Título: Banco eleva crédito às empresas
Autor: Travaglini, Fernando
Fonte: Valor Econômico, 28/06/2007, Finanças, p. C1

O volume de crédito imobiliário destinado para as construtoras e incorporadoras voltou a crescer de forma acentuada. Em média, metade dos recursos direcionados da poupança para o setor vão para as empresas, enquanto o restante financia a compra do imóvel. Nos três primeiros meses do ano, o total de empréstimos para pessoa jurídica está em R$ 1,1 bilhão, podendo superar os R$ 6 bilhões até dezembro. No ano passado, o volume foi de R$ 4,2 bilhões.

Com isso, o total destinado pelos bancos desde 2005 (R$ 8,1 bilhões) já supera a captação primária no mercado de capitais feita por venda de ações dessas companhias (R$ 7,5 bilhões). Esse valor pode ser ainda maior, já que os bancos concedem ainda outras linhas de crédito, como capital de giro e desconto de recebíveis, além de recursos de operações estruturadas.

E a tendência é continuar o avanço da oferta de financiamentos bancários. O Bradesco pretende destinar mais de 70% da concessão de crédito imobiliário este ano para as empresas, cerca de R$ 2 bilhões. No Itaú, o patamar para pessoas jurídicas subiu de 20% para algo próximo a 50%. Já no Banco Real, o planejamento é que as liberações para as companhias, que no ano passado foram de R$ 560 milhões, devam triplicar, para algo próximo de R$ 1,5 bilhão.

Cacalos Garrastazu/Valor Diretor do Itaú, Luiz Antonio França, de olho num mercado de R$ 220 bilhões

O motivo dessa ampliação é o próprio fluxo do negócio. Os bancos estão de olho, na verdade, nas pessoas físicas que irão adquirir os imóveis prontos, disse o gerente do Banco Real, Alexandre Cappellini. "O consumidor é muito mais rentável e ainda temos um cliente fidelizado por 20 anos", explica.

O potencial de crescimento é enorme. Segundo o diretor do Itaú, Luiz Antonio França, existem cerca de 12 milhões de imóveis alugados e mais um déficit habitacional de 7 milhões. Somente para atender esse mercado, seriam necessários mais de R$ 220 bilhões em novos financiamentos. Hoje o saldo para pessoa física está em R$ 38 bilhões.

Ao mesmo tempo, com a explosão do setor, as empresas não têm mais tanto interesse em financiar os clientes para poder liberar capital para novas obras. Isso acontece pois no fluxo de caixa da companhia os investimentos iniciais são feitos com recursos próprios, como a compra do terreno e aproximadamente 30% da obra. Quando o prédio entra na fase de construção, com necessidade de capital intensivo, as empresas recorrem aos bancos. Como garantia, oferecem os recebíveis das vendas dos imóveis.

"Hoje, cerca de 80% das construtoras abrem mão da carteira de crédito no final do período de construção", estima o diretor do BBI, o banco de investimentos do Bradesco, João Carlos Zani.

Outra vantagem para as companhias são as taxas. Enquanto recursos de capital de giro estão na casa dos 17% ao ano para as grandes do setor, a destinação de crédito com funding na poupança é remunerada entre 10% e 12% ao ano, mais a variação da TR (de 2%). Para obras destinadas a baixa renda, as companhias podem ainda captar via FGTS, com taxas a partir de 6% ao ano mais TR.

Com o caixa cheio, as empresas podem escolher onde colocar os recursos. "Hoje o crédito está muito abundante", comemora o gerente financeiro da Rossi Residencial, Ivan Piffer, que prepara ainda uma emissão de debêntures para julho. "O dinheiro do mercado de capitais tem destino certo, como a compra de terrenos ou a incorporação", diz.

Zani lembra ainda que boa parte dos recursos do mercado de capitais tem sido usada para adquirir pequenas e médias construtoras em outras praças para ampliar mercado. "No futuro as médias devem deixar de existir. Teremos de 10 a 15 grandes empresas e as pequenas concentradas nos mercados menores", acredita o executivo.