Título: Derrotado pela Mesa do Senado, Renan sai em busca da oposição
Autor: Jayme, Thiago Vitale
Fonte: Valor Econômico, 18/07/2007, Política, p. A6

Derrotado mais uma vez, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), mudou radicalmente a estratégia para enfrentar o processo movido contra ele no Conselho de Ética. Depois de a Mesa Diretora enviar à Polícia Federal, sem ressalvas, os pedidos do Conselho de aprofundamento das investigações, o pemedebista proferiu discurso no plenário da Casa, revelando alteração brusca na postura adotada por ele nas últimas semanas. O objetivo principal, agora, é reconstruir a boa relação que tinha antes com a oposição e com quem tem tido hoje embates duros no plenário do Senado.

Até ontem, Renan tentava fazer de sua luta pela manutenção no cargo um embate entre governo e oposição. A derrota na Mesa e o início do recesso parlamentar o fizeram mudar a estratégia. Em discurso no plenário, lembrou que foi "eleito com votos da oposição". Além disso, elogiou a imprensa, a quem tinha atribuído, antes, responsabilidade pela crise que vem atravessando há mais de um mês.

Era a senha para avisar ao PSDB e ao DEM que teve votos de senadores dessas legendas para chegar à presidência do Senado. Renan disse aos senadores que é o maior interessado na celeridade do processo e que não vai fazer manobras protelatórias.

O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), pediu a palavra e emendou: "É exatamente isso o que esperamos do senhor. Que mantenha a celeridade do processo". Ao final de seu discurso, antes de falar com qualquer aliado, Renan cumprimentou Virgílio, o líder do DEM, José Agripino (RN), e o senador César Borges (DEM-BA).

No discurso, Renan também fez questão de falar bem da imprensa, que chamou de "insubstituível" em suas funções. "Seu direito de crítica deve ser respeitado", discursou o presidente do Senado. Nas últimas duas semanas, ele chegou a bater boca com pelo menos três jornalistas. "É, sim, uma mudança de rumo e de estratégia", confirmou um aliado de Renan.

O fato que fez o senador mudar de atitude foi a reunião da Mesa Diretora. O grupo do senador esperava que algum integrante da Mesa pedisse vista do pedido feito pelo Conselho de Ética e paralisasse o processo por pelo menos duas semanas, período referente às férias parlamentares que se iniciam hoje.

Se não houvesse pedido de vista, imaginaram os aliados de Renan, pelo menos seriam feitas restrições aos 30 pedidos feitos pelo Conselho de Ética. Nem uma coisa nem outra ocorreu. Por unanimidade, os integrantes da Mesa enviaram requisições do Conselho integralmente à PF.

Renan é alvo de um processo por quebra de decoro, acusado de receber recursos da construtora Mendes Júnior para pagamento de despesas pessoais, como aluguel e pensão para a jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha. O Conselho de Ética pediu que a PF faça novas perícias em documentos entregues por Renan para provar sua inocência.

"A Mesa decidiu acolher a solicitação do Conselho de Ética e remetê-la ao ministro da Justiça para cumprimento da estrita norma constitucional", informou o vice-presidente do Senado, Tião Viana (PT-AC), que presidiu a reunião da Mesa.

A reunião durou mais de duas horas porque foi aberta a palavra à presidente do PSOL, ex-senadora Heloísa Helena (AL), e ao advogado de Renan, Eduardo Ferrão. A ex-parlamentar "avisou" à Mesa que seus integrantes não tinham a prerrogativa de barrar pedidos do Conselho de Ética. Cabia apenas, disse ela, repassar o requerimento feito pelo colegiado. "A Mesa do Senado não tem o direito de impedir qualquer diligência do Conselho de Ética. Se o fizer, vai estar rasgando a lei", disse a ex-senadora.

Ferrão foi incisivo em suas palavras. Criticou duramente a Polícia Federal, que, segundo ele, "pretendia, ilicitamente, condenar o presidente Renan". O advogado afirmou também que não pretende, agora, entrar no Supremo Tribunal Federal (STF). No entendimento do jurista, o pedido de ampliação das perícias feito pelo Conselho de Ética é uma "investigação" e só o STF poderia investigar um parlamentar.