Título: PT pretende disputar presidência da Câmara
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 10/11/2006, Política, p. A8

A bancada do PT na Câmara está disposta a disputar a presidência da Casa no próximo ano e não vai aceitar a perda de espaço do partido na composição do segundo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em reunião realizada ontem, em Brasília, os deputados atuais e os eleitos discutiram o quadro político pós-eleições. Chegaram a uma conclusão unânime: o PT foi o grande vencedor do pleito e precisa ocupar espaços compatíveis com esses resultados eleitorais a partir de 2007.

Embora a reunião não tenha produzido um resultado formal, esses dois posicionamentos (a luta por mais ministérios e a presidência da Câmara) ficaram claros nos mais de 20 discursos feitos pelos parlamentares. "O PT deseja ter protagonismo estratégico no governo Lula e acho que terá. Estamos seguros de que o presidente Lula fará um grande ministério e o PT terá esse papel de protagonismo", disse o líder da bancada, Henrique Fontana (RS).

Perguntado sobre quantas pastas o PT gostaria de ter, Fontana desconversou. "Não me preocupo em fazer as contas de somar e diminuir. Formação de ministério não é aula de matemática, mas de política", afirmou. O tom dentro da reunião, no entanto, foi bem diferente. Deputados disseram categoricamente que o partido não deveria aceitar perder espaço no ministério. "O PT cresceu. Temos uma grande bancada e fizemos mais governadores. É natural que ganhemos mais espaço", disse o deputado Marco Maia (RS).

O deputado Ricardo Berzoini (SP), afastado temporariamente da presidência do partido por ser suspeito de participar da tentativa de compra do dossiê anti-PSDB na campanha, pediu paciência à bancada. Relatou conversa que teve com Lula na manhã de ontem, em encontro reservado. "O presidente entende que o PT tem o seu papel e continua seu caminho", afirmou.

Para o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), a bancada está "segura da força que o PT tem e do discernimento de Lula para montar o ministério". "Temos de sentar com o presidente e discutir o governo, as políticas públicas e os projetos. Além, claro, dos cargos. Porque não? É legítimo", disse. Na reunião, foi feito um pedido a Chinaglia para a bancada se reunir com Lula. O encontro deverá ocorrer em breve.

A presidência da Câmara também foi debatida. No encontro, Fontana apontou Chinaglia como um possível nome para a disputa, caso a maior bancada, a do PMDB, fique fora porque já terá a presidência do Senado. Chinaglia falou também dos momentos de crise passados pelo governo e pelo partido nos últimos anos. Mesmo com a presença de Berzoini, o líder alfinetou a direção da sigla. Ao falar dos erros, Chinaglia disse que "a direção tem de perceber que tem responsabilidade nisso".

A sensação dentro da reunião era de que a direção partidária está fragilizada com a crise envolvendo Berzoini e com a interinidade de Marco Aurélio Garcia, assessor especial de Lula e que participou dos primeiros 30 minutos do encontro de ontem. Alguns deputados não acreditam no sucesso de Garcia na luta pelas exigências da bancada junto a Lula. "Porque ele iria brigar com o chefe?", afirmou um deputado. A bancada pediu que os encontros de Lula com a Executiva Nacional tenham a presença de um grupo de deputados ou, pelo menos, do líder Fontana. As grandes ausências do encontro foram de Antonio Palocci (SP) e José Genoino (SP).

O governador do Acre, Jorge Viana - um dos cotados para assumir a presidência do PT numa eventual troca de comando partidário - afirmou ontem que "o PT já deu uma larga contribuição nas trapalhadas. Temos de parar de querer forçar uma espécie de crise depois de uma vitória. A crise tem que estar em quem perdeu, nós ganhamos a eleição. Agora é hora de com tranqüilidade deixar o presidente trabalhar".

Viana acredita que, no momento, o melhor a se fazer é manter o atual presidente da legenda, Marco Aurélio Garcia, até o congresso, marcado para o ano que vem.

Viana, que foi ontem ao Planalto encontrar-se com o presidente Lula acompanhado do governador eleito do Acre, Binho Marques, disse que o mais prudente é "aguardar o desenrolar do episódio do dossiê", que provocou o afastamento de Berzoini da presidência do PT. (Colaborou Paulo de Tarso Lyra)