Título: Preços de combustíveis tendem a subir ainda mais
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Fonte: Valor Econômico, 11/07/2007, Opinião, p. A16

A economia mundial volta a enfrentar um grande desafio na área de energia: segundo o relatório divulgado na segunda-feira pela Agência Internacional de Energia, não haverá sobras no mercado de petróleo nos próximos cinco anos, como resultado da combinação de um aumento no consumo e uma redução da oferta nas áreas produtoras consideradas maduras, como no Mar do Norte, e atrasos importantes em novos projetos de exploração. Nos últimos meses, a cotação internacional do barril do petróleo já vinha refletindo essa situação ao permanecer acima da casa dos US$ 70, apenas um pouco abaixo do nível recorde alcançado no ano passado.

Pelos cálculos dos especialistas da Agência Internacional de Energia, a procura por petróleo vai crescer a uma taxa média de 1,9% ao ano até 2012, atingindo então a marca de 95,8 milhões de barris por dia. A principal pressão da demanda virá dos países emergentes, em especial, claro, da China. Nesse período, a produção de óleo fora dos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) deve se elevar em 1% - ou seja, quase a metade da taxa de aumento na demanda esperada. Com isso, a expectativa é de que os preços continuem em patamares elevados.

O Brasil deve ser bastante impactado se forem confirmadas essas estimativas internacionais. Para a Petrobras, as previsões são animadoras porque a expectativa é de que a empresa aumente em muito sua produção nos próximos anos de forma que poderá ultrapassar outros países da América Latina para ser o maior produtor de óleo na próxima década. Para o país, porém, as projeções da Agência Internacional de Energia deveriam servir como um alerta, pois o Brasil já convive com uma forte preocupação em relação a desequilíbrios entre demanda e oferta de energia nos próximos anos - preocupação essa manifestada com freqüência e principalmente pelo setor privado. O governo federal, de seu lado, tem insistido que não há riscos de apagão nos próximos anos. Além disso, embora a Petrobras tenha anunciado que alcançou a auto-suficiência, o Brasil ainda continua com uma balança comercial deficitária em termos de combustíveis.

Dados do Ministério do Desenvolvimento mostram que, no primeiro semestre deste ano, o país importou US$ 8,07 bilhões em combustíveis e lubrificantes, revelando um aumento de 15% em comparação com 2006. Em parte, esse valor foi compensado pelas exportações, que também cresceram - e bem mais do que as compras no exterior. As vendas de petróleo e de óleos combustíveis do Brasil para outros países somaram US$ 4,4 bilhões de janeiro a junho. Ou seja, ainda há um déficit considerável nas contas do petróleo.

Felizmente, a situação atual não se compara com o que ocorria no passado, quando o Brasil era dependente integral do petróleo estrangeiro. Hoje, o país continua a importar, mas valores muito menores do que antigamente e, além disso, passou também a vender petróleo. Vale a pena lembrar que essas operações de compra e venda de óleo continuarão a acontecer mesmo que o país eleve em muito sua produção interna porque é preciso trazer do exterior petróleo de variedades diferentes das produzidas no país e esses negócios não são um problema.

Mesmo as perspectivas de que a Petrobras avance na sua produção de forma acelerada não descartam, no entanto, os efeitos negativos para o país de um cenário de cotações elevadas do petróleo no mercado internacional. Os preços internos dos combustíveis não acompanham necessariamente a evolução das cotações internacionais. A última vez em que a gasolina teve seu preço reajustado no mercado doméstico foi em setembro de 2005 - um aumento de 10%. Na época, o barril do petróleo era cotado em cerca de US$ 66. Outros derivados de petróleo têm tido, no entanto, seus preços reajustados de forma sistemática - o caso mais notório é o da nafta ARA, que está cotada em US$ 699 por tonelada, alta de quase 35% nos últimos 12 meses. A nafta é uma importante matéria-prima para a indústria petroquímica. A tendência é de que os preços da energia continuem apontando para cima nos próximos anos.