Título: Produção de petróleo cai nas operações que a Venezuela estatizou
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Fonte: Valor Econômico, 11/07/2007, Internacional, p. A10

A produção de petróleo da Venezuela na região da Faixa do Orinoco caiu 13% após o governo ter assumido em maio o controle dos projetos de extração na área, que antes eram controlados por petroleiras estrangeiras. O dado ilustra a dificuldade do país em retomar o nível de produção de antes da greve de 2002/2003.

Em maio, antes da estatização, a produção na Faixa do Orinoco era de 482.000 barris por dia. Hoje, a produção é de 418 mil, segundo um comunicado do ministro de Energia e Petróleo, Rafael Ramírez, veiculado no site da estatal venezuela de petróleo PDVSA.

A Venezuela, responsável por 12% do petróleo importado pelos EUA, vem registrando seguidas quedas em sua produção nos últimos anos (veja gráfico).

Para alguns analistas, o declínio é reflexo de medidas adotadas pelo governo do presidente Hugo Chávez. "Há um ambiente de instabilidade institucional no país que tem provocado uma redução dos investimentos e a saída de algumas empresas do setor de petróleo", disse ao Valor, por telefone, Humberto Calderón Berti, que foi presidente da PDVSA no início dos anos 80. As duas últimas empresas que decidiram abandonar a Venezuela foram as americanas Exxon Mobil e ConocoPhillips, que não aceitaram as novas condições de operação na Faixa do Orinoco impostas pelo governo Chávez. Elas teriam de operar como minoritárias em sociedade com a PDVSA.

A produção venezuelana nunca recuperou totalmente o ritmo de antes da greve maciça ocorrida na PDVSA entre 2002 e 2003. Chávez ordenou a demissão de 20 mil funcionários, entre os quais muitos profissionais qualificados, que, segundo Berti, representavam à época cerca de 50% do corpo de empregados da empresa. "Muitos dos novos contratados para preencher os quadros não tinham experiência."

Além da diminuição da produção, a Venezuela enfrenta outro problema: os EUA, seu principal cliente, estão ampliando sua lista de fornecedores de petróleo e diminuindo a dependência da Venezuela. Segundo estudo publicado em maio pelo jornal americano "The Washington Post", de todo o petróleo que os EUA importavam em 1996, 17,3% vinham da Venezuela, ante menos de 11% (ou 12%, dependendo da fonte) hoje.

Na segunda-feira, um jornal venezuelo chegou a atribuir a diminuição da produção no Orinoco à pressão de funcionários dos projetos assumidos pela PDVSA para manterem seus salários e seus empregos. O ministro Ramírez rejeitou essa versão. "Não existe nenhum conflito", disse ele.

A empresa, por meio de uma porta-voz, disse a redução da produção faz parte da orientação da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) para que seus membros reduzissem duas produções. Em janeiro, quando a Venezuela cortou sua produção em 195 mil barris por dia supostamente para cumprir a orientação do cartel do petróleo, a maior parte dessa redução foi alocada nos projetos operados por empresas estrangeiras, entre as quais as do Orinoco, disse a empresa. A redução registrada desde maio pode ser resultado da continuidade desse plano, afirmou uma porta-voz.

Segundo Ramírez, a produção atual é de 3,1 milhões de barris por dia. Estimativas de fontes estrangeiras falam em cerca de 2,3 a 2,4 milhões de barris/dia. A Venezuela não estaria nem produzindo sua cota da Opep. (Com Bloomberg)