Título: Mudança sinaliza preocupação com governança
Autor: Bueno, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 22/11/2006, Empresas, p. B1

A solução encontrada pela Gerdau para a sucessão da presidência executiva pode não ser a mais recomendada pelos manuais de governança corporativa, mas demonstra uma maior preocupação da companhia com o tema, segundo especialistas.

As presidências executiva e do conselho de administração eram antes ocupadas por Jorge Gerdau Johannpeter. Agora os cargos foram separados, seguindo um mandamento básico de governança. Mas o bastão foi passado a seu filho, André Johannpeter. Na prática, isso significa que Jorge supervisionará a gestão de seu herdeiro.

"Em empresas familiares, a recomendação é que seus integrantes fiquem só no conselho. Isso porque, em vez de se preocupar com a operação em si, a família deve pensar em algo que está apenas em seu DNA: valores", diz Elvio Lupo Jr., conselheiro do Family Business Network Brasil, associação que busca aperfeiçoar a administração de empresas familiares.

Não existe, entretanto, um prazo determinado para as empresas tomarem esse caminho. "A governança é uma maratona. O mais importante é que as companhias não deixem de dar passos nesse sentido, não importa qual seja o ritmo", afirma Walter Janssen Neto, consultor de governança acionista da Weg, empresa que também mantém na presidência executiva o filho do fundador.

Foi considerado um avanço o fato de a Gerdau ter implementado um comitê de governança e outro de estratégia. "Isso é positivo porque faz com que decisões tenham de passar pela aprovação de mais pessoas, além dos executivos da própria família", avalia Edmo Chagas, analista do banco UBS.

O anúncio do nome de André Johannpeter para presidente e de Cláudio Johannpeter para a diretoria de operações não causou surpresa entre os investidores, já que seguiu uma tendência apontada em julho, quando Jorge anunciou que se aposentaria.

Ontem, as ações preferenciais da Gerdau subiram 3,62%, encerrando o dia a R$ 33,69. Já os papéis preferenciais fecharam cotados a R$ 28,1, com uma alta de 1,63%.

Mas esse desempenho não pode ser creditado ao anúncio feito de ontem. "Isso tem muito mais a ver com a boa performance da companhia", diz Pedro Galdi, analista do banco ABN Amro.

O histórico de lucros da Gerdau, sinal de uma administração competente, muito contribui para o fato de o mercado não se preocupar com o anúncio da manutenção da família à frente das operações.

Porém, a relação entre a metalúrgica e os investidores teve suas turbulências, justamente por episódios envolvendo governança. Em maio, o sobressalto veio com o anúncio de que a família tinha aumentado os royalties pelo uso da marca Gerdau. Depois de pesadas críticas, a empresa voltou atrás. Outro incidente ocorreu em 2002 quando a Gerdau concedeu um empréstimo ao haras dos controladores.