Título: GM do Brasil chega ao primeiro ano de lucro desde 1997
Autor: Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 17/11/2006, Empresas, p. B6

Depois de nove anos consecutivos de prejuízo, a filial brasileira da General Motors voltará a ter lucro em 2006. Mas essa é apenas a primeira das três condições para a maior montadora do mundo elevar os investimentos no país. As outras duas são o país voltar a crescer de forma mais significativa e a filial brasileira conseguir reduzir custos.

Ray Young, presidente da GM no Brasil e no Mercosul, está agora empenhado na busca de formas de reduzir de US$ 1,3 mil para menos de US$ 1 mil o custo de produção (excluindo matéria-prima e componentes) de cada carro em São Caetano do Sul (SP), onde está a fábrica mais cara da empresa no país. O custo na unidade de Gravataí (SR) está em US$ 600 e na fábrica da GM na China em US$ 140.

"Principalmente com a chegada dos concorrentes asiáticos, precisamos aumentar o foco na redução de custos", diz Young, referindo-se à decisão da montadora chinesa Chery de começar a produzir veículos no Uruguai.

Com a segurança de que seu plano de redução de custos no ABC trará resultados positivos em dois anos, o executivo pretende, até meados do próximo ano, convencer a matriz, nos Estados Unidos, a aprovar o aumento do investimento anual no Brasil de R$ 500 milhões para R$ 1 bilhão em 2009 e 2010.

Os recursos são necessários para o lançamento de dois modelos de carros, o caminho para a empresa não sofrer no futuro com a falta de renovação dos produtos. "Cada projeto de um novo carro leva dois anos para ficar pronto", explica Young.

Concluída essa etapa, esse filho de chineses nascido no Canadá terá a tranqüilidade de dizer que a sua gestão no comando da General Motors no Mercosul, prestes a completar três anos, já foi bem-sucedida.

Young não dá pistas sobre o destino de sua carreira depois que deixar o comando da GM no Brasil e Mercosul. "Façam suas apostas", brinca o bem-humorado executivo que a cada dia que passa aprimora a fluência na língua portuguesa. Ele sempre foi cotado para galgar cargos mais elevados dentro da companhia. O próprio presidente mundial da General Motors, Rick Wagoner, quando indicou o executivo para o Brasil, revelou que a vinda de Young serviria de treinamento para tarefas mais ousadas.

Ainda a maior montadora do mundo, a GM, que está ameaçada de perder o primeiro lugar para a japonesa Toyota, não saiu da crise financeira que a atormenta nos Estados Unidos. Por isso, a notícia de lucratividade no Brasil chega em boa hora. A empresa não revela números do seu balanço, mas Young garante que o resultado será positivo.

A crise da GM nos Estados Unidos não interfere na tomada de decisão para investimentos, assegura Young. O que importa, ressalta, são as condições do mercado em que serão aplicados os recursos.

A estratégia de Young para estancar prejuízos no Brasil a partir deste ano foi elevar os preços dos veículos exportados como forma de compensar a valorização do real. O custo disso foi a perda de várias encomendas do exterior, incluindo os contratos de toda a região dos países andinos.

Mas o resultado financeiro compensou. Neste ano, o volume de exportações da filial brasileira da montadora cairá 20%, mas a receita das vendas externas empatará com o total de US$ 1,6 bilhão obtido em 2005.

Ele não acredita que conseguirá elevar ainda mais os preços dos carros exportados em 2007. Mesmo assim, prevê queda de mais 10% nos volumes vendidos ao exterior no próximo ano por conta do fim de contratos que ainda vigoraram em 2006.

Como o mercado interno se aqueceu, a GM conseguiu compensar as perdas das exportações com aumento de vendas no país. De janeiro a outubro, a montadora conseguiu um incremento de vendas domésticas de 14%, índice maior do que a expansão de todo o mercado interno, que ficou em 12%. Young acredita na continuidade do crescimento do mercado brasileiro em 2007. Ele aposta numa expansão de 10%, o que levará o setor a ultrapassar o recorde de vendas de 1997.

O presidente da GM decidiu acreditar na palavra do presidente da República para atender à outra condição imposta pela matriz para autorizar os investimentos adicionais no país. Os americanos disseram que o dinheiro só virá com aumento do ritmo de crescimento da economia brasileira. "Lula estabeleceu a meta de 5% e eu estou confiante de que isso vai acontecer", destaca o executivo.