Título: Nova direção da UNE planeja pressão a Lula
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 09/07/2007, Política, p. A11

Com 72,2% dos votos válidos, a chapa situacionista que agrega os partidos da base governista do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu ontem as eleições da União Nacional dos Estudantes (UNE). Com 1.802 votos dos 2.742 delegados credenciados para a votação, a composição liderada pelo PCdoB, e que tem também PMDB, PDT, PSB e a maior parte do PT, deve ficar com 15 dos 17 cargos da Executiva Nacional da entidade. A nova presidente é a gaúcha Lúcia Stumpf, 25 anos, estudante de jornalismo das Faculdades Metropolitanas Unidas, em São Paulo.

Das outras duas vagas da Executiva, uma deve ficar com o restante das tendências petistas, que obteve 11,1% do total (279 votos), e a outra com a Frente de Oposição de Esquerda (PSOL e PCB), que teve 9,3% da votação (232 votos). Os partidos que fazem oposição maior ao governo tiveram votação inexpressiva, caso do PSDB (2 votos) e DEM (1 voto). Até a chapa anarquista, intitulada "Deus", teve mais votos: 5. O Partido Comunista Revolucionário, de extrema esquerda, teve 92 votos. O PPS teve 73 votos. Com o resultado, manteve-se o domínio de mais de 15 anos do PCdoB à frente da UNE, já que mais da metade dos votos eram de militantes da União da Juventude Socialista (UJS), órgão estudantil ligado aos comunistas.

A maioria do sufrágio na eleição para a diretoria da UNE também se refletiu na votação das resoluções da entidade para os próximos dois anos. Como a UJS detém a maioria dos delegados do Congresso, as resoluções aprovadas nos subitens educação, movimento estudantil e conjuntura foram as propostas pela UJS e aprovadas quase que por aclamação no sábado. Diferentemente da eleição para a diretoria, a votação das resoluções é por contraste visual dos crachás dos delegados e cada grupo político pode apresentar uma proposta.

A expectativa é de que nos próximos dois anos - que coincidirão com a primeira metade do segundo mandato de Lula - a UNE tenha um posição mais crítica em relação ao governo federal do que o adotado no primeiro mandato, em que foi acusada de adesismo. As críticas geraram rachas internos na entidade e a intensificação de movimentos estudantis paralelos independentes, o que agravou a capacidade de mobilização de um movimento cuja maior parte da base se preocupa mais com sua integração ao mercado de trabalho do que com causas coletivas.

Pela resolução aprovada, no quesito "conjuntura", a UNE coloca que "cabe ao movimento social, e ao movimento estudantil em particular, ampliar seu papel mobilizador e radicalizar na cobrança dos compromissos assumidos na campanha à reeleição (de Lula). Além disso, afirma que "o momento exige um posicionamento mais crítico e mais mobilizador" e que "será fundamental a promoção de uma agenda de ações com debates, atos e passeatas".

O principal alvo no governo é o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. A entidade pede sua demissão, por considerar necessário "superar os preceitos neoliberalizantes da política macroeconômica". No item "movimento estudantil", frisou iniciativas tomadas nos últimos dois mandatos seguidos de Gustavo Petta e acenou para a abertura de novos canais de diálogo para atrair os estudantes para a entidade e a necessidade de buscar atingir o cotidiano do estudante. Sobre educação, propõe manter a luta por bandeiras do movimento, como a eleição direta para reitores e investimento de 7% do PIB para educação.

No entanto, embora aponte para um teor mais crítico nos próximos dois anos, as resoluções aprovadas foram as que tinham caráter politicamente mais brando e menos reformista em relação às outras propostas. Não havia ali nenhuma linha sobre as ocupações de reitorias realizadas neste ano nas universidades, em especial da USP, que foi o principal acontecimento no meio estudantil até o momento e que não teve participação da entidade. Em contraposição, as outras propostas discorriam largamente sobre a crise de representatividade por que passa a entidade. Algumas delas pediam a eleição direta para presidente da UNE, opção rejeitada pela UJS, sob o argumento de que incentivaria o personalismo político.

Sobre política, sobraram ataques aos governo Lula nas outras propostas. Os alvos foram o amplo leque de alianças com forças tradicionalmente ligadas à direita, a lei de restrição ao direito de greve e ao Programa de Aceleração do Crescimento. Quando os críticos de Lula subiam aos palco para defender suas propostas, vaias tomavam conta do ginásio Nilson Nelson.

O clima só foi mais amistoso na aprovação das propostas consensuais, em que todos os grupos apóiam e perfilam uma série de medidas em diversos campos: a saída de Meirelles do BC, apoio e participação no Tribunal Internacional Katrina, autonomia e independência da UNE em relação ao governo Lula, defesa do Estado laico, entre dezenas de outros pontos.