Título: Copom sinaliza freio em setembro
Autor: Ribeiro, Alex e Guimarães, Luiz Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 19/07/2007, Finanças, p. C1

Em uma votação mais apertada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu ontem reduzir a taxa básica de juros da economia de 12% para 11,5% ao ano. Dos sete membros do colegiado, quatro votaram por um corte de 0,5 ponto percentual (pp.) na Selic, enquanto três se posicionaram por uma redução de 0,25 pp.

Na reunião anterior, em junho, apenas dois dos sete diretores do BC haviam votado por um corte de 0,25 pp. O placar mais apertado reduz as chances de um novo corte de 0,5 pp. na taxa Selic no encontro de setembro, como espera uma boa parte dos analistas econômicos. No seu comunicado, o BC evita se comprometer de antemão, afirmando que "irá acompanhar o cenário macroeconômico até a sua próxima reunião".

O fortalecimento da corrente que defende um afrouxamento um pouco mais gradual na política de juros ocorre três semanas depois de o Conselho Monetário Nacional (CMN) ter fixado em 4,5% a meta de inflação para 2009, com o argumento de que um alvo um pouco menos ambicioso abriria espaço para mais distensão monetária. O confuso anúncio da decisão pelo CMN, porém, provocou deterioração nas expectativas inflacionárias, o que, para parte do mercado, cria um clima menos favorável para cortes nos juros.

Só na próxima semana, quando for divulgada a ata da reunião realizada ontem, será possível saber ao certo se a deterioração das expectativas inflacionárias reforçou a posição dos membros do Copom que pregavam mais cautela. Independentemente disso, porém, já haviam saído outros indicadores econômicos que apoiavam a tese do maior gradualismo, entre eles a alta da inflação corrente e os sinais de aquecimento acima do previsto da economia.

A corrente que saiu vencedora na reunião de ontem defende que a valorização da taxa de câmbio permite que a economia possa crescer mais sem pressões inflacionárias. O relatório de inflação de junho diz que, na opinião desses diretores do BC, "a contribuição do setor externo para a consolidação de um cenário benigno de inflação poderá ser maior do que a inicialmente contemplada, especialmente pela disciplina exercida sobre os preços de bens transacionáveis e por meio da ampliação dos investimentos, em ambiente de demanda aquecida".

Já a corrente que defende maior conservadorismo alerta que o poder disciplinador das importações não é capaz de conter, por exemplo, pressões inflacionárias no segmento de produtos não comercializáveis. E que os novos investimentos levam tempo para maturar. O argumento é que os 17 cortes de juros colocados em prática até agora, que acumulam uma baixa de 8,25 pontos percentuais na Selic, não tiveram ainda enfeito pleno sobre a atividade e inflação.

Para o diretor da Modal Asset, Alexandre Póvoa, com o escore de 4 a 3 em favor da continuidade da queda em 0,50 ponto, o Copom quis indicar que a próxima decisão, a ser tomada no dia 5 de setembro, estará em aberto. Dependendo da conjuntura interna ligada à inflação e à demanda aquecida e do contexto externo, pode tanto persistir na redução ao ritmo atual quanto diminuir a velocidade de queda para 0,25 ponto. Mas Póvoa reconhece que este não deverá ser o entendimento que deverá prevalecer hoje no mercado. A tendência é de os tesoureiros e gestores interpretarem a incorporação de um diretor ao rol dos que defendem uma queda menor da Selic como indício cabal de que a taxa irá no próximo Copom voltar ao ritmo de 0,25 ponto que prevaleceu em janeiro, março e abril.

Póvoa lembra que, pelos termos da última ata, os cinco diretores que votaram pela queda de 0,50 ponto ampararam sua opção no efeito positivo que a apreciação cambial tem sobre o atendimento da demanda doméstico. Entre a reunião de junho do Copom e a de ontem, o dólar tombou 4,7%, de R$ 1,95 para R$ 1,86 e, mesmo assim, mais um integrante se aliou à ala do 0,25 ponto. "Se o dólar não tivesse caído, eles poderiam ter decidido pelo 0,25 agora mesmo", diz Póvoa, para quem o placar de 4 a 3 foi surpreendente. O economista esperava a manutenção do placar da reunião anterior, 5 a 2.

Em nota após o Copom, a Firjan defendeu o aprofundamento das reformas estruturais. "O quadro inflacionário evidencia que há espaço para o Copom prosseguir na redução da taxa Selic, ainda mais diante da contínua valorização da taxa de câmbio. Em uma economia a caminho da normalidade, ganha importância o aprofundamento de reformas estruturais. São essenciais a redução dos gastos públicos e a regulamentação na área trabalhista, bem como as reformas nas áreas previdenciária e tributária", diz a nota da entidade. Para o Instituto de Estudos para Desenvolvimento Industrial (Iedi), a decisão foi não somente esperada, como também adequada ao momento.

Como têm acontecido nas últimas reuniões, os bancos aproveitam o anúncio do BC para promover queda nas taxas de juros. O Bradesco reduziu os juros de diversas linhas de empréstimo para pessoas físicas, como cheque especial e o CDC para veículos, além de quedas para as empresas, no capital de giro, desconto de duplicatas e conta garantida. A diminuição máxima foi de 0,04%.