Título: Democratas ficam com a maioria também no Senado
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Fonte: Valor Econômico, 10/11/2006, Internacional, p. A12

O Congresso dos EUA passou inteiramente para as mãos da oposição ao presidente George Bush. Ontem foi definida a favor dos democratas a última cadeira no Senado. O candidato republicano no Estado de Virgínia admitiu a derrota e disse que não pedirá recontagem de votos. Com isso, os democratas ficam com a maioria de 51 das 100 cadeiras do Senado, além do controle da Câmara.

O controle do Senado era muito importante para a oposição, pois permite aprovar iniciativas legislativas nas duas casas do Congresso. Caso os republicanos mantivessem o Senado, poderiam barrar projetos democratas aprovados pela Câmara, e vice-versa, com o risco de uma paralisia de fato do legislativo americano.

Além disso, fica ainda reduzido o poder de Bush, pois o Senado é responsável, entre outras coisas, pela ratificação de tratados internacionais dos EUA e pela aprovação de nomes indicados pelo presidente para vários cargos de primeiro escalão no país.

O presidente Bush se reuniu ontem, pela primeira vez depois das eleições, com líderes democratas, inclusive Nancy Pelosi, que deverá ocupar o cargo de presidente da Câmara. "O povo americano espera que fiquemos acima das diferenças partidárias, e meu governo fará a sua parte", afirmou Bush.

Com a maioria democrata no Senado poderia ser possível, por exemplo, a ratificação pelos EUA do Acordo de Kyoto, que impõe limites às emissões de gases que causam o efeito estufa (e o aquecimento global). O Partido Democrata é mais sensível a questões ambientais que os republicanos. O ex-vice-presidente democrata Al Gore virou popstar do ambientalismo com seu documentário "Uma Verdade Inconveniente".

O presidente Bush é contra a imposição de limites obrigatórios para as emissões, sob o argumento de que prejudicaria a economia americana, mas sempre se aproveitou da desculpa de que o Senado (republicano) não aprovaria o acordo de Kyoto. Agora ele pode não ter mais essa desculpa.

Formalmente, a divisão das cadeiras no Senado passa a ser: 50 democratas, 49 republicanos e 1 independente. Mas esse senador independente é Joseph Lieberman, que foi candidato a vice-presidente dos EUA em 1998, na chapa de Al Gore, e que prometeu na campanha eleitoral votar junto com os democratas. Ele deixou a legenda este ano, após a primário do partido no Estado de Connecticut escolher um outro candidato para o Senado, que acabou derrotado por Lieberman na eleição.