Título: Light mantém o otimismo apesar do seu elevado endividamento
Autor: Leila Coimbra e Cláudia Schüffner
Fonte: Valor Econômico, 21/01/2005, Empresas &, p. B1

Sob alvo de especulações de concorrentes sobre a indisposição da Eletricitè de France (EDF) de permanecer no Brasil, a Light dá sinais de que vai resolver logo os entraves que enfrenta. Circularam no mercado comentários de que a EDF estaria planejando dar baixa de seus ativos no Brasil. Essa hipótese foi descartada por fontes próximas à empresa. Uma operação de venda também seria complicada porque trata-se de um ativo com patrimônio negativo de US$ 1,3 bilhão, com dívida total de US$ 1,5 bilhão e patrimônio líquido de US$ 200 milhões. Nesse cenário, a saída seria vender a companhia após concluir a negociação com os bancos. Mas essa opção não estaria sendo considerada pelos franceses. Para melhorar sua performance no país, a Light aguarda solução de pendências junto à Aneel para finalizar sua adesão ao Programa de Apoio à Capitalização de Empresas de Distribuição de Energia Elétrica, gerido pelo BNDES. O maior problema financeiro da Light ainda é uma dívida de US$ 660 milhões, em parte oriunda de empréstimo de US$ 2 bilhões que os então sócios - EDF, AES, Reliant Energy e CSN - obtiveram em 1998 para comprar a Eletropaulo, através do consórcio Lightgás. Desde 1996 a EDF, que é controlada pelo governo da França, investiu US$ 3,7 bilhões no Brasil, maior investimento em distribuição no exterior feito pela empresa sem parceiros de porte. Hoje, a dívida de aquisição da Eletropaulo corrigida é de US$ 660 milhões. Há cerca de um ano, a EDF aumentou o capital da Light com um aporte de US$ 1 bilhão, além de um empréstimo de US$ 205 milhões. Os problemas da EDF no Brasil se agravaram após a desvalorização do real em 1999, o que elevou sua a dívida, captada em dólar, para aquisição da Light, em 1996, e pioraram com o racionamento de energia (2001-2002). Entre outros fatores que estão sendo atacados pela empresa, está a alta inadimplência notadamente de órgãos públicos, que devem R$ 380 milhões. Desse total, R$ 168 milhões são devidos pela Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae). Para piorar a situação, as últimas revisões tarifárias da Aneel decepcionaram os executivos da Light. Em 2003, a empresa se surpreendeu com o índice de reajuste de 4,16% concedido pela agência. Essa revisão tarifária, e não reajuste, é prevista em todas os contratos de privatização das distribuidoras, sendo que o primeiro deve ocorrer oito anos depois da venda. Em novembro passado veio outro baque. A empresa informou que seu reajuste tarifário foi de 5% ao invés dos 17,51% pleiteados. Isso porque a companhia teria que "devolver" um percentual que veio a mais em 2003. O índice homologado trará perda anual de receita de R$ 500 milhões a partir deste ano, o que pode afetar o complicado acordo de renegociação da sua dívida com 17 bancos privados na medida que essa tarifa menor significará uma redução no fluxo de caixa da companhia. Esse reajuste foi contestado e a empresa ainda discute o assunto com a Aneel. Mesmo com tantos problemas, fontes ouvidas pelo Valor garantem que os controladores não têm planos de se desfazer da companhia. Pelo menos não antes de colocá-la nos trilhos, com a obtenção do financiamento do BNDES, de cerca de US$ 250 milhões, que está sendo negociado. (CS e LC)