Título: "Sala da crise" tem acesso restrito na TAM
Autor: Adachi, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 20/07/2007, Especial, p. A8

Um segurança parado diante da porta garante que o acesso ali é restrito. Só podem entrar na "sala de crise" da TAM a cúpula da companhia e profissionais envolvidos diretamente com a tarefa de gerenciar a crise que se abriu no momento em que o Airbus A320 que fazia o vôo 3054, procedente de Porto Alegre, saiu da pista e se chocou contra o edifício da TAM Express.

A sala fica estrategicamente posicionada no Hangar 7 da TAM, próxima da presidência da companhia, mas distante das áreas operacionais da empresa. Por questões de segurança e também para evitar ao máximo que a tensão se espalhe e contamine o andamento da empresa.

Poucas pessoas têm sido mais requisitadas desde a noite da última segunda-feira do que Maurício Pontes, o "gerente da crise". Ele está subordinado ao comandante Marco Aurélio de Castro, que chefia o departamento de "flight security" (segurança de vôo) da TAM. Dada a sua relevância e delicada função, esse departamento está ligado diretamente ao presidente da companhia, Marco Antonio Bologna e, muitas vezes, informações processadas por ele nem passam pelos vice-presidentes.

A informação de que o desastre havia acontecido chegou à empresa quase que instantaneamente e de imediato ficou clara a sua dimensão. Ainda era cedo para saber se havia sobreviventes, mas já se sabia que as chances eram quase nulas.

Muita coisa mudou dentro da TAM entre o acidente de 1996 com o Fokker-100, que vitimou 99 pessoas, e o desastre da última terça, com 186 passageiros a bordo. "Em 1996, lidamos com a crise de forma mais instintiva, agora, o sentimento diante da tragédia é o mesmo, mas temos uma lista de tarefas a desempenhar muito bem definida", diz Ruy Amparo, o vice-presidente técnico da TAM e único dos principais executivos que já estava na empresa onze anos atrás.

Tanto é assim que a sala de crise funcionou nas primeiras horas sem que os principais executivos da companhia estivessem presentes. Por conta das férias escolares de julho, muitos estavam fora com as famílias. Bologna estava nos Estados Unidos e só pode participar por telefone a princípio. Desembarcou no Brasil nas primeiras horas da manhã de terça-feira. Ruy Amparo estava em Sorocaba, no interior paulista, e só conseguiu chegar a São Paulo às 21 horas. Foi o vice-presidente institucional, Paulo Castello Branco, que esteve à frente do gerenciamento da crise nos primeiros momentos. Desde então, 60 pessoas deixaram suas funções normais dentro da companhia para se dedicar à crise.

Amparo lembra que, em 1996, funcionários da TAM se ofereceram como voluntários para dar suporte aos parentes das vítimas. Agora, essa dura tarefa também é desempenhada por funcionários. Mas o corpo de voluntários é treinado e seus integrantes, cuidadosamente escolhidos de acordo com seus perfis psicológicos. Além disso, explica o executivo, os voluntários contam com apoio médico, religioso (de diversas religiões, de acordo com a crença de cada família) e de psicólogos especializados em luto. "Muitos desses psicólogos foram os que atuaram no acidente da Gol, no ano passado."

Por enquanto, o contato com as famílias tem sido feito apenas pelos cerca de 200 voluntários. A empresa ainda estuda se e como os executivos da cúpula devem manter encontros com elas. "Temos que respeitar também o que as famílias preferem."

Funcionários que faziam parte do corpo de voluntários mas que trabalhavam diretamente com outros que morreram em decorrência do acidente não têm trabalhado na assistência às famílias, por causa do envolvimento emocional. Ruy Amparo conta que o fato de o gerente da TAM de Porto Alegre ser uma das vítimas do acidente abalou a equipe local. "Perdemos o foco em Porto Alegre porque os funcionários estavam muito emotivos." Para contornar a situação, superintendentes paulistas foram enviados de jato executivo a partir de Jundiaí.