Título: Bovespa é a que tem maior oscilação entre emergentes
Autor: Camba, Daniele
Fonte: Valor Econômico, 28/06/2007, EU & Investimentos, p. D2

Quando o Índice Dow Jones da Bolsa de Nova York sobe ou cai 0,5% num dia e o Índice Bovespa vai para a mesma direção, só que em 2%, 3%, a sensação que o investidor tem é que a bolsa brasileira é muito mais sensível e que ela exagera os movimentos. Essa impressão de quem está no dia-a-dia, sentindo o pulso do mercado, é verdadeira e os números comprovam isso. Um estudo feito pela professora e pesquisadora do IBMEC São Paulo, Andrea Minardi, revela que a Bovespa é a que mais reage aos movimentos, entre as principais bolsas de países emergentes.

No trabalho, Andrea mediu, entre 2002 e 2006, como as bolsas de oito países emergentes se comportam em relação à média geral dos emergentes, medida pelo Morgan Stanley Capital Index (MSCI), e aos movimentos de todas as bolsas no mundo, medido pelo MSCI global. Essa medida é conhecida como beta.

Beta menor que 1 significa que a bolsa sobe menos que o índice de referência, em momentos de alta, mas também cai menos na hora da queda. Esses são mercados tipicamente defensivos, lembra a professora. Já um beta maior que 1 significa que o mercado em questão sobe mais ou cai mais em relação ao índice com o qual está sendo comparado. Estes são mercados mais agressivos.

No estudo, a Bovespa, representada pelo Ibovespa, é a bolsa com o maior indicador. O Brasil tem um beta de 1,37, comparado com o MSCI de emergentes. Isso significa que quando esse índice sobe 10%, por exemplo, o Ibovespa sobe 13,7%. O mesmo acontece para o lado negativo, ou seja, as ações brasileiras também caem mais nos momentos de baixa. O segundo maior beta é o da Argentina 1,15. Para se ter idéia do nível de risco do mercado brasileiro, o indicador da Bovespa é quase o dobro do da bolsa do Chile, de 0,71.

Os movimentos da Bovespa são ainda mais exacerbados quando comparados com as bolsas de países emergentes e desenvolvidos juntos. Nesse caso, o beta do Ibovespa é 1,98, ou seja, ele sobe ou cai praticamente o dobro do desempenho médio de outras bolsas no mundo, medido pelo MSCI global.

Se esses resultados são animadores em momentos de bonança, como o que a Bovespa vem passando desde 2003, eles mostram também que, na hora da tempestade, o investidor pode sair bem mais machucado de suas aplicações na bolsa brasileira.

Um dos motivos desse exagero da Bovespa, para o bem e para o mal, é o grande fluxo de recursos estrangeiros, conseqüência da importância do mercado brasileiro na América Latina e também entre todos os emergentes. A Bovespa tem peso de 60% nas carteiras de mercados latinoamericanos e é algo entre 15% e 20% entre todos os emergentes.

"Quando algo positivo acontece no mundo, as ações brasileiras são as primeiras que o estrangeiro compra, mas também são as primeiras que ele vende quando a moeda vira", diz Andrea.

A concentração do Ibovespa em poucos papéis, antes em telefonia, com Telebrás, e agora em Petrobras e Vale do Rio Doce, também contribui para o mercado brasileiro ser mais sensível, acredita o professor de finanças da ESPM-Rio e sócio da Avanti Gestão de Recursos Alexandre Espírito Santo. As ações preferenciais (PN, sem direito a voto) e ordinárias (ON, com direito a voto) da Petrobras e da Vale representam cerca de 30% do Ibovespa. "Quanto menos diversificada, mais arriscada é a bolsa, já que ela fica à mercê do que acontece em dois ou três papéis", diz Espírito Santo.

Ele acredita que o estudo é importante para mostrar especialmente para a pessoa física que as ações podem garantir bons ganhos, mas também amargas perdas. "Esse levantamento é providencial, já que vem em um momento de euforia, em que todo mundo está colocando dinheiro na bolsa, e muita gente sem pensar que uma hora o mercado cai", alerta o professor.

O ciclo de alta das commodities, como petróleo, aço, níquel e cobre, nos últimos anos também serviu para exacerbar os movimentos da Bovespa, uma vez que ela é bastante concentrada nesses setores, diz o diretor de investimentos da Fundação Cesp Jorge Simino.

Ele lembra que, apesar de todo o risco que ainda há no mercado acionário brasileiro, ele já foi bem mais instável, e vem melhorando junto com o cenário macroeconômico brasileiro. "Antes, os investidores precisavam se preocupar com a economia e com as empresas e agora ficam muito mais debruçados nos fundamentos das companhias e quais suas perspectivas de resultados", diz Simino.

A prova de que o cenário melhorou é que, em momentos de estresse, a volatilidade da Bovespa chegava a 50% em um só dia, hoje não passa de 30%, afirma o diretor da Fundação Cesp. Os números do professor Espírito Santo vão na mesma linha. Pelos seus cálculos, a volatilidade da Bovespa em termos anuais, entre 2003 e junho deste ano, está em 25%. Considerando um prazo maior, de junho de 1998 até junho deste ano, esse percentual sobe para 34,6%. "Isso mostra que, no passado, era preciso ainda mais nervos de aço para investir em ações do que nos últimos anos", diz o professor.