Título: Pequenas indianas querem montar base de TI no Brasil
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 03/11/2006, Empresas, p. B2

Bengal, Bhansali, Gaganz. Hoje, estes não passam de três nomes de empresas completamente desconhecidas do mercado brasileiro de tecnologia da informação (TI). Mas é bom ir guardando estes nomes, aconselha o indiano Gagandeep Sharma, diretor da Gaganz, especializada em software e serviços para o setor financeiro. "Viremos para o Brasil. Queremos abrir um escritório no país em 2007", diz o executivo, enquanto exibe o cartão de visitas de uma advocacia brasileira, que deverá preparar a chegada da companhia ao país.

Sharma é representante de uma das 13 empresas indianas que nesta semana participaram de uma delegação organizada pela Electronics and Computer Software Export Promotion Council (ESC), entidade sem fins lucrativos criada para promover o pequeno e médio investidor indiano.

Patrocinada pelo governo indiano, a ESC realizou, por apenas um dia, uma "feira" na sala de um hotel na avenida Paulista, um evento amador, que não condiz com o histórico indiano no setor. Mas Sharma não se intimida: "É pouco tempo aqui, mas já conversei com dez empresas, e devo retomar contato com duas delas."

A rápida passagem pelo Brasil, explica o diretor da ESC, Gurmeet Singh, tem apenas a finalidade de fazer um primeiro contato com parceiros potenciais. "A maior parte dessas empresas está vindo pela primeira vez ao Brasil", comenta. "Mas todas enxergam uma janela de oportunidade para crescer junto na região da América Latina."

O engenheiro de vendas Ratnesh Pandey, da Scientech Technologies, empresa especializa em sistemas para o setor educacional, reitera o objetivo. "Estamos procurando uma parceria para ser representante de nossos produtos", diz o executivo, que já fornece sistemas e serviços para cerca de 200 faculdades indianas.

Mais objetivo, o executivo Ravinder Singh Virk, diretor da Modern Business, fabricante de balanças digitais usadas para medições com extrema precisão, diz que está à procura de um parceiro para produzir seus equipamentos no Brasil. "Já temos fábricas na Índia e em Xangai, mas queremos trazer isso também para cá", diz.

A estratégia das pequenas e médias empresas indianas, segundo o diretor da ESC, Gurmeet Singh, não é disputar o mercado local com empresas brasileiras, mas sim procurar parceiros para explorar, principalmente, os países de língua espanhola, além dos Estados Unidos, explorando fatores como proximidade cultural e equivalência de fuso horário. "Além disso, o Brasil tem bons desenvolvedores, e nós podemos dar qualidade e processos", adiciona o responsável pela ESC, que atualmente reúne 2,3 mil empresas de TI associadas.

Entre as integrantes da delegação indiana, uma das companhias mais avançadas em negociações com o Brasil é a Gateway Group, especializa em terceirização de serviços de TI, concorrente direta de nomes já consagrados como Tata Consultancy Services e Infosys.

"Queremos abrir um escritório no Brasil ainda neste ano", afirma o diretor comercial da empresa, Pavak Shah. Embora sem base oficial no Brasil, Shah afirma que já fechou negócio com uma empresa de Curitiba. "Inicialmente, a nossa idéia é ter uma representação aqui e prestar serviços a partir da Índia", diz. "Com o crescimento da operação, passaremos a contratar pessoal também no Brasil."

Atualmente, a Índia conta com mais de 2 mil faculdades com cursos ligados à TI, e forma cerca de 200 mil profissionais no setor a cada ano. Em 2008, segundo projeções da ESC, mais de 1 milhão de pessoas estarão trabalhando no setor. "Não se trata da Índia ser um paraíso. Na realidade os indianos estão bem longe disso. Acontece que eles têm processos e qualidade, além de preço baixo, é claro", comentou o diretor do centro dos mercados novos e emergentes da London Business School, Simon Commander, durante um seminário realizado nesta semana no Ibmec São Paulo, onde o tema debatido foi o uso da TI e o desempenho das empresas no Brasil e na Índia.

Um estudo apresentado durante o evento apontou que, para 21% das empresas indianas que atuam no setor industrial, a falta de energia é um dos fatores que inibem os investimentos em informática, item desconsiderado pelas companhias do Brasil. "É interessante observar que o aumento de produtividade das nossas indústrias está mais atrelado ao uso de tecnologia do que nas indústrias da Índia", comentou Naércio Menezes Filho, professor do Ibmec e um dos responsáveis pela pesquisa.

Mas para Gagandeep Sharma, diretor da Gaganz, não há por que se preocupar com riscos de apagão. "Temos toda a infra-estrutura disponível", garante. "E agora cresceremos também no mercado latino-americano."

Ontem, a delegação da ESC partiu rumo ao México, segundo e último destino das negociações latinas. Do tímido evento no Brasil, levaram acordos e promessas. Mas também deixaram por aqui uma queixa capaz de inibir: "Não achei uma lista de páginas amarelas em inglês", lamentou Ratnesh Pandey, da Scientech Technologies. "É algo bem simples, mas que já nos ajudaria muito", adicionou Singh Virk, da Modern Business.