a delegação que pretende levar hoje ao Palácio do Planalto, ao meio-dia.

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), convidado a acompanhar o presidente do PMDB, recusou. Publicamente, disse que Lula deve ampliar a interlocução no PMDB e que sua presença atrapalharia esse objetivo. A versão de governistas é outra: Renan não quer, com sua presença, legitimar a posição de Temer como interlocutor de Lula no partido. O ex-governador Orestes Quércia também foi convidado. Até às 19h30, Temer não havia anunciado quem levará. Disse que, como o convite partiu do presidente, irá mais para ouvir do que para falar. E que não discutirá cargos ou nomes, por ser prerrogativa de Lula.

Se o grupo de oposição no PMDB chegar a nove senadores, como se especula, pode causar estragos numa bancada que deve ser de 18 senadores, no mínimo. Terá, por exemplo, influência na eleição da Mesa Diretora. Jarbas deixou claro que a reeleição de Renan não está consolidada, como se avalia. O assunto nem foi discutido no almoço de ontem, porque divide o grupo.

O deputado Geddel Vieira Lima (BA), que aderiu ao governo durante a campanha eleitoral, quando apoiou o candidato do PT a governador da Bahia, Jaques Wagner, vitorioso, confirmou que Lula dirá a Temer que quer o apoio do PMDB no governo de coalizão. "O desafio é fazer com que o partido venha como um todo", disse. Segundo Geddel, um dos postulantes do PMDB ao cargo de presidente da Câmara, o partido vai lutar pelo cargo. "Não vamos tocar no assunto, mas se o assunto for tocado, diremos que o PMDB não abre mão de indicar o sucessor do Aldo Rebelo (PC do B-SP).