Título: Governo capta US$ 1,5 bilhão no exterior
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini e Galvão, Arnaldo
Fonte: Valor Econômico, 08/11/2006, Finanças, p. C5

O Tesouro Nacional captou ontem no mercado internacional US$ 1,5 bilhão por meio de papéis de vencimento em 2017 e pagou o menor custo desde a renegociação da dívida externa, em 1994. A demanda chegou a US$ 6 bilhões, segundo Douglas Chen, diretor de Global Markets do Deutsche Bank, um dos líderes da operação.

O Tesouro "ganhou" dos investidores a opção de resgate antecipado do papel a qualquer momento que ele pagar prêmio de 25 pontos básicos sobre os títulos do Tesouro dos Estados Unidos de vencimento em dez anos. Isso poderia acontecer se o Brasil se tornasse "grau de investimento", espécie de selo de investimento não especulativo das agências de rating, e continuasse a melhor suas notas.

Os títulos foram vendidos ontem com prêmio de 159 pontos básicos sobre os títulos americanos, o equivalente a um rendimento de 6,249% ao ano ao investidor. É um rendimento menor do que as empresa de mesma classificação de risco de crédito do que o Brasil (BB) pagam no mercado americano. Segundo a "Bloomberg", os rendimentos pagos por essas empresas em emissões de vencimento em dez anos são de 6,95% ao ano. "Isso significa que os investidores deram a opção de resgate antecipado ao Brasil de graça", afirmou Chen, de Nova York.

Segundo ele, quando uma empresa ou um governo quer resgatar antecipadamente um papel que teve seus juros reduzidos de forma drástica no mercado secundário tem de oferecer um prêmio ao investidor por isso, além de pagar comissões para os bancos líderes da oferta de recompra antecipada ("tender offer"). Nem sempre, no entanto, os investidores querem entregar antecipadamente o papel. Com a opção de resgate antecipado, o governo evita todos esses custos se os juros de seus papéis despencarem após o país se tornar grau de investimento.

No total, compraram os papéis do governo 274 investidores, a maior parte dos Estados Unidos (55%), seguidos de perto pelos latino-americanos (40%) e europeus (30%). O resto foram investidores da Ásia. Os investidores de "qualidade" foram procurados pelos bancos - os que vão dar sustentação aos preços no mercado secundário e não vão vender os papéis no dia seguinte à emissão, segundo Chen. As companhias de seguros compraram 11%, os fundos mútuos, 35%, as pessoas físicas do private banking, 25%, e os fundos de hedge, 20%, informa.

A emissão começou anteontem, na Ásia, e quando o mercado de Nova York abriu a demanda já havia chegado a US$ 2 bilhões, segundo Chen. Em mais três ou quatro horas, os US$ 6 bilhões foram atingidos. Tanto, que o prêmio foi reduzido de 160 pontos básicos para 159 e o total emitido elevado a US$ 1,5 bilhão. "Os investidores estão com muito dinheiro em caixa, que precisa ser reinvestido, e estão confiantes no Brasil", disse.

Os recursos vão entrar nas reservas internacionais (o caixa em moeda estrangeira) do país no dia 14 de novembro. Além do Deutsche, também liderou a operação o Barclays Capital. O Itaú BBA e o Pactual atuaram como co-líderes. O papel foi colocado ao preço de 98,125% do seu valor de face, com cupom (juro nominal) de 6% ao ano, que será pago em 17 de janeiro e 17 de julho de cada ano, até o vencimento em 17 de julho de 2017. As comissões aos bancos líderes foram de 0,30%. Neste ano, as seis captações realizadas pelo Tesouro já somaram US$ 4,406 bilhões.

Apesar de a emissão externa do Tesouro ter sido considerada bem-sucedida, o prêmio de risco pago pelos papéis brasileiros no mercado secundário sobre os títulos americanos cresceu ontem. O risco-Brasil teve alta de 1,42%, para 215 pontos básicos.